Da Redação em 22 de Maio de 2012
Verdades e inverdades fazem parte do nosso dia a dia e, ao que parece, o estabelecimento de características únicas que possam nos identificar está se tornando cada vez mais difícil. Por exemplo, diante do mau humor do chefe, somos compreensivos, pois ele, quem sabe, não está numa fase boa. Ao recebermos uma bronca do nosso superior lá no trabalho, ficamos quietos, fingimos não ter sido conosco, deixamos passar.
Quando somos injustiçados pelo coordenador, falamos a ele com toda a educação e profissionalismo. Se formos incompreendidos na empresa em que estamos empregados, acabamos até desenvolvendo dores estomacais diante das pressões que nos sobrecarregam.
Contudo, diante de qualquer deslize de um vendedor, de um garçom ou de qualquer trabalhador que julgamos inferior à nossa escala no mercado de trabalho, as coisas perdem totalmente essas características. Assim como uma máscara que cai e demonstra a face desnuda de quem se protegia atrás dela, mostramos, às vezes, diante de qualquer pessoa que esteja em situação de desvantagem em relação a nós, importantes aspectos do nosso jeito de ser.
Algumas vezes, nem parecemos mais as mesmas pessoas, somos ousados e, cheio de razão e direitos, falamos como se fôssemos os donos da verdade, sem nos atentar de que estamos, infelizmente, agindo de uma forma pela qual que não gostaríamos de ser tratados.
Fechamos os olhos e não perdoamos, em hipótese alguma, o fato de o garçom ter demorado um pouco mais para nos atender, o fato de a vendedora de sapatos não sorrir enquanto nos atende, o fato de, por um acaso, a resposta de alguma atendente ter sido um pouco ríspida. São fatos, é verdade, mas que não justificam nossa intolerância, uma vez que não somos assim com pessoas que ocupam graus mais elevados na escala social.
Caso estejamos agindo assim, do que reclamamos quando não somos compreendidos pelos nossos superiores? Por que, então, nos queixamos de a vida e o nosso trabalho não pararem para conseguirmos, pelo menos, secar as lágrimas causadas por uma dolorosa perda? Queremos, por um acaso, que a vida seja injusta a ponto de nos tratar bem quando nós tratamos de modo ríspido e intolerante alguém que fere qualquer direito que julgamos ter?
Por que será que não consideramos a dor que causamos num atendente quando o denunciamos ao seu superior, quando aquilo que nos feriu significa tão pouco? Por que somos insensíveis a ponto de achar que o garçom não tem direito de estar num dia não muito bom quando, na verdade, queremos ser compreendidos em nossas dores? Quem sabe seja porque gostamos mesmo é de ter nosso ego massageado, queremos ser tratados como reis e rainhas. Afinal, trabalhamos duramente para isso.
Por isso, talvez, é que a vida tem sido tão dura para muitas pessoas, pois elas, muitas vezes, foram duras e insensíveis com tantas outras. É hora de quebrar esse círculo de dor, de romper com hábitos impensados, de considerar os outros como queremos ser considerados.
*Erika de Souza Bueno é Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br) e Coordenadora Pedagógica da Planeta Educação. Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo. Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família.
No Diário Corumbaense, os comentários feitos são moderados. Observe as seguintes regras antes de expressar sua opinião:
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião deste site. O Diário Corumbaense se reserva o direito de, a qualquer tempo, e a seu exclusivo critério, retirar qualquer comentário que possa ser considerado contrário às regras definidas acima.