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Covid-19 : “a maioria se contamina em confraternizações”, diz prefeito de Ladário

Nelson Urt, especial para o Diário Corumbaense em 29 de Junho de 2020

A pandemia mudou a rotina da cidade de Ladário, mas nem tanto. A Prefeitura procurou adotar medidas de prevenção e combate à Covid-19, mas sem prejuízos à rede de comércio e serviços. Até a feira livre, com a devida fiscalização e restrições, voltou a funcionar aos sábados. Hoje, são 41 casos positivos de coronavírus registrados no município e na Saúde existe uma preocupação para não deixar de oferecer atendimento a outras enfermidades. Os agendamentos para consultas médicas estão abertos e a Prefeitura oferece seis especialidades, além dos serviços da Santa Casa.

Nesta entrevista ao Diário Corumbaense, o prefeito Iranil Soares esclarece que o cidadão ladarense tem pleno direito a receber atendimento na Santa Casa de Corumbá: “O hospital está localizado em Corumbá, mas é uma referência regional do SUS”, defende. O prefeito também fala sobre a polêmica do "decreto da fé", que foi questionado judicialmente.

Diário – Como está o atendimento de especialidades?

Iranil - Hoje estamos com todos os médicos atendendo e temos seis áreas de especialidades, ginecologia, com três médicos; cardiologia, com um médico; oftalmologia, dois médicos; pediatria, três; ortopedia, três; e ultrassonografia, três. Essas especialidades estão sendo agendadas. Além disso, os exames, com mais oferta. Antes era em torno de 15 fixas de atendimento, e com isso muita gente desistia do exame, além da demora para sair o resultado. Hoje, o paciente é atendido e se precisa do exame logo é atendido pelo médico e feito o pedido por cadastro online. O laboratório é aqui mesmo em Ladário. Do próprio posto já sai com o agendamento ou recebe pelo sistema via celular. E o resultado de sete a dez dias.

Diário – E a campanha de vacinação?

Iranil - Pela primeira vez a Secretaria de Saúde fez a vacinação de casa em casa, uma experiência boa. Foi um resultado positivo. Trouxe o idoso para a Saúde, atingiu as pessoas que precisavam, idosos e deficientes, além da entrega de 240 kits de material de higiene (álcool gel, máscara, sabonete) para ajudar nesse momento, porque às vezes as pessoas não têm recursos para adquirir.

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

Prefeito Iranil Soares afirma que Santa Casa é hospital referência do SUS na região

Diário – Discute-se ainda a necessidade de um hospital municipal para Ladário, mais ainda agora com a pandemia. Como o senhor vê essa questão?

Iranil – Falaram em construir Hospital de Campanha, mas essa experiência não tem sido boa em muitas cidades. Muitas vezes estão se tomando medidas precipitadas. Muita perda de recurso público. Ladário não tem hospital, certo.  Mas nem Corumbá tem hospital. O que nós temos é hospital de referência regional do SUS que está na cidade de Corumbá. Então aqueles leitos são para atendimento da macrorregião de Saúde. Somos atendidos pela nossa referência. Isso deixo bem claro para as pessoas.

Diário – Qual o repasse hoje do Município para a Santa Casa?

Iranil - Ladário passou de 20 mil reais para R$ 80 mil o repasse para a Santa Casa. Em 2018, eram 20 mil. Todo mês é repassado. Além do repasse que o Município recebe do Estado e da Federação por atender o munícipe ladarense. O hospital é da região. O SUS trabalha por referência. Essa é a realidade.

Diário – Como a Educação de Ladário se adapta aos novos tempos de pandemia?

Iranil - A Educação tem sofrido um grande baque devido à pandemia. Teve de se adequar. O Estado não quer parar as aulas totalmente, o que significaria a perda de um ano. Então foi lançado o sistema digital integrado para alunos e professores, para que os alunos possam acessar o material disponibilizado. E para aqueles que não conseguem acessar, a Secretaria de Educação está imprimindo esse material para ser entregue aos pais. Hoje todo o sistema de boletim é online, digitalizado. As mídias, plataformas digitais entraram no dia a dia das pessoas. Vão abrir uma nova porta para uma nova realidade na área da Educação. Muitas dessas experiências deverão permanecer. Houve muitos cursos de formação de servidores para melhor atendimento.

Diário – E como está sendo o atendimento aos pais dos alunos?

Iranil - Foi entregue o kit de alimentação para as famílias que mais precisavam. O material de auxiliar, kits escolares foram entregues, o material de excelente qualidade, os pais tem elogiado muito, a Educação não para, precisa continuar. Temos elaborado o Plano de Segurança contra Incêndio e Pânico, que as escolas não possuíam, e todas vão receber. A Prefeitura está fazendo manutenção em todas as escolas. A equipe da administração se empenhou para liberar recursos para reinício das obras de construção da quadra da Escola Rosa Pedrossian, que deverá ser entregue no início do segundo semestre.

