Da Redação em 26 de Abril de 2020
Em 2018, o mestre cururueiro Agripino Magalhães, que faleceu neste domingo (26), completou um século de vida. Na época, o Diário Corumbaense publicou uma reportagem contando um pouco da história desse grande ícone da cultura sul-mato-grossense. Em homenagem ao legado do seu Agripino, estamos republicando a matéria da jornalista Lívia Gaertner e o vídeo do quadro "História de Nossa Gente" exibido pelo Diário em 2013.
Em 11/06/2018
Por Lívia Gaertner
Reverenciado como o maior mestre cururueiro da região de Corumbá e Ladário, Agripino Magalhães Soares completou, nesta segunda-feira, 11 de junho, 100 anos de idade. Nascido em Poconé no ano de 1918, mudou-se com a família em seus primeiros anos de vida para Várzea Grande, ambas cidades no Estado vizinho de Mato Grosso, até que ainda muito jovem pegou uma lancha em Cuiabá com destino a Corumbá, em Mato Grosso do Sul, estado que veio a se criar posteriormente, e onde fixou moradia até os dias atuais como o próprio relatou em um dos episódios da série História da Nossa Gente, produzida pelo jornal Diário Corumbaense no ano de 2013.
Aposentado como estivador, Agripino conta ter aprendido o ofício com o avô e feito mais de 300 violas de cocho, sempre seguindo os padrões e as superstições que regem a fabricação do instrumento, cujo modo de fazer é registrado como patrimônio cultural imaterial do Brasil.
Com mais de 70 anos de casado, Agripino tem 12 filhos e mais de 30 netos e bisnetos, mas nenhum de seus descendentes aprendeu a tocar o instrumento.
Anderson Gallo/Arquivo Diário Corumbaense
Mestre cururueiro Agripino Magalhães quando completou 100 anos
Um dos saberes fundamentais para a fabricação da viola é que a árvore seja cortada na lua minguante, se isso não for feito, a madeira fica cheia de furos. Depois de escavado em forma de viola, o tronco recebe um tampo, o cavalete, as tarraxas e as cinco cordas.
A viola de cocho tem cerca de 70x25 cm de dimensão com 10 cm de espessura. Agripino conta ainda que as cordas eram de tripas de animais, como bugio, bode e quati. A prática foi proibida, e hoje as cordas são de náilon mesmo.
“O seo Agripino Magalhães é, verdadeiramente, um ícone da cultura local. Não é possível falar de Cururu ou Siriri sem fazer menção ao mestre violeiro. Parafraseando seus ensinamentos, o sujeito cururueiro é aquele que tem que saber fazer sua própria viola de cocho, deve saber encordoá-la e, ainda, deve compor suas próprias modas e tocá-las. E o Mestre Agripino sempre deu provas, com louvor, do merecimento do título de cururueiro. Sua liderança, frente aos grupos locais, sempre foi eficaz para a continuidade da existência dessa manifestação cultural no Pantanal sul-mato-grossense, não raras vezes pudemos presenciá-lo em rodas de Cururu e tocadas de Siriri, direcionando os companheiros e os mais jovens”, comentou a este Diário, José Gilberto Rozisca, mestre em Estudos de Linguagens pela UFMS, onde desenvolveu pesquisa socioetnolinguística para o fazer do Cururu praticado em Corumbá e Ladário.
Reconhecimento
Em 2017, Seo Agripino, como popularmente é conhecido na região, recebeu pela segunda vez o reconhecimento do MinC – Ministério da Cultura com o título de Mestre da Cultura Popular, no contexto da 5ª edição do Prêmio Culturas Populares: Leandro Gomes de Barros. Neste mesmo ano, recebeu a Medalha “Conceição dos Bugres”, outorgada pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.
O cururueiro também venceu, em 2009, o Prêmio Culturas Populares, realizado pela Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, que lhe certificou o título de Mestre do Saber.
No ano de 2008, Seo Agripino foi homenageado no 5º Festival América do Sul (FAS), por ser um colaborador nato à cultura corumbaense e pantaneira.
Veja o vídeo produzido pelo projeto "História da Nossa Gente", em 2013 por este Diário, contando a história de vida do mestre Agripino.
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