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Leishmaniose: acompanhamento e tratamento adequados possibilitam que cães vivam com bem-estar

Leonardo Cabral em 02 de Março de 2023

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Os sintomas da leishmaniose são muito variáveis hoje, diz médico veterinário

Até pouco tempo vista como uma doença, que após diagnóstico positivo, a única solução era a eutanásia, a leishmaniose não tem cura, mas se tratada corretamente, o animal consegue ter uma vida normal

Em entrevista ao Diário Corumbaense, o médico veterinário, Carlos Albaneze Sahib, disse que tempos atrás o Ministério da Saúde preconizava que, todo animal positivo para a doença, teria que ser submetido à eutanásia. Foi a partir de 2016, com a liberação de produto registrado no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e com a autorização do Ministério da Saúde, é que foi autorizado o tratamento da leishmaniose.

“A gente tem que sempre explicar ao proprietário do animal positivo que para iniciar o tratamento tem que seguir condutas de exames que vão mostrar em que nível está o animal em relação à doença. Esses protocolos são definidos respeitando o resultado desses exames e sabendo que o tratamento da doença é eficiente, mas ele é um tratamento com controle, onde se é necessário fazer a medicação de manutenção a vida inteira do animal e avaliá-lo em relação a exames que darão certeza de que o cão está com a doença bem controlada”, explicou. 

Todo cachorro tem a possibilidade de iniciar o tratamento, mas o resultado melhor ou menor depende do estado que o animal chega para iniciar o tratamento.

O médico veterinário informa que é um tratamento de custo relativamente alto, pois são necessários vários exames para avaliar  a condição do animal, exames quantitativos em relação à sorologia e parasitismo. A partir daí, se define a necessidade ou não de medicamentos de maior ou menos custo para o controle da doença. 

“Normalmente, o custo inicial para o tratamento da leishmaniose, entre consulta e exames, é de em torno de R$ 600 ou mais um pouco. A partir daí, o valor começa a fazer diferença pelo tamanho do animal, porque quanto maior o cão, maior a quantidade de medicamento e quanto menor, menor a quantidade de medicamento. Custo maior do tratamento está ou não em se usar um produto especifico que se chama Milteforan, produto leishmanicida. Esse produto é o único liberado pelo Mapa e pelo Ministério da Saúde para tratamento de leishmaniose no Brasil”, esclareceu.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Teste rápido para identificar se animal está ou não infectado pela doença

Os sintomas da leishmaniose hoje são muito variáveis. Antes, os sintomas clássicos  eram emagrecimento, crescimento de unha, sangramento nasal, cachorro com problema de pele, na extremidade da orelha, úlcera nos lábios, úlcera em calcâneo, em membros, animal bem assintomático.

“Porém, tem cachorro que tem claudicação, ele manca e é a doença; tem cachorro que sangra o nariz e é a doença; tem cachorro que é assintomático e ao realizar o exame sorológico já é positivo. Então, os sintomas em si, são muito variados. Qualquer coisa que observar no animal de diferente tem que ser avaliado por um profissional que vai dizer a necessidade ou não de fazer o exame”, disse Carlos Albaneze.

Muitas pessoas se perguntam se a leishmaniose é transmissível pelo cachorro doente. “Uma doença transmitida por um vetor, principalmente, o contato com cão e homem e cão com cão, mas sem esse vetor ela não é transmitida, não se torna infectocontagiosa, somente pode ser transmitida pelo mosquito. Então, a doença está numa forma dentro do cachorro que vai ser sugado pelo mosquito e ele se transforma numa forma infectante e, quando vai picar outro animal ele insere a doença. Não existe transmissão de cão para humano sem o mosquito, mas existe a forma de transmissão de um cão para outro cão, sendo uma delas transplacentária, que seria a mãe transmitindo durante a gestação para o filhote, onde o animal já nasceria infectado”, explicou ao ressaltar que de forma geral, os animais podem conviver sem nenhum problema, desde que usem os repelentes adequados assim como na convivência com pessoas.

Prevenção

Uma das prevenções dentro da clínica veterinária que é considerada ideal, é quando o animal chega com 45 dias de vida, idade mínima que se pode usar produto que controla pulga, carrapato e também o mosquito transmissor.

