Leonardo Cabral em 13 de Julho de 2020
Parado a uma distância de 20 quilômetros do limite territorial que separa a Bolívia de Corumbá, o caminhoneiro, Rogério Antônio Bassetto, disse ao Diário Corumbaense, nesta segunda-feira, 13 de julho, que “está se virando como pode”, nos últimos seis dias. Ele e outros caminhoneiros, entre bolivianos e brasileiros, estão “presos” na fila quilométrica de caminhões de cargas causada pelo bloqueio interno na Bolívia, em Puerto Suárez, na estrada Bioceânica.
Rogério, que mora em Corumbá, conta que estava parado a uma distância maior na Bioceânica, mas conseguiu seguir por alguns metros depois que os manifestantes abriram o acesso por duas horas, no domingo (12). As lideranças do bloqueio classificaram como “oxigenação humanitária” a liberação. Porém, após o tempo estipulado, a estrada voltou a ser bloqueada e entra no sexto dia de mobilização.
“Saí de Corumbá para pegar uma carga de silo em Rolândia, no Paraná e de lá segui para a Bolívia, onde descarreguei em Warnes, cidade próxima a Santa Cruz de La Sierra. Isso no dia 06 de julho, e ao retornar, peguei o bloqueio na Bioceânica. A situação é crítica, não temos o que comer, beber e nem tomar banho. Estamos nos virando”, explicou Rogério a este Diário.
Para beber água, Rogério conta que os caminhoneiros buscam água às margens da rodovia, pois não podem entrar nas cidades que beiram a Bioceânica. “Estrangeiro não pode entrar, mas damos um jeito para pelo menos comprar mantimentos”, disse o caminhoneiro que ainda ressaltou: “Não entendo esse bloqueio, pois só o setor de transporte é afetado, só uma classe está sendo prejudicada, vemos aqui carros de passeio passando e até mesmo alguns ônibus de viagem. Além do caos, vivemos o risco de ser contaminados com o coronavírus, pois não existe medida de prevenção e segurança nenhuma”, completa.
Diário Corumbaense Caminhoneiros dizem que são proibidos de entrar em cidades próximas para fazer compras
Da cidade de Barra Bonita, em São Paulo, João Aparecido, que também está na fila de caminhões, disse que há 20 anos enfrenta esse problema. “Sempre pego esses bloqueios e dessa vez está sendo um dos mais longos, vim deixar o mesmo carregamento que os colegas Rogério e Claudemir. Saindo do bloqueio ainda vou aguardar outro carregamento e então, seguir para São Paulo. Essa é a nossa vida, nosso trabalho, espero que termine logo”, falou João.
O bloqueio
O bloqueio interno na Bolívia é por tempo indeterminado. A linha férrea também está bloqueada na fronteira.
A mobilização acontece para chamar a atenção dos governos nacional, departamental e municipal, sobre a situação precária da saúde local, mais precisamente do hospital San Juan de Dios, em Puerto Suárez, o único que atende toda a região. Apesar da infraestrutura física, a unidade de saúde está vazia, sem estrutura alguma para atender os pacientes neste período de pandemia de covid-19 e o hospital mais próximo fica a mais de 600 quilômetros de distância, em Santa Cruz de La Sierra.
Ao Diário Corumbaense, o presidente do Comitê Cívico de Puerto Suárez, Humberto Miglino Rau, reafirmou nesta segunda-feira, que o bloqueio, iniciado na quarta-feira (08), deve continuar, mas que já existe ao menos uma visita dos representantes do governo sendo aguardada.
Diário Corumbaense Caminhões enfileirados na Bioceânica, em Puerto Suárez
O hospital
O hospital San Juan de Dios é classificado pela Serviço Departamental de Saúde (Sedes) como segundo nível. Em cinco anos, não foi realizada nenhuma movimentação para equipá-lo.
Puerto Suárez tem 25.000 habitantes e o hospital San Juan de Dios é um dos pontos de referência na província de German Busch. Atende pacientes de outras cidades como Puerto Quijarro, Roboré e Carmen Rivero Tórrez.
Com a crítica situação do sistema de saúde do lado boliviano, muitos doentes acabam entrando em território brasileiro, por trilhas clandestinas, para buscar atendimento em clínicas particulares e na Santa Casa de Corumbá.
A linha internacional da fronteira entre Brasil e Bolívia está fechada desde março por causa da pandemia do coronavírus. Antes do bloqueio, somente é permitida a passagem de caminhões de cargas nos dois países.
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