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Menina de 2 anos morre torturada no Rio; pai e madrasta são presos em flagrante

G1/Rio de Janeiro em 10 de Março de 2023

Reprodução

A pequena Quenia Gabriela Oliveira Matos de Lima

Uma menina de 2 anos morreu, segundo a polícia, torturada dentro de casa, na Zona Oeste do Rio, em uma sequência de agressões. O pai e a madrasta da criança foram presos em flagrante na quinta-feira (09). Ele nega as agressões e diz que tudo “é um erro”.    

Segundo a delegada Márcia Helena Julião, titular da 43ª DP (Guaratiba), a criança, identificada como Quenia Gabriela Oliveira Matos de Lima, apresentava 59 lesões pelo corpo. Ainda de acordo com a delegada, o pai disse que a criança não se alimentava há pelo menos três dias.    

“Em 40 anos de profissão, este é o caso mais terrível e desumano com que deparei na vida”, afirmou Márcia. “Não havia um local nessa criança que não tivesse lesão: a cabeça, a orelha, o tórax, as pernas. A criança estava toda machucada. Como alguém consegue fazer isso com um serzinho tão frágil e indefeso?”    

Médica denunciou

O caso surgiu quando uma médica da Clínica da Família Hans Jurgen Fernando Dohmann, em Guaratiba, procurou a distrital ao ver o estado da criança, levada à unidade de saúde pelo pai na tarde de quinta. Segundo a profissional, Quenia tinha morrido pelo menos uma hora antes de o pai dar entrada.   

A médica, no depoimento à polícia, disse que a causa da morte foi “grave agressão física e provável abuso sexual” e detalhou as lesões: 12 no rosto, 17 no abdômen, 16 no dorso, 6 nos braços e 7 nas pernas. Ela destacou uma queimadura no umbigo e uma fissura no ânus da menina.    

Policiais foram até a clínica e deram voz de prisão a Marcos Vinicius Lino e a Patricia André Ribeiro, o pai e a madrasta de Quenia. Eles responderão por homicídio. 

“O crime bárbaro chocou a todos os policiais desta unidade e causou grande comoção, diante dos atos cruéis de tortura”, destacou a delegada.

Criança já tinha sido atendida com ferimentos 

A médica lembrou que Quenia já tinha sido atendida na clínica em novembro do ano passado com um corte de 5 cm no couro cabeludo. Na ocasião, a madrasta informou que uma louça tinha caído na cabeça da enteada. A profissional contou ainda que dentre as 59 lesões havia recentes e antigas.   

Vizinhos relatam choro   

A polícia também ouviu dois vizinhos da criança que ajudaram no socorro. Um deles disse ter percebido lesões em Quenia em outras ocasiões e que a ouvia chorar algumas vezes. 

Na quinta, segundo esse vizinho, a madrasta “bateu forte” na sua porta, informando que Quenia “não estava respirando e que tinha se engasgado”. Outro vizinho, no depoimento, contou ter levado os três de carro até a clínica da família.    

Pai assumiu a guarda para não pagar pensão 

Reprodução/TV Globo

Marcos Vinicius Lino, pai de Quenia

Em depoimento após ser preso, Marcos Vinícius disse que cuidava de Quenia desde quando ela tinha 3 meses de vida. Ele começou a namorar Patrícia antes mesmo de a filha nascer. Segundo a madrasta de Quenia, a mãe pediu pensão, mas Marcos se negou a pagar, e os dois concordaram que a guarda da menina ficaria com o pai.    

O pai declarou que a filha entrou para uma creche no mês passado e que em pouco tempo a direção entrou em contato para questionar lesões na criança. Ele respondeu que Quenia tinha caído, mas não possuía mais detalhes.   

Ainda segundo Marcos, a responsável da creche disse que não receberia Quenia enquanto não a levasse para um médico. “Há três dias a criança não se alimentava e vomitava”, diz o termo de declaração do pai.    

À polícia, Marcos ainda afirmou que “acredita que a lesão no ânus seja da força que fez soprando a boca da criança para tentar fazê-la voltar a respirar”. 

“ afirma que algumas vezes Patrícia ligava e dizia que Quenia tinha caído e se machucado, mas não levava a um hospital, passando uma pomada e dando uma dipirona para febre”, descreve o termo.   

Patrícia também declarou à polícia que a enteada estava há três dias sem se alimentar, fato comunicado inclusive pela creche. 

“A creche chegou a questionar as lesões que a criança tinha, e afirma que a criança pegou uma cadeira, colocou sobre o sofá e caiu”, descreve o termo. 

“Das 59 marcas pelo corpo, não sabe dizer como aconteceram, podendo ter sido queda da criança. Mesmo tendo ciência das lesões, não levaram a criança no médico”, continua o depoimento.  

Delegada: "Repulsa"

“Quando eu vi as fotos da criança já morta, eu senti repulsa. Mais que isso. Uma dor enorme de ver um ser tão frágil e tão indefeso sofrendo aquele tipo de tortura”, disse a delegada Márcia Julião.  

“As lesões demonstram que essa criança sofreu muito antes de morrer. Sem falar que ela tinha uma fissura anal e uma marca de queimadura muito grande no umbigo. Ainda não dá para dizer como fizeram aquilo”, emendou.   

“A morte dessa criança não aconteceu ontem. As torturas vieram evoluindo com o tempo até causar a morte”, destacou a delegada.   

Segundo Márcia, “graças à atitude da médica”, foi possível prender os dois. “A doutora veio para a delegacia, mostrou a cara e descreveu todas as lesões. Ela veio correndo, a pé, chegou esbaforida, e em seguida eu mandei a minha policial ir lá e deu voz de prisão ao pai e a madrasta”, narrou.