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Devotos banham São João e renovam fé e devoção nas águas do rio Paraguai

Leonardo Cabral em 24 de Junho de 2024

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Os andores, cada um com suas peculiaridades, se encontravam e a reverência entre eles é um dos pontos cultuados pelos festeiros

Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, desde 2021, o Banho de São João nas águas do rio Paraguai, em Corumbá, contrastou com o Pantanal sendo devastado pelos incêndios florestais, que começaram mais cedo este ano. A festa ocorre tradicionalmente na noite de 23 para 24 de junho, no Porto Geral, quando, em período normal, a seca está começando no bioma. 

O Banho de São João é uma das maiores manifestações culturais do Centro-Oeste. O ato remete ao batismo de Jesus Cristo por João Batista nas águas do rio Jordão, mas toda a festa começa na casa dos devotos, onde preparam comidas típicas, rezam pelas graças alcançadas e pedem bênçãos a São João.

Depois, os festeiros descem pela Ladeira Cunha e Cruz, com os andores e a imagem de São João Batista, em direção as águas do rio Paraguai, mantendo viva uma tradição com influência portuguesa, um momento de fé, devoção, renovação e agradecimento.

Os andores, cada um com suas peculiaridades - grandes, médios ou pequenos -, se encontravam e a reverência entre eles é um dos pontos cultuados pelos festeiros, na hora da descida, subida ou nas margens do rio. Matrimônio também é tradição, pois, em meio à fé e devoção, há àquelas pessoas que participam da festa no intuito de "arranjar" um casamento. Diz a tradição, que se a pessoa ou casal passar sete vezes debaixo dos andores, no outro ano casa.

Não diferente de anos anteriores, os festeiros reforçaram a tradição que segue em Corumbá, passada de geração para geração. Jorge Luís, contou ao Diário Corumbaense sobre a emoção de levar a imagem de São João até às margens do rio, junto com amigos e familiares. Há quatro anos ele realiza a festa.  

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Devotos banhando imagem do santo e renovando a fé em São João

“A gente prepara o andor, faz a festa, mas no final das contas é só agradecimento, é fazer todo o ritual, para agradecer as graças que alcançamos. Quando vai para a Ladeira é como o ritual final, a gente prepara, se reúne, faz a oração, mas quando chega é realmente o ápice de tudo. É emocionante, mantém a tradição viva e renova a nossa fé”, falou Jorge, que estava emocionado e também pediu proteção à fauna e flora do Pantanal diante dos incêndios florestais.

Pela primeira vez descendo com o andor, o festeiro, Roosevelt Israel de Figueiredo, do bairro Universitário, disse que o momento foi de comunhão com a família, pois teve um momento mais que especial para agradecer, a aprovação no concurso público em primeiro lugar.

“Sou corumbaense, nascido na terra, família daqui, sempre gostamos muito do São João e foi a questão religiosa, no sentido de fazer a comunhão da família, e, também pelo motivo especial pela realização profissional que tive esse ano, é que resolvi dar início nessa tradição dentro da família. Descer a ladeira, levar o andor até o momento do banho, é um sentimento de fé, agradecimento e principalmente comunhão com a família, por estarmos todos juntos. Foi a primeira vez, um sentimento único”, declarou Roosevelt.

Há 21 anos renovando a fé

Definindo com um ápice de todo o ritual, Alfredo Ferraz, é um dos festeiros que mantém a tradição há 21 anos, na comunidade da Monte Castelo.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Diz a tradição que quem passar sete vezes debaixo de andor, consegue casamento

Com um sentimento de gratidão e renovação, o festeiro disse que a cada ano é uma emoção nova, se renova a fé. Ele, junto à comunidade, realiza a festa desde cedo, com  novena, alvorada festiva, celebração da missa. Também erguem o mastro, que representa o nascimento de São João, e a festa é encerrada com a descida do andor.

"É o ápice da nossa fé, quando descemos a ladeira, agradecendo pelas graças alcançadas. Dizem que para o brasileiro o ano começa depois do carnaval, para mim, só depois do São João. Eu vivo em função disso. Quando chego às margens do rio, é um momento de renovar a fé, agradecermos por aquilo que enfrentamos e conseguimos alcançar”, disse Alfredo.

A tradição

A louvação ao santo tem dois momentos marcantes durante a procissão pelas ruas da cidade. Ouve-se primeiro a ladainha: “Deus te salve João/Batista sagrado/O teu nascimento/Nos tem alegrado”. Logo, a banda imprime um ritmo carnavalesco e o povo pula de alegria, cantando: “Se São João soubesse que hoje era o seu dia/ Descia do céu à terra/Com prazer e alegria”. Durante o banho, o povo entra na água, toca a imagem e se percebe a religiosidade dominante.

Aos gritos de “Viva São João”, escuta-se batuque da umbanda e do candomblé na beira do rio, anunciando a presença de entidades num grande terreiro. Os pagadores de promessas se ajoelham com emoção e fé fervorosa. Depois do ritual, o andor retorna para a casa do festeiro.

Galeria: Arraial Banho de São João

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