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Denunciados, delegados de Corumbá e Ladário disputavam "apoio" ao tráfico na fronteira, aponta Gaeco

Campo Grande News em 28 de Abril de 2023

Relatório do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), que denuncia delegados e investigadores de polícia atuantes na fronteira entre Bolívia e Corumbá, revela um esquema peculiar entre os gestores das delegacias para obter lucos com o tráfico de drogas. Eles, inclusive, tinham até "rixa" pelo apoio aos traficantes.

O relatório traz detalhes do esquema de tráfico de drogas em Corumbá e Ladário, entre os anos de 2018 e 2019, sob o comando dos delegados Fernando Araújo da Cruz Júnior, de 38 anos, e Rodrigo Blonkowski, 34. Estes, que já respondem a outros processos, sendo Fernando condenado por homicídio doloso duplamente qualificado, coação e fraude processual, pelo assassinato do boliviano Alfredo Rengel. Já Rodrigo foi preso por posse de munições irregulares, no ano de 2022.

Ambos os gestores contavam com a ajuda dos investigadores e "braços direito", que por sua vez, contatavam traficantes para ajudar no esquema. Todos eles foram denunciados no dia 28 de março de 2023.

Esquema

A investigação de peculato, tráfico de drogas e extorsão apontou que os delegados e investigadores se "validavam das funções para identificar e abordar traficantes de drogas, afim de se apropriarem de valores, armas de fogo, entorpecentes e outros bens que estivessem em poder dos alvos das diligências (...)", aponta o relatório.

Produtos apreendidos, como drogas e dinheiro, não eram arrolados em boletins de ocorrência e, posteriormente, eram desviados pelos policiais para a casa dos comparsas. Depois, as drogas eram redistribuídas a outros traficantes. Assim, delegados e investigadores ficavam com o "lucro". 

O relatório investigativo também  aponta que os delegados pesquisaram os próprios nomes e dos comparsas no sistema restrito do Sigo (Sistema Integrado de Gestão Operacional) para saber se estavam sendo investigados, o que atrapalhou a investigação. 

Ficha

Os delegados possuem processos ao longo da carreira, um deles, por homicídio. Fernando Araújo da Cruz Junior foi condenado pelo assassinato do boliviano Alfredo Rengel, de 48 anos, ocorrido no dia 23 de fevereiro de 2019, dentro de ambulância a caminho de hospital de Corumbá.

Conforme a apuração feita pela Corregedoria da Polícia Civil, Fernando esfaqueou Alfredo, conhecido como "Ganso", em evento na Bolívia, e como ele não morreu, foi atrás da ambulância para concretizar o homicídio, a tiros.

Além de ter sido preso por posse de munições irregulares, Rodrigo Blonkowski é investigado no esquema de cobrança de propina para liberar veículos nas delegacias de Ponta Porã. O caso envolve outros policiais da ativa e aposentados.

Eles já estão afastados das funções. No documento do Gaeco, além da condenação de todos os envolvidos, os promotores do Ministério Público pedem a perda da função pública e aposentadoria, dos policiais.