Campo Grande News em 29 de Janeiro de 2023
Alex Machado/Campo Grande News
Policiais fizeram buscas e apreenderam computador na casa onde criança foi morta
O pai da criança até que se esforçou, mas não chegou perto de ficar com a guarda da pequena.
A menina passou mal na casa onde morava, na Vila Nasser, região da saída para Rochedinho, e já chegou sem vida no posto de saúde. A mãe, Stephanie de Jesus da Silva, e o padrasto, Christian Campoçano Leitheim, foram presos.
A lei, aprovada pelo Congresso Nacional, alterou artigos de várias normas, incluindo o Código Penal, prevendo pena mais elevada no crime de homicídio cometido contra menores de idade, de 12 a 30 anos, com possibilidade aumento de até 2/3, e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Ela define que é dever do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, que envolve as autoridades administrativas e do sistema de justiça, mapear, evitar a violência e sua reiteração, além de garantir atendimento e segurança.
Conforme apurou a reportagem, a rede tão bem delineada no papel não funcionou no caso da criança. O pai registrou dois boletins relatando violência. O primeiro relatava maus tratos, acabou arquivado no Juizado Especial por falta de provas.
Neste episódio, o pai contou à polícia que a filha costumava apresentar hematomas e a ex-sogra havia relatado que Stephanie maltratava a criança, inclusive repreendeu-a. Ambas foram ouvidas na fase policial apenas, a mãe negou agressão e a sogra considerou que poderia ter sido pontual porque a filha estava gravida novamente e nervosa.
A pequena não foi ouvida por meio da chamada escuta especializada, outro avanço da lei para dar mais proteção às crianças vítimas de violência. Na época, ela não tinha ainda dois anos de idade.
O arquivamento foi publicado pela Vara do Juizado em 21 de novembro, com manifestação favorável da Promotoria.
Exatamente no dia seguinte em que o BO foi arquivado, 22 de novembro, o pai novamente denunciou hematomas e levou a criança com a perna quebrada até à delegacia. Mais uma vez, o caso foi registrado como maus-tratos, uma imputação menos grave. A reportagem ouviu a advogada Janice Andrade, que acompanhava uma mãe na delegacia na ocasião e comoveu-se ao ver a cena do pai e filha no saguão da Depac e os questionamentos entre escrivães sobre como enquadrar a situação que se repetia.
A reportagem ainda não obteve informações do Judiciário e do Ministério Público sobre o andamento desse segundo inquérito, concluído e encaminhado pela Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente à Justiça.
O pai ainda procurou a Defensoria Pública para pedir ajuda planejando obter a guarda da criança e também foi ao Conselho Tutelar, que chegou a ir à residência onde a menina vivia, mas não viu evidências de maus-tratos e o caso “se perdeu”, conforme a reportagem ouviu da representante. A burocracia imobilizou o desejo do pai.
Pela lei, na esfera policial, em caso de suspeita de violência, entre várias medidas, a autoridade pode afastar a criança do agressor, prendê-lo, o que também cabe ao Judiciário.
Na esfera da Justiça, quando feito pedido de medidas protetivas, elas podem ser adotadas de imediato, sem nem mesmo audiência ou manifestação do Ministério Público, dada a urgência. Entre as medidas constam o afastamento do agressor, o impedimento de visitas, prisão e colocação da criança em outra família para assegurar sua integridade.
A lei prevê também uma série de medidas para proteger as pessoas que tiverem conhecimento de violência, como forma de encorajá-las a fazer a denúncia, oferecer segurança e compensação. No caso da menina morta, vizinhos relataram, sob proteção da identidade, uma rotina tumultuada na casa. Até violência contra o cão de estimação foi parar na polícia. A lei Henry Borel inclui pena para quem descumpre medida imposta.
Ao contar que viu a criança em novembro com o pai na delegacia, a advogada Janice chorou ao perceber a impotência diante do sistema que falhou. “Me sinto um lixo”, resumiu. Ela atende mães de forma voluntária e falou sobre a esperança de ver a rede de atendimento mais eficiente e assegurando a tão defendida proteção integral das crianças.
09/02/2023 Mãe e padrasto de criança são denunciados por estupro e homicídio
06/02/2023 Casal quis criar versão para morte de menina: "inventa qualquer coisa"
03/02/2023 Caso chocante: laudo confirma que menina assassinada foi estuprada
31/01/2023 Pai de criança morta por padrasto percorreu verdadeira "via crucis" para pedir guarda
28/01/2023 Juiz decreta prisão preventiva de mãe e padrasto de menina de 2 anos morta em Campo Grande
28/01/2023 "Luto duplo", diz pai sobre filha presa pela morte da neta de 2 anos
27/01/2023 Indignada, advogada questiona omissão na proteção à criança assassinada
27/01/2023 Conselho nega que tenha constatado maus-tratos contra criança de 2 anos
27/01/2023 Morte de criança: Conselho foi à casa de família, constatou maus-tratos e caso estava na Justiça
27/01/2023 Criança de 2 anos morre após agressões; mãe e padrasto são presos por homicídio qualificado
No Diário Corumbaense, os comentários feitos são moderados. Observe as seguintes regras antes de expressar sua opinião:
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião deste site. O Diário Corumbaense se reserva o direito de, a qualquer tempo, e a seu exclusivo critério, retirar qualquer comentário que possa ser considerado contrário às regras definidas acima.