Banho de São João: festeiros preservam tradição junina de Corumbá

A festa do Banho de São João, em Corumbá, teve o ponto alto na noite desta quinta-feira, 23 de junho, com a descida de quase 100 andores para banhar a imagem do Santo, nas águas do rio Paraguai, na “prainha” do Porto Geral. Todos os componentes da tradição foram mantidos. Os cortejos das famílias de festeiros até o rio eram acompanhados por cânticos em louvor a São João. O ritmo foi marcado por instrumentos como violões; sanfonas e bumbos.

Fotos: Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Banho de São João no rio Paraguai marca o principal momento da festa

Há 15 anos conduzindo o andor, dona Gladis, filha da festeira Maria Etelvina contou que aquele momento é “fundamental” para a família dela. Faz renascer a fé nas pessoas. “É também um instante de união, confraternização e interação com o povo corumbaense e com a nossa cultura”, completou dona Alessandra, nora da festeira.

A passagem por baixo dos andores também foi outro costume preservado. Conta a tradição, que após passar embaixo de sete andores, na ida e na volta, os fiéis garantem a proximidade do casamento. O hábito virou uma grande celebração, com crianças passando correndo por baixo de cada andor que descia ou subia a ladeira Cunha e Cruz.

Sempre marcante, o encontro dos andores que subiam e desciam a ladeira que dá acesso ao Porto emocionou muitos festeiros. Em sinal de respeito, os devotos se ajoelhavam e se cumprimentavam. Gestos repetidos por três vezes, a cada encontro.

Cortejos das famílias de festeiros até o rio eram acompanhados por cânticos em louvor a São João

Na “prainha”, o simbolismo da purificação a partir das águas do rio, recorrente ao batismo de Jesus Cristo por João Batista, se tornou para os festeiros um gesto de emoção. Ao banharem os andores muitos fiéis se emocionaram durante as orações. “Ele é tão pequeno, mas é poderoso. Atende a todos os pedidos”, declarou Denise Marinho, que há quatro anos conduz aquele que é apontado como o menor andor da festa para o banho no principal rio do Pantanal.

“Hoje é felicidade total, muita alegria. Todos os anos é a mesma alegria de sempre, já fazemos isso há uns trinta anos aproximadamente. O santo só me trouxe alegria, nada de tristeza. São João traz muita paz e tranquilidade para todo mundo”, disse ao Diário Corumbaense a festeira Lucila Álvares de Souza após banhar a imagem sagrada nas águas turvas do rio Paraguai.

“Ele é tão pequeno, mas é poderoso", destacou festeira dona do andor apontado como o menor da festa

O banho de São João nas águas do rio Paraguai é uma manifestação que ostenta o título de patrimônio imaterial cultural de Mato Grosso do Sul. Agora, passa por avaliação pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para compor a lista dos patrimônios imateriais do Brasil.