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Leia artigo: Agroecologia - a verdadeira Revolução Verde

Por: Deputado João Grandão em 16 de Novembro de 2015

Há mais de 20 anos na vida pública, desde os meus tempos de vereador no município de Dourados, passando pelos dois mandatos consecutivos como deputado federal no Congresso Nacional, delegado federal do Ministério do Desenvolvimento Agrário em MS e atualmente deputado estadual pelo mesmo estado, venho trabalhando sistemática e incessantemente com emendas, projetos e leis - como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) - em prol da reforma agrária e da agricultura familiar.

Pois chegou a hora de darmos um passo além e debatermos a Agroecologia, que está ligada a isso e muito mais, com o equilíbrio e a sustentabilidade do nosso Planeta ou, como diria a Carta da Terra, com a “inter-retro-relação de tudo com tudo”.

No próximo dia 26 realizaremos uma audiência pública sobre Agroecologia no Mato Grosso do Sul. Num estado com economia baseada na agropecuária, esse não é um debate fácil de se fazer. Mas, por isso mesmo, é altamente necessário.

A verdade é que a legítima “Revolução Verde” virá da Agroecologia, e não do Agronegócio, que a partir dos anos 1970 começou a utilizar esse termo para exaltar a ‘industrialização no campo’, o aumento na produção agrícola e no volume de negócios por meio de monoculturas e do uso intensivo de máquinas, agrotóxicos, sementes modificadas e outras tecnologias ‘revolucionárias’.

No entanto, infelizmente prejudicou a forma camponesa de produzir, forçando o uso dessas novas tecnologias (muito caras!), reduzindo a variedade de alimentos e deixando as mercadorias serem vendidas por poucas e grandes empresas. Sem falar da alteração no solo, na água e na diversidade do meio ambiente de cada região, o desequilíbrio gerado, as pragas, fungos e insetos que passaram a atacar e destruir plantações inteiras.

Tal projeto se mostra insustentável pois a médio e longo prazo liquidará as reservas de recursos limitados e não-renováveis da Terra (energia, água potável, matérias-primas, camada de ozônio) e um crescimento impraticável pois implica destruir a natureza em nome do máximo lucro.

É preciso refletir, por exemplo, nos motivos de haver somente 9% do planeta coberto por florestas intactas e apenas quatro tipos de culturas (trigo, milho, arroz e cana de açúcar) ocupando mais de 70% das terras agricultáveis do mundo enquanto 805 milhões de pessoas (quatro vezes o número de brasileiros) se encontram em situação de fome.

A pergunta que se faz é se devemos cultivar mais produtos de um mesmo tipo para serem vendidos ou produzir mais comida para quem precisa? E a agroecologia é mais do que a resposta, é a saída, pois produz alimentos sem prejudicar a natureza e sem fazer o ser humano adoecer, buscando um tipo de desenvolvimento que melhore a vida de toda a humanidade.

Mas há demanda para isso? Os números mostram que sim! O mercado brasileiro de produtos agroecológicos, produzidos sem contato com agrotóxicos sintéticos e adubos químicos e a partir de sementes que não sejam geneticamente modificadas, cresce 25% ao ano no País desde 2009, enquanto a média mundial é de 6%, segundo consultoria Euromonitor.

Enquanto as vendas de alimentos e bebidas tradicionais cresceram 67% nos últimos cinco anos no Brasil, as de saudáveis aumentaram 98% no mesmo período. É um mercado em expansão que movimenta US$ 25 bilhões ao ano no nosso País, que em 2014 subiu do sexto para o quarto maior mercado do mundo em consumo de produtos orgânicos e agroecológicos.

Não é a toa que o nosso mandato propôs recentemente no MS um selo estadual de certificação de qualidade de alimentos artesanais da agricultura familiar, que se encontra em fase de sanção governamental.

Esse projeto de lei (132/15) representa um critério técnico para produção dos alimentos naturais dentro das normas legais de higiene e qualidade para viabilizar a comercialização dos mesmos nas prateleiras dos supermercados. E, claro, melhorar as condições de vida e renda das comunidades, reduzindo o êxodo rural.

É o caso do produtor Vitor Carlos Neves, que a partir de seu lote no Assentamento Itamarati, exporta maracujá orgânico para a Suíça e Estados Unidos e algodão para a França, tudo com o uso de técnicas agroecológicas, respeitando o Meio Ambiente.

A agricultura familiar produzindo alimentos orgânicos a partir de técnicas de agroecologia, ou seja, de forma socialmente inclusiva, sustentável e preservando a biodiversidade do planeta e a vida das próximas gerações. Eis aí a verdadeira Revolução Verde.

(*) João Grandão, deputado estadual (PT/MS).

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