PUBLICIDADE

Devotos mantêm tradição por décadas e fazem alegria das crianças no dia de Cosme e Damião

Leonardo Cabral em 27 de Setembro de 2022

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Filas se formam na casa dos devotos que distribuem sacolinhas recheadas de doces para a criançada

Desde as primeiras horas desta terça-feira, 27 de setembro, os estampidos dos fogos de artifício, em Corumbá, anunciam para a criançada que há devoto de São Cosme e Damião distribuindo os mais variados saquinhos de doces.

Eles vêm recheadas com pipoca, rapadura, pirulito, bala, bolo, chiclete e até mesmo, em alguns casos, refrigerantes e sucos, acompanhados de um prato de comida típica, como risoto com maionese, carreteiro e churrasco. A maioria das ruas de Corumbá fica tomada pelas crianças, os motoristas têm que ter atenção redobrada, pois o dia é dedicado a “correr” atrás dos doces.

Algumas saem acompanhadas dos pais e outras se aventuram sozinhas ou em grupos em busca das guloseimas que são distribuídas pelos devotos dos irmãos santos, que mantêm a tradição no município pantaneiro. Uma gigantesca fila se forma em frente à residência e uma por uma das crianças vai pegando a sua sacolinha. O sorriso largo no rosto é a maneira de agradecer pelo doce presente.

Há famílias que distribuem as sacolinhas há mais de 40 anos em Corumbá. Entre esses devotos,  está Roseane Moraes dos Santos, de 46 anos, moradora da área central, que dá continuidade à tradição iniciada  pela mãe, Neide Moraes dos Santos (já falecida). Tudo teve início na intenção de cura do irmão caçula de Roseane, o André Luiz Moraes dos Santos, que hoje tem 42 anos de idade. 

“Há 42 anos, uma doença no meu irmão caçula foi diagnosticada. Ele já havia feito inúmeros exames e não se encontrava uma causa para essa enfermidade. Foi quando a minha mãe, Neide, entregou a vida e saúde do meu irmão à Deus e a São Cosme e Damião. A partir deste momento, a doença que ele tinha desapareceu e, então, ela iniciou a distribuição das sacolinhas”, relembrou Roseane.

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

Momentos antes da distribuição, Roseane, que é da Umbanda, faz a abertura dos trabalhos

Ela conta que a promessa foi paga com 2 mil sacolinhas, com as mais diversas variadas guloseimas, 2 mil geladinhas e 2 mil pedaços de bolo. A hora da entrega é um momento especial.

“Seguimos com a tradição, mesmo com a minha mãe não estando mais aqui, reforçando a devoção nesses incansáveis médicos dos médicos, como forma de agradecimento pela saúde do meu irmão e de todos nós. O momento da entrega das sacolinhas é muito gratificante, pois é com muita emoção que fazemos as entregas, quando desejamos saúde, proteção, paz e muito amor à todos”, disse Roseane ao Diário Corumbaense.

Momentos antes de distribuir as sacolinhas, Roseane, que é da Umbanda, faz a abertura dos trabalhos. “É um ritual de agradecimento por mais um ano de graça, saúde. É um momento de muita fé pelo ano que passou e pedidos pelo ano que vem”, acrescentou.

É alegria da criançada e dos adultos também

Na porta de Roseane, estava Corsina Gonçalves Modolon. Ela, todos os anos, percorre as ruas da cidade junto com a filha e a sobrinha. “Primeiro, a gente revive o passado, vêm as boas lembranças de quando era criança. Com a minha sobrinha e minha filha, reforço essa tradição da nossa cidade. É um momento que sempre a minha avó ensinou, é criança, é alegria, mas com muita atenção. Que essa tradição nunca acabe. É bonito de se ver”, falou. “É minha primeira sacolinha, vou pegar bastante. É muita alegria estar aqui”, completou a sobrinha Samara Modolon, de 11 anos.

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

Corsina foi com a filha e a sobrinha pegar os doces

Einar Vasconcellos, de 66 anos, também diz não dispensar os doces. “Cosme e Damião é um dia de muita alegria. Momento gostoso, me faz reviver muita coisa, época em que era criança e ficava correndo nas ruas atrás dos doces. É uma tradição muito linda de se ver. É prosperidade, alegria, saúde para todos nós”, falou Einar.  

Quatro décadas também de tradição

Jô Hurtado, moradora do Conjunto Vitória Régia, parte alta da cidade, disse que esse ano é especial por se tratar de 40 anos mantendo a tradição. E para comemorar, 2,5 mil sacolinhas foram preparadas para a entrega. 

“São 40 anos aqui na minha residência. Estava doente e pedi interseção de São Cosme e Damião, recebi a graça e paguei a promessa. Mas, resolvi seguir e estou completando 40 anos de tradição por causa de outras pessoas que também pediram aos santos e, hoje, estou aqui, para festejá-los junto com as nossas crianças”, destacou.

Foto enviada ao Diário Corumbaense

Jô Hurtado completa 40 anos de devoção; são 2,5 mil saquinhos de doces

Muito emocionada, a devota diz que o momento representa agradecimento, fé e muita devoção. “Só tenho a agradecer todas as graças alcançadas, sinto uma emoção muito grande de estar fazendo as crianças felizes, é tão gratificante quando você entrega o saquinho e a criança te olha, com aquele sorriso e agradece, fico emocionada mesmo”, contou Jô Hurtado. "Para preparar as sacolinhas, conto com o apoio de uma equipe que todos os anos está aqui comigo e me ajuda. No final, ofereço um jantar a todos, como forma de agradecimento”, completou Jô a este Diário

História de Cosme e Damião

Os irmãos gêmeos Cosme e Damião eram médicos e viveram na Ásia Menor. Ficaram conhecidos porque curavam pessoas e animais sem cobrar dinheiro. Morreram por volta do ano 300 d.C. degolados, vítimas de uma perseguição do imperador romano Deocleciano. Na religião católica, o dia 26 de setembro lembra os jovens que pregavam os ensinamentos de Jesus Cristo. Eles são considerados os padroeiros dos farmacêuticos, médicos e das faculdades de medicina.

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

Cosme e Damião ficaram conhecidos porque curavam pessoas e animais sem cobrar dinheiro

No Candomblé e na Umbanda, o dia de Cosme e Damião é 27 de setembro. Nessas crenças, eles são conhecidos como os orixás Ibejis. São filhos gêmeos de Xangô e Iansã. Os devotos e simpatizantes têm o costume de fazer caruru (uma comida típica da tradição afro-brasileira), chamado também de “Caruru dos Santos” e “Caruru dos sete meninos” que representam os sete irmãos (Cosme, Damião, Dou, Alabá, Crispim, Crispiniano e Talabi), e dar para as crianças.

Na Igreja Ortodoxa, os santos são celebrados no dia 1º de novembro. Já os ortodoxos gregos comemoram em 1º de julho. São Cosme e Damião também são considerados protetores dos gêmeos e das crianças. Por isso, as pessoas criaram o costume de distribuir os doces para homenagear os santos ou cumprir promessas feitas a eles. Com informações portal EBC.

PUBLICIDADE