Leonardo Cabral em 24 de Outubro de 2022
Diário Corumbaense
Fronteira do lado boliviano está fechada desde sábado
Com o fechamento, o comércio de Corumbá contabiliza os prejuízos, porque os bolivianos é que movimentam as vendas, principalmente nas lojas da região central e supermercados.
“Desde sábado não recebo minhas clientes do atacado por causa da fronteira fechada. Elas estão com mercadorias pagas, não conseguiram vir buscar e fica aqui estocado. Com a fronteira fechada, já houve queda de até 30% nas vendas. A região central ficou parada no fim de semana. Essa situação é ruim pra nós que não vendemos, é ruim para eles que também precisam do produto pra revender”, disse Elizabeth Bento que é proprietária de uma loja de calçados se referindo às compras em quantidade.
Erivelton Moyses Torrico Alencar, chefe da Alfândega da Receita Federal, lembrou ao Diário Corumbaense que 85% das exportações do Centro-Oeste brasileiro saem por Corumbá e esse fechamento impede o fluxo de mercadorias.
“Quando falo de exportação, falo de mercadorias que saem em veículo de carga. Além das exportações, existem as importações que estão sendo afetadas. O que ocorre também é que tem veículos de passeio, os bolivianos vêm até o centro da cidade, nas lojas, supermercados, fazem suas compras desde produtos da cesta básica e eletrodomésticos. Então, esse fechamento, além do fluxo de mercadorias que vão para os grandes centros da Bolívia, impacta também o comércio local, e isso obviamente prejudica os comerciantes da cidade” explicou Erivelton.
Ele ainda salienta que grande parte do trabalho da Receita Federal é aduaneiro. “Depende da fronteira e com ela fechada essa carga de trabalho diminui. Estima-se que cerca de 8 mil veículos de passeio entram e saem por dia e aproximadamente entre 600 a 800 veículos de cargas cruzam a nossa fronteira. Já os que passam por scanner são entre 20 a 30 por dia”, completou.
O protesto
O fechamento da fronteira é uma das “medidas extremas” para pressionar o governo de Luis Arce a realizar o Censo Demográfico em 2023 e não em 2024. O Censo disponibilizará novos dados populacionais "em tempo hábil", sendo possível novo pacto fiscal antes do próximo período eleitoral.
De acordo com lideranças do Paro Cívico, o levantamento precisa ser realizado o quanto antes, pois o Estado de Santa Cruz de La Sierra e outros departamentos são os mais prejudicados, já que o último foi realizado em 2012 e de lá pra cá muita coisa mudou.
Santa Cruz, conforme o ultimo Censo, tinha 2 milhões de habitantes, desde então, essa população cresceu, ainda mais com a migração de pessoas de outras cidades e departamentos da Bolívia, que optaram por viver lá. Como consequência, isso afeta diretamente no repasse de verba pública para investimentos, políticas sociais, que deveriam ser de acordo com o número de pessoas que vivem nos estados.
A Comissão Interinstitucional que promove o recenseamento para 2023 rejeitou a mais recente proposta feita pelo Governo para acabar com o Paro Cívico (greve). Os representantes insistem em um mediador para reiniciar as negociações.
Para os membros do Comitê Interinstitucional, o plano de governo que propõe "uma regra complementar" mantém em vigor o Decreto 4.760, que foi usado para adiar o censo por dois anos. Essa norma indica que o censo ocorrerá em dia indefinido entre maio e junho de 2024 e por isso foi rejeitado.
O impasse gerou conflito entre os que apoiam e são contrários à greve, na noite de sexta-feira (21), em Puerto Quijarro, que faz fronteira com Corumbá. Julio Pablo Taborga, que era funcionário da Prefeitura daquela cidade, acabou morto. Três suspeitos foram presos e transferidos para Santa Cruz de la Sierra.
A fronteira da Bolívia com Corumbá está fechada desde sábado (22). Só a passagem de pedestres é permitida.
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