Por Andréa Ladislau* em 01 de Outubro de 2024
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Envelhecer está longe de ser um mar de calmaria, mas pode sim, ser um mar de ondas nostálgicas
O equilíbrio emocional é fundamental para afastar qualquer tipo de pensamento ruim. Mas sabemos que para atingir esse equilíbrio uma série de fatores estão envolvidos. A etapa da vida caracterizada como velhice é carregada de bonitas histórias, velhas lembranças e, em muitos casos, de sofrimento e tristeza também. Nas faixas etárias mais avançadas aumentam os relatos de transtornos depressivos e até suicídios. O envelhecimento apresenta fatores muitos distintos que podem apontar causas que levam a esse desequilíbrio emocional.
Estes sofrimentos psíquicos e o desejo de antecipar a vida podem ser motivados por diversas perdas específicas dentro de um processo de envelhecimento, como: perda da saúde, autonomia, produtividade, papéis sociais, perda de cônjuges, amigos, entre outras perdas pessoais.
Não raro encontrarmos idosos que sofrem de transtornos depressivos em diversos níveis de intensidade. A depressão é a desordem mais comum nesse segmento etário. Tanto que, a vulnerabilidade deles está concentrada no isolamento social, no fato de não serem, muitas vezes, incluídos na sociabilidade de lazer da família, na falta de diálogo e de alguém para ouvi-los, no medo de se tornar um peso para os parentes, na dependência constante do outro e no alto número de medicamentos que precisam ser ingeridos todos os dias, tornando-os prisioneiros dos fármacos. Não se sentir mais útil é um dos maiores fantasmas do envelhecimento.
Muitos sentem a necessidade do diálogo, mas as conversas já não os comportam mais. Os assuntos em família ficam restritos a um núcleo em que esse idoso não se encaixa por estar “ultrapassado”. Situações estas que, acabam por provocar um isolamento natural. Criam, portanto, a ilusão de que não são mais importantes em seu espaço de convivência. Incentivando a diminuição do prazer pela vida e a redução dos níveis de energia desse idoso.
O ideal é buscar acolher esse idoso e estar mais próximo. Escutar e se deixar levar pelo mundo lapidado pelo envelhecimento. Procure promover ações de integração do idoso no núcleo familiar, demonstrando a ele sua importância e seu papel dentro deste contexto. Além disso, ao ajudá-lo a se sentir útil de alguma forma, uma chama de sobrevida está sendo acesa para auxiliar no processo de equilíbrio mental e psíquico deste indivíduo
Se perceber a necessidade, não hesite em buscar ajuda e apoio de um profissional de saúde mental para que essas perdas sejam amenizadas através do autoconhecimento.
Portanto, o que precisa ser feito é diminuir a vulnerabilidade que uma pessoa desta faixa etária carrega em seu inconsciente. Uma fragilidade alimentada por inseguranças e conflitos internos tão cruéis, que são capazes de antecipar, de forma drástica e definitiva, a sua partida. Assim como uma criança, um jovem e um adulto, o idoso também precisa se sentir vivo. Precisa, sobretudo, ter condições de expor seus medos, suas queixas, suas dúvidas, alegrias e tristezas.
Ao externar estas emoções, o sofrimento fica mais leve e a carga menos pesada. Depressão na velhice é coisa séria, não ignore os sinais. A melhor arma no combate a este mal é o apoio emocional. Envelhecer está longe de ser um mar de calmaria, mas pode sim, ser um mar de ondas nostálgicas que tragam velhas lembranças e velhas histórias de uma vida inteira, recheada da individualidade e da marca pessoal desse idoso.
*Dra. Andréa Ladislau é Psicanalista.