Diário – Como está a reforma da maior escola municipal de Ladário, a Professor João Baptista (JB) ?

Iranil – Assim que a Prefeitura iniciou a reforma da escola, os valores da reforma foram assunto. Disseram que dava para construir uma escola nova com os mesmos recursos das obras. Mas para construir uma escola nova seriam em torno de 7 milhões de reais. E hoje estamos gastando 3 milhões e 600 mil reais, mais ou menos. E na escola vai ter uma nova cobertura, de telha termoacústica, com aquele zinco sanduiche, porque percebemos que temos muitos problemas de gotejamento nas nossas unidades que têm as telhinhas. A telha de zinco reduz vazamentos. Climatização em todas as dependências, porque se deixar para depois provavelmente não consegue. Criação de passarelas cobertas de um pavilhão para outro. Criação de unidades sanitárias. Instalação elétrica reformada, para comportar toda demanda. Instalação de hidrantes contra incêndio. Transformador novo. Cozinha industrial equipada e projeto de drenagem.

Diário – Então, o JB será praticamente uma nova escola?

Iranil - Na verdade, o que vai ficar ali, da escola antiga, será o contrapiso, as paredes e a fundação, o restante será tudo novo. Queremos que a Escola JB seja uma referência em termos de estrutura, seja ambiente agradável, e que o próprio aluno e o gestor ajudem a preservar. É uma obra grande, não é barata, mas vale a pena porque é Educação. É a maior escola do Município. Todos vão ganhar. É uma ação de qualidade, não é pela metade. Quando se faz pela metade sai mais caro. A equipe vai entregar uma unidade escolar padrão. A fiscalização tem acompanhado no dia a dia a execução para que seja realizado o que foi contratado.

Diário – Como fica a situação dos professores com a pandemia? Haverá cortes salariais?

Iranil - Houve uma preocupação no início em função da adequação. Como está tendo atendimento e os professores estão trabalhando, alguns indo à escola e outros que fazem parte do grupo de risco em office-home, em casa, então a Prefeitura não viu necessidade de efetuar cortes, porque a demanda existe. A escola não está sendo presencial, mas está funcionando em toda a sua complexidade, operando. Acredito que não houve nem haverá essa necessidade, mesmo porque acreditamos que logo passe esse momento pandêmico e a normalidade vai retornar.

Diário Corumbaense - Em relação a covid-19, o que o Município vem adotando como prevenção?

Iranil Soares - Por enquanto, a melhor precaução na pandemia é o isolamento. Se precisa sair de casa, usar todas as medidas de biossegurança. Se não tiver nada a fazer fora de casa, então fique em casa. Temos de manter a curva achatada. Esse é o maior empenho da Saúde, do pessoal envolvido no combate à Covid-19. Conscientizar as pessoas, entender que precisam colaborar, fazer a parte delas para que possam atravessar esse momento. A maioria das pessoas está se contaminando em confraternizações, em ajuntamento, aniversários. Se a pessoa não se conscientizar vai ter problemas.

Diário – O comércio sofre danos com as regras?

Iranil - Procuramos tomar as medidas necessárias. A Prefeitura instituiu o Toque de Recolher às 21 horas. O comércio pode funcionar sem limitações, de 08h às 18h, porque entendemos que a característica do comércio ladarense é diferente dos grandes centros, o movimento não é tão grande. E também não havia um índice grande de pessoas infectadas. Pensamos muito no comerciante, de forma que amenizasse ao máximo o seu prejuízo. Temos de combater a Covid-19, mas também temos de produzir, de trabalhar, mas tudo isso com responsabilidade. Começou-se um trabalho de conscientização.  Os auditores fiscais saíram durante o dia e percorriam de comércio a comércio para explicar que o poder público só tomaria medidas mais drásticas se não houvesse a colaboração, que cumprissem todas as recomendações de biossegurança. Não colocamos restrições rígidas. Fomos questionados pelo Ministério Público, que queria horário mais restrito, mas nós tivemos nossos argumentos.  E até mesmo quando a janela de atendimento é maior nos serviços e comércio, isso evita correria e aglomeração de pessoas.

Diário – Como o ladarense pode fazer o teste para diagnosticar se está ou não contaminado pela Covid-19?