É um produto que se chama Purol, passa na pele numa região cervical. Com 45 dias o animal pode usar, tem ação de 30 dias, após esse tempo, periodicamente pode ser aplicado. Quando o cachorro chega aos três meses, ele pode seguir com o produto ou também o tutor tem a opção de encoleirar o cachorro. Na coleira tem um inseticida que  tem o mesmo efeito, com resultado duradouro de 04 a 06 meses. Já o cachorro com três meses e meio, pode fazer o exame para a doença, e então, iniciar a vacinação. O resultado tem que ser negativo, e iniciar a vacina com idade mínima de quatro meses.

Além da vacinação, outra maneira de proteger o cachorro, é o tutor se atentar em manter o terreno sempre limpo, pois assim, evita a proliferação do mosquito transmissor.

“Onde há folhas úmidas, lixo acumulado, com certeza há proliferação do mosquito. A leishmaniose é uma doença que tem característica  que afeta órgãos alvos e o principal que vai fazer diferença no tratamento em maior ou menor sucesso, é o grau de comprometimento renal que esse animal vai ter. A maioria dos animais que não tem como tratar é quando chega na clínica já com o quadro da doença com insuficiência renal grave, aí já fica tarde, a doença já fez lesão no órgão que é vital e não temos muito o que fazer”, afirmou.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Uma das prevenções dentro da clínica que é considerada ideal, é quando o animal chega com 45 dias de vida

Dados do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), informados a este Diário, mostram que Corumbá tem 327 casos de cães infectados com leishmaniose. Esses números correspondem ao período de 01 de janeiro até 28 de fevereiro.

Já os dados do Ministério da Saúde revelam que a leishmaniose afeta mais de 3.500 pessoas anualmente e, para cada humano afetado, a estimativa é que haja 200 cães infectados.

Existem dois tipos de leishmaniose, a tegumentar, que provoca feridas na pele e mucosas, e a visceral, que acomete órgãos internos. A Leishmaniose Visceral é transmitida por meio da picada de insetos conhecidos popularmente como mosquito palha, asa-dura, tatuquiras, birigui, dentre outros.

“Corumbá tem hoje uma população mais consciente da necessidade de fazer o diagnóstico e tratar a leishmaniose. Tem uma quantidade de animal diagnosticado aqui na clínica em que o tutor faz a opção de tratamento mais do que a eutanásia. Hoje, o relacionamento animal e ser humano está muito mais afetivo do que tempos atrás. Isso faz com que a pessoa se esforce para garantir o tratamento. Mas o veterinário tem que tentar ajudar, ou seja, não deixar de fazer o que é necessário, ajudando no parcelamento do tratamento, mas nunca deixar de usar o produto que tem que ser usado para ter segurança. O veterinário é responsável pelo cachorro não transmitir a doença, mostrando para o tutor que está bem controlado”, frisou Albaneze.  

O médico veterinário reforçou que o tratamento de leishmaniose só vai ser eficiente se existir harmonia entre veterinário responsável e proprietário, que deve fazer todos os procedimentos junto ao animal, como retornar periodicamente para saber como está o controle da doença. “Quando trata o cachorro e terminou o protocolo inicial, os exames têm que ser periódicos e cachorro permanecer sem sintoma”, finalizou.

Adoções responsáveis

Muitos cães são abandonados pelos tutores ao serem diagnosticados com a doença. A ACLAA (Associação Corumbaense e Ladarense de Apoio aos Animais) recebe muitos desses animais, que acabam ficando para a adoção.

Diário Corumbaense

Cão diagnosticado com a doença e está em tratamento

“A ACLAA sempre ajudava financeiramente nos exames e tratamento de cães com diagnóstico da leishmaniose, adotados por intermédio do grupo e comprovados por exame. Recursos oriundos de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que o Ministério Público Estadual repassou, estão nos últimos meses de repasse e, infelizmente, não teremos mais como ajudar, porém, os cães seguem para adoção”, disse Valéria Curvo, vice-presidente da associação.

Ela salientou que sempre que há divulgação de adoções responsáveis, veterinários e profissionais de saúde se oferecem para ajudar a custear o tratamento.

“Já intermediamos umas 15 adoções. Só eu tenho três no momento com a doença, castrados e tratados, vivem da melhor forma possível. Porém, não recebemos os animais aqui na ACLAA. Ocorre que algumas clínicas parceiras recebem esses cães e, então, eles entram em contato com a gente e corremos atrás para ajudar no custo do tratamento, quando há disponibilidade de recurso e ajudar na adoção. O tratamento exige sério comprometimento do tutor, pois é para toda a vida do animal”, ressaltou.

Quem quiser saber mais sobre os animais que podem ser adotados ou apoiar as ações da ACLAA, pode entrar em contato pelo telefone/WhatsApp (67) 99646-1973.

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