Lívia Gaertner em 03 de Novembro de 2017
Um cartaz na porta avisava que não haveria atendimento no Posto de Saúde nos dias 02 e 03 de novembro, em Ladário. Localizado em um dos bairros mais populosos do município vizinho, a Cohab, o posto é referência para a população pois funciona com duas finalidades: durante o dia, Posto de Estratégia de Saúde da Família, e de noite, Pronto Atendimento (das 18h à 00h) e nos sábados, domingos e feriados, de 07h à 00h.
A reportagem do Diário Corumbaense procurou a responsável pela Secretaria de Saúde de Ladário, para saber o motivo pelo qual a unidade estava fechada. Ana Lúcia de Vasconcelos Pereira, que responde pela pasta, desde o início da gestão deste ano, esclareceu que o fechamento se originou por uma determinação de outra secretaria municipal.
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Nesta sexta-feira, funcionamento no posto de saúde é normal
“No dia 31 de outubro, a Secretaria de Finanças comunicou que nenhum tipo de pagamento de hora extra ia ser feito. Os funcionários ligaram e me falaram que não iam trabalhar porque, mês passado trabalharam, e receberam somente metade do valor e a outra metade seria agora em novembro. Eles me falaram: ‘se eu trabalhar agora, não vou receber’, então eu disse: tudo bem, fecha o PA (Pronto Atendimento)’. Quando foi na quinta-feira, às seis horas da tarde, a Comissão de Saúde da Câmara me ligou, os vereadores estiveram no posto, a secretária de Administração e os chefes de Governo. Aí, a secretária de Administração inverteu total e disse para mim que, em momento algum, disse que não iria pagar. E eu falei: ‘foi dito sim, tanto que não assinaria folha de pagamento se não estivesse inserido hora extra, tanto que foi pago metade. Se não foi dito, por que foi pago metade então? Que pagasse integral’. Fui acusada de ter feito isso de propósito para acusar o prefeito, a ideia não é essa, só que o funcionário que trabalhou tem que receber. Ela se comprometeu, junto ao secretário de Governo, efetuar o pagamento regular e daí acionei a escala e o PA voltou à normalidade”, disse a secretária de Saúde num resumo das motivações que impactaram quem buscou os serviços do local durante o Feriado de Finados.
A secretária reforçou a este Diário que o quadro crítico era de conhecimento da Administração Municipal e ainda afirmou que demais processos relacionados à pasta, ao seu entendimento, não são tratados com a atenção necessária.
“É um degaste diário porque todos os processos da Saúde tem muita morosidade em se resolver, existe uma tramitação administrativa que não entendo: passa diretamente para Administração decidir se vai resolver ou não, não passando o processo nem para Controladoria. Creio que, para o prefeito, a Saúde não está sendo prioridade. Sou funcionária cedida da Prefeitura de Corumbá, ele (prefeito de Ladário) não se envolve com os problemas, manda fechar o Pronto Atendimento. Falei para ele, que feriado não tinha como pagar extra e iria fechar, foi o que aconteceu. À noite, voltou o atendimento normal, mas disse a ele não tenho coragem de fazer isso com a população por mais que haja pactuação para Corumbá nos atender em serviço de urgência e emergência. Aí, quando o presidente da Câmara liga para ele, ele diz não saber de nada, ele nunca sabe de nada como gestor? Mas, tudo o que a gente executa, executa com a ordem de alguém e quando eu avisei que o Pronto Atendimento estaria fechado, ninguém se manifestou em nada”, declarou.
Diante do quadro instalado no município, a secretária, que é funcionária cedida do município de Corumbá, tomou decisão que disse que oficializará na segunda-feira, 06 de novembro, junto ao Poder Executivo.
“Estou entregando a pasta segunda-feira, não tem condições de permanecer porque se fala uma coisa e se escreve outra, tanto que, no dia seguinte ao pagamento, os secretários assinaram um termo de compromisso para realizar o planejamento da hora extra, só que a Secretaria de Finanças vira para mim e fala que não tem como pagar, mas não documenta, então fica difícil assim. (...) Face a tudo isso e essa impossibilidade de dar seguimento aos processos, eu vou entregar a pasta e ele (prefeito) gerencia da melhor forma que for para ele. O impacto das horas extras não é tão grande assim não. Manda funcionário que não tem função tão necessária embora. Existem, hoje, secretarias que não havia na gestão anterior que impactam no índice. A própria Secretaria de Administração era uma delas que, antes, era Finanças e Administração, e agora, são duas. A gente vem falando isso desde abril, eu segurei o máximo que deu, só que o respeito ao trabalhador é honrar com meus compromissos, agora, ele (prefeito) é muito leviano em dizer que não sabia de nada”, afirmou.
Arquivo/Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Secretária de Saúde disse que vai oficializar sua demissão na segunda-feira
Ana Lúcia disse ainda à reportagem ter solicitado a contratação de funcionários de concurso público vigente para suprir a demanda deixada por funcionários, cujos contratos se encerraram, mas houve a negativa justificando a Lei de Responsabilidade Fiscal também. Ela afirmou que, mesmo não sendo o ideal, com corpo de funcionário existente, ainda conseguiu ampliar o horário de atendimento da farmácia no Pronto Atendimento e a também de vacinação em demais unidades do município.
