Campo Grande News em 20 de Fevereiro de 2024
Henrique Kawaminami/Campo Grande News
Delegado Carlos Henrique Cotta D’Ângelo assumiu comando da PF em Mato Grosso do Sul
Há 22 anos na Polícia Federal, D’Ângelo estreia no cargo de superintendente. Antes, já passou por todos os setores – áreas administrativas, policial, inteligência e corregedoria. Graduado em Direito e Administração Pública, o delegado comandou o setor de combate ao crime organizado e esteve à frente de operação contra corrupção em Mato Grosso, no ano de 2019. A última lotação foi no comando da delegacia de Juiz de Fora (Minas Gerais).
Bom de prosa e com disposição para passar o dia concedendo entrevistas à imprensa, o novo superintendente conta que quando aparecia na televisão tanto quanto o ator Reynaldo Gianechini chegou a levantar suspeita de que seria candidato. Mas, para ele, a vida de polícia e de político não se mistura.
"O pessoal achava que tinha pretensões políticas. Mas eu não misturo política com polícia. Polícia veio para prender político”, diz.
Sobre as diversas modalidades de ladrão, é justamente o de “colarinho branco” que mais exige recursos das investigações.
“Sem dúvida nenhuma exige mais, até pela sofisticação dos crimes que eles praticam. São sempre mais complexos e que demandam uma estrutura investigativa com mais tempo. Além dos problemas característicos da engenharia desse tipo de crime, há barreiras legais. Por exemplo, a prerrogativa de foro. Onde para investigar determinadas pessoas você precisa de uma série de autorizações. Na medida, que você tem informações sobre juízes, políticos, promotores, você tem que pedir licença a um par deles para poder investigar. Coisa que você não tem para nenhum outro cidadão”.
Desta forma, apesar de a corrupção estar em todas as instâncias, só em algumas a polícia alcança. Outro exemplo foi o uso de algemas, que passou por revisão de regras quando os alvos eram pessoas mais influentes e poderosas.
“O casuísmo que é ruim. Porque só agora tem que ter cuidado com as algemas, com transporte no camburão? Não sou contra isso, mas tem que ser para todos. A própria reforma da lei acabou com a improbidade no Brasil. Agora a regra para massa carcerária de sempre, pobres e pardos, continua no mesmo batidão”.
Obras de R$ 60 milhões
Após muitos anos no campo das promessas, a nova delegacia de Ponta Porã, que faz fronteira com Pedro Juan Caballero (Paraguai), começou a ser construída. O custo é de R$ 25 milhões, com previsão de término em dois anos.
Atualmente, a delegacia tem porte acanhado e há pelo menos uma década sofre críticas pela falta de estrutura. Ponta Porã é endereço de exército de “soldados” da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), além de ser corredor para o tráfico de drogas e armas.
Já na fronteira com a Bolívia, uma nova delegacia será construída em Corumbá. A obra deve começar em até três meses. Outros R$ 20 milhões vão para a reforma e ampliação da superintendência da PF em Campo Grande. O local também terá mais dispositivos de segurança, com instalação de tecnologia com reconhecimento facial.
Sobre as finanças, o novo chefe da PF não abre os números do orçamento, mas diz que não deve faltar dinheiro para custear combustível, viaturas, energia, diárias.
“O que a gente pode dizer é que os valores sempre vão carrear na linha do ‘são sempre inferiores’ à necessidade' Mas tiveram um suplemento com relação a 2023. Então, para se manter o que se fez no ano passado, os recursos estão garantidos, estão tranquilos. E temos recursos para reformas prediais, estamos falando de R$ 60 milhões para essa parte estrutural”, afirma D’Ângelo.
Efetivo, tecnologia e parcerias
O combate às organizações criminosas na fronteira vai reunir as vertentes de efetivo, tecnologia e integração entre as forças policiais.
“Você não substitui o ser humano 100% com a tecnologia. E não adianta colocar uma quantidade em massa sem tecnologia. O caminho vai ter que ser esse. Para além disso, a gente tem muita expectativa com a palavrinha da moda, que muito se fala, mas pouco se aplica, que é integração entre as forças. Daí a razão desse projeto Ficco. Participei da criação dele há 12 anos em Minas Gerais. É muito difícil porque o Brasil não tem essa cultura de integração entre as forças”, afirma o delegado.
Em dezembro de 2023, uma sala de controle foi montada dentro da Superintendência da Polícia Federal, em Campo Grande, para receber o Ficco (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado). O grupo é formado por policiais federais, rodoviários federais, civis, militares, agentes de presídios de Mato Grosso do Sul e da União.
“Imagina, são cinco, seis forças distintas, cada uma com seu orçamento, sua previsão legal. Mas dá certo. É preciso ter muito boa vontade e muito jogo de cintura. E como ali é um problema que aflige todas as forças, vamos juntar todo mundo e fazer esse trabalho. Vigilância por drone, vigilância aérea, muita informática, muito cruzamento de dados para facilitar o trabalho humano”.
Meio ambiente e desmatamento
Além de atuar na repressão do velho conhecido “combo” de contrabando, trafico de drogas e facções criminosas, a PF (Polícia Federal) de Mato Grosso do Sul terá forte preocupação com a questão ambiental, inclusive, se voltando para o desmatamento do Cerrado.
“Vamos tentar integrar as forças. Por que não um modelo de força-tarefa para a questão ambiental. Aqui tem tudo para isso ser efetivado. Uma área grande, tem o bioma Cerrado, Pantanal”, afirma o delegado Carlos Henrique Cotta D’Ângelo, novo superintendente da PF em MS.
Ele destaca o uso de recursos tecnológicos, como monitoramento por satélite e dados em tempo real de desmatamento, queimadas.
“Hoje o bioma mais afetado é o Cerrado. Então, temos que volver os olhos para o Leste do Estado, que está sofrendo fortemente o ataque ao Cerrado. Bioma que é o verdadeiro formador das bacias hidrográficas. Acabou com ele, não tem cheia no Pantanal, chuvinha na Amazônia. Mas ele é uma terra boa para plantar milho, soja. É preciso ter esse cuidado, de ver se estão obedecendo os regramentos legais”, concluiu.
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