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Desmaios, dores terríveis, convulsões e morte: quais os riscos para quem transporta drogas no próprio corpo

G1 em 23 de Novembro de 2023

Divulgação

Exames de raio-x mostram cápsulas com cocaína dentro dos estômagos de "mulas"

No esquema de tráfico internacional de drogas, uma tática comum para tentar driblar a fiscalização da polícia é o uso das chamadas "mulas": pessoas que transportam entorpecentes dentro do próprio corpo, para entregarem o material a traficantes de outro país.   

Engolir cápsulas de cocaína, por exemplo, ou colocá-las na vagina e no reto são técnicas altamente arriscadas para a saúde — podem provocar convulsões, desmaios por dor, intoxicação, rompimento de órgãos e morte.

Em São Paulo, nesta quinta-feira (23), um homem foi preso por treinar mais de 30 "mulas" que engoliriam drogas e as levariam para a Europa. Na última semana, em 14 de novembro, seis passageiros nigerianos também foram detidos após serem flagrados com cápsulas de cocaína no estômago no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.  

Paula Carpes Victório, farmacêutica e mestre em toxicologia pela Universidade de São Paulo (USP), explica que a droga é, em geral, envolta em um material plástico — em várias cápsulas ou saquinhos pequenos. Esses invólucros são: engolidos, aos poucos, para que fiquem no estômago durante a viagem;  inseridos na vagina  ou colocados no reto

Pode haver rompimento das cápsulas? 

Sim, é comum que as cápsulas estourem. O estômago secreta ácido clorídrico (HCl) para digerir os alimentos que comemos. "É muito forte e deixa o pH extremamente baixo", afirma Victório. "Quando mascamos um chiclete, por exemplo, o organismo entende que vamos nos alimentar e libera mais ácido para a digestão. No caso das cápsulas, o mesmo acontece: o HCl é excretado e provavelmente vai corroer o plástico que envolve a droga."  

Na vagina, o pH é ácido (menos do que o do estômago). No intestino, é alcalino, mas também apresenta potencial corrosivo. O risco de rompimento da cápsula, nos dois casos, é reduzido, mas existe. E há outro alerta: "São partes do corpo que naturalmente contraímos, seja em um susto, ao andar ou ao sentar. Isso pode fazer com que os invólucros estourem e ainda levem a uma lesão. O plástico é duro; é terrível", diz a toxicologista.  

O que acontece se a cápsula com as drogas estourar? Se o plástico que envolve a droga for rompido, uma quantidade enorme de entorpecentes vai ser liberada no organismo. "A substância será absorvida pela mucosa , que é irrigada por vasos sanguíneos. A droga entrará em contato com as células e chegará ao sistema circulatório", afirma Victório. 

Os sintomas da overdose variam de acordo com o tipo de substância. "A pessoa pode ter convulsões, hemorragia ou até morrer instantaneamente", esclarece a especialista. 

E se a cápsula não romper? Há algum risco ainda assim?  Sim. A "mula" pode ter: dores fortíssimas no estômago, causando desmaios; vômitosangramento por lesões nos órgãos; cólicas que farão com que ela caia no chão no meio do aeroporto, por exemplo. 

Quais os tratamentos possíveis? 

Segundo a especialista, o procedimento de retirada dos pacotes/pinos vai depender do quadro do paciente. Pode envolver: lavagem hospitalar estomacal e intestinal; retirada por endoscopiauso de carvão ativado, para controlar a chegada da droga ao sangue; remoção manual via vagina ou ânuscirurgia imediata, de alto risco, quando o estômago ou outro órgão já foi perfurado. 

A probabilidade de o paciente morrer antes dos procedimentos ou durante esses processos é significativa. "Não é só um problema individual. É social. Temos casos de mulheres que se submetem a trabalhar como 'mulas' para sustentar as crianças, morrem e acabam deixando os filhos sozinhos", afirma Victório.