Insatisfeitos
Uma funcionária do Posto da Cohab, que preferiu não se identificar, reforçou que os servidores receberam a informação sobre as horas extras não seriam pagas, o que, segundo ela, se concretizou na folha de pagamento.
“A gente trabalhou fazendo hora extra para ganhar um pouquinho mais porque foram cortadas nossas gratificações e tudinho mais e não recebemos nada. Fomos comunicados que o prefeito não iria mais pagar hora extra e que deveríamos vir aqui apenas pagar as horas (regulares). A secretária sabe que a gente está pronto para trabalhar e tudo, atender a população, mas a Prefeitura faz tudo isso com a gente. O recado é que funcionário que não aguenta o arrocho, que peça demissão. Nunca vi isso no começo de mandato, é a pior situação que estamos passando em comparação com outras gestões”, disse a funcionária que contabiliza muitos anos de trabalhos prestados ao público ladarense e avisou. “Se tirarem ela (secretária), vamos fazer greve porque, em toda minha história de Prefeitura, é a primeira vez que vejo um secretário brigar pelos funcionários, ela não tem culpa de nada”, disse.
Mal entendido
Em contato telefônico com o prefeito Carlos Aníbal Ruso, que se encontra em Campo Grande, a reportagem do Diário Corumbaense perguntou sobre o pedido de exoneração da atual secretária de Saúde, o que surpreendeu o gestor da Pérola do Pantanal. “Estou sabendo agora, por vocês. O que eu posso fazer? Vou saber e me inteirar do porquê”, disse ao afirmar que o atendimento está normalizado na unidade. “Foi só um mal entendido lá, é que houve um atraso num repasse do Estado, mas, está funcionando normal”, enfatizou.
Sobre as medidas de gestão para diminuir as despesas com o pagamento da folha salarial dos funcionários, Ruso afirma que não determinou cortes em serviços essenciais, porém avisa que outros setores deverão ainda sofrer mais impacto para adequar o Município entre o que é arrecadado e gasto, conforme a Lei de Responsabilidade Fiscal. Ele lembra que Ladário está vivendo quedas sucessivas na arrecadação.
Arquivo/Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Prefeito está viajando e disse à reportagem que tudo foi um mal entedido
“Hora extra para atividade fim como Saúde, Assistência Social e Atendimento normal, não pode cortar, não pode parar. Eu vou fechar a Casa de Acolhimento? Eu vou fechar a Saúde? A Assistência? Daí, morre uma pessoa e vou ter que esperar segunda-feira para enterrar? Doença, acolhimento e assistência social não tem hora. Segunda-feira eu vou ver isso tudo e repassar para a população, mas deve ter sido um mal entendido porque, agora, a gente tem que cortar... é, porque temos que cumprir a nossa meta da Lei de Responsabilidade e, como tivemos uma perda de R$ 2 milhões e 200 mil nesses últimos dois meses, eu preciso cumprir meta, eu preciso baixar 1% ainda para fechar a folha em R$ 54 milhões, já fizemos corte de gratificação, de DE (dedicação exclusiva), tudo aquilo que tinha a mais para os funcionários, e mesmo assim, já que houve essa queda de arrecadação então automaticamente, não na Saúde, na Educação, criamos interno esse corte”, disse.
Mesmo com esse quadro nada animador, o prefeito de Ladário disse que o Município continua investindo em setores essenciais como Educação e, o tema dessa reportagem, a Saúde. Conforme ele, esse primeiro ano de sua Administração está servindo como uma aprendizagem e, que apesar de toda repercussão do fechamento do posto por um dia, encara a experiência como um mal entendido que irá promover o ajuste necessário na saúde pública do Município.
“Como é no primeiro ano e estamos ainda em laboratório, estamos entendendo mais as coisas, creio que para ano que vem vamos dar uma enxugada em todo o sistema. A gente precisa atender a comunidade e cumprir, temos que investir em Saúde e Educação. Hoje, com essa queda de arrecadação, estamos investindo 50% na Educação, ultrapassamos e já estamos com 17% na Saúde, não podemos parar a máquina. Foi até bom esse mal entendido porque acomoda as coisas, como se diz, fecha o caminhão e, com o balanço, vai acomodando os bichos”, finalizou.
Marcos Aurélio : É muito triste para nós ladarenses ver a atual postura do prefeito ruso, principalmente para quem votou nele, que deu essa oportunidade para ele, pensando que seria um gestor de primeira, porém insinuar que não sabia de nada, acredito ser demais né. Quer costar gastos prefeito, comece com o alto escalão, tem secretária sua ganhando mais de 2500 reais que nem curso superior tem, sem falar nos adicionais, mais até do que um efetivo q prestou um concurso de nível superior e se dedicou muito á isso. Porém seus amigos e cooperadores de campanha né prefeito estão com altos salários. Portanto comece com esses aí, pois se o senhor cortar um adicional de 500 reais de alguém que Já ganha 2500, e esse é o mínimo né, é melhor do que o senhor cortar 300 de um efetivo que ganha um salário mínimo né. Porém se o senhor hj não sabe nem o valor do salário mínimo, agradeça a Deus, porém 90 % dos seus funcionários efetivos contam com esse valor para sobreviver. Então seja razoável e faça o que o senhor diz saber fazer, que é ser gestor e administrar, e não deixe isso na mão de quem acha que sabe.
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