Iranil – A Prefeitura vai implantar o Polo de Atendimento à Covid-19. Vai atender ao lado da Policlínica, onde funcionava o Pronto Atendimento. Conseguimos o credenciamento para um período de três meses para atender especificamente as pessoas que tenham sintomas gripais. Os testes serão feitos nesse Polo também. Se a pessoa chegar com todos os sintomas, todos os indícios de que esteja contaminado com o vírus da Covid-19, será realizado o teste. Assim como temos também o disque Covid-19, que é outra forma de se cadastrar para o teste.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Decreto da fé gerou polêmica, mas o objetivo foi trazer fé e esperança a todos, diz prefeito

Diário - Por que o decreto da fé, que propõe oração e jejum para combater o coronavírus, causou tanta polêmica?

Iranil - O Estado, como o TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) colocou, é laico, mas o cidadão não é laico. O povo brasileiro é um povo religioso. O decreto é uma medida de combate à Covid-19, porque tem-se comprovado cientificamente que a oração ajuda a saúde das pessoas. Quando as pessoas se voltam para Deus, recebem um conforto, uma esperança. Neste momento difícil, da falta de emprego, de outro tipo de enfermidade, e a própria questão de ficar em casa (para quem estava acostumado a sair sempre), tudo isso faz com que passe um turbilhão de coisas na mente das pessoas. O decreto teve como objetivo trazer esperança a essas pessoas. Para lembrar que Deus está aí perto de você. Mesmo se não acreditar em Deus, você tem uma fé especial, acreditar que as coisas vão mudar, que esse momento difícil vai passar. O decreto estará em vigor até o final da pandemia.

Diário – O decreto inicial convocava a “população cristã” a 21 dias de oração e um dia de jejum como forma de combater a Covid-19, e foi considerado inconstitucional pela OAB. Mas com a retirada da palavra “cristã” e a substituição do verbo “convocar” por “conclamar”, o edição do novo decreto foi aprovado – e até seguido pelo Governo do Estado, que sancionou lei semelhante. Como se deu essa reviravolta?

Iranil - O primeiro decreto não especificava uma religião. Foi a terminologia usada que não foi adequada e por isso chegou-se à conclusão que deveria corrigir tal terminologia. O objetivo permanecia o mesmo. Não obrigava, não multava ninguém, era voluntária. E teve uma repercussão nacional. E o Estado acabou aderindo e outras cidades também. Porque a fé e a esperança sempre fizeram parte na vida dos seres humanos. A ciência é fundamental, mas às vezes você precisa da fé. Essa esperança nos estimula a sair de onde estamos. Se você está deprimido e imagina que não pode sair, não pode reagir, quando vem a esperança você imagina logo: eu posso sim, posso continuar vivendo. A nação brasileira é religiosa. Temos uma cultura religiosa muito grande. Um decreto desses pode causar polêmica, mas se você fizer de acordo com a legislação não está prejudicando ninguém, muito pelo contrário, a oração e o jejum,  cientificamente está comprovado, fazem bem à saúde, quando são feitos com orientação e controle. A busca por Deus está presente na maioria das culturas e isso ajuda socialmente.

Diário – O decreto não privilegia uma religião específica, certo?

Iranil – Sim. Discute-se muito a questão de que o Estado é laico e não pode tomar partido, mas o que não se pode é privilegiar uma religião. Mas incentivar a religiosidade pode. Temos que tratar todos igualmente, de forma com a lei. Nosso objetivo não foi obrigar, mas motivar quem pudesse orar a jejuar, como forma de encontrar mais força e esperança para enfrentar esse momento pandêmico.

Diário – Outra polêmica foi a notícia de que a Prefeitura estava distribuindo senhas para cessão de casas à população. O que houve na verdade?

Iranil – Na verdade, o que houve foi a execução de um mapeamento do déficit habitacional de Ladário. Em nenhum momento a Prefeitura anunciou que haveria inscrição para entrega de casas, isso deve ficar bem claro. A intenção realmente era definir o déficit habitacional e classificar de acordo com o poder econômico dessas pessoas que necessitam de casa. O objetivo é esse. Não existe nenhum projeto, nenhuma casa para ser entregue, o mapeamento é para se chegar à demanda e iniciar a elaboração do projeto. O Governo Federal tem colocado que ano que vem pretende fomentar a economia através da construção de casas por meio do FGTS. E a Prefeitura precisa agora saber da demanda do Município. Qual o poder aquisitivo das pessoas que precisam de moradia e o tipo de moradia se deve pleitear. A equipe que está envolvida nesse processo tem todo o mecanismo e cautela para verificar aqueles que são ladarenses e que realmente necessitam. Muitas pessoas em Ladário estão morando com os pais, com parentes. Pode faltar água e luz, mas a casa não. Quando não se tem casa, para onde vai? É essencial na vida das pessoas, ter o seu canto ali. Se perder o seu emprego, você tem onde ficar. São três pilares fundamentais na vida das pessoas: educação, saúde e moradia.

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