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Instituições fazem ação conjunta para levar atendimentos aos moradores em situação de rua

Leonardo Cabral em 27 de Junho de 2019

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Participantes receberam atendimentos odontológicos

“É bom ter pessoas que olham pela gente. Demonstram uma preocupação. Isso é satisfatório”, disse Jackson Leite da Silva, de 25 anos, que vive há seis meses nas ruas de Corumbá. Ele e outras pessoas que vivem em situação de rua, participaram da ação “Dignidade na Rua” realizada na Praça que fica ao lado do Estádio Arthur Marinho nesta quinta-feira (27).

Realizada pela Prefeitura, por meio da Secretaria de Saúde, que coordena o “Consultório na Rua”, a ação aconteceu em parceria com o Ministério Público Federal, Receita Federal, Defensorias Públicas da União e do Estado e Polícia Civil.

De acordo com o secretário municipal de Saúde, Rogério Leite, o programa é voltado diretamente às pessoas que estão em trajeto de rua, moradores de rua ou em processo de readequação de sua vida familiar.

“Quando assumimos a gestão em 2017, esse era um programa do governo federal que o Município fez a adesão e que não estava funcionando. Hoje, a equipe trabalha para dar dignidade de atendimento a essas pessoas, levando Saúde até elas, e dando bem-estar, que é necessário para que elas retomem suas vidas. Temos ainda a participação de outras secretarias e órgãos, para que cada vez mais aumentemos a assistência do poder público, mostrando as ações que eles têm direito enquanto cidadãos”, explicou.

Já a procuradora da República, Maria Olivia Pessoni Junqueira, resumiu a ação em aproximação das instituições em torno da “Dignidade na Rua”. “Muitas vezes as instituições parecem distantes da população que vive em trajetória ou situação de rua, embora tenhamos atendimento ao público sempre. Porém, sabemos que há barreiras que impedem o acesso deles a essas instituições e estarmos aqui para abrirmos as portas e viabilizar o direito deles, isso é fundamental”, declarou a procuradora.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Jackson, que vive nas ruas de Corumbá há seis meses, veio em busca do corte de cabelo e de retirada de documentação

Entendendo o o objetivo do trabalho, Jackson da Silva, chegou todo animado e veio direto em busca do corte de cabelo. “Eu cheguei em Corumbá em dezembro do ano passado e estou aqui até agora. Quando soube da ação, quis logo vir cortar o cabelo e também ver alguns documentos que perdi nesses anos que moro na rua. Essa é uma atenção muito boa, pois apesar de vivermos nas ruas, somos humanos e merecemos algum tipo de atenção e saber que isso nos ajuda ainda mais no dia a dia e permite aumentar a nossa autoestima”, disse ao Diário Corumbaense.

Em meio aos atendimentos, a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, trouxe para os atendidos, por meio do Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh), do Núcleo de Ações Institucionais e Estratégicas (NAE) e da 2ª Regional de Corumbá, esclarecimentos sobre assuntos na área civil e criminal.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Coordenador do NAE, defensor público, Pedro Paulo Gasparini

“Temos como público alvo, pessoas em estado de vulnerabilidade e a participação da Defensoria é aquilo que a gente já faz diariamente a essas pessoas específicas, problemas como documentação, nas áreas civil e penal. Prestamos orientação jurídica necessária para que elas consigam encontrar um caminho para seguir”, salientou o coordenador do NAE, defensor Pedro Paulo Gasparini, que ainda lembrou que em Corumbá, os atendimentos acontecem através de agendamentos. Ele esteve acompanhado também do coordenador do Nudedh, defensor público Mateus Augusto Sutana e Silva.

De olho nos serviços ofertados pela Defensoria Pública, a ex-moradora de rua, Tereza de Jesus Balbueno de Oliveira, falou que veio em busca de informações para sanar dúvidas em dois casos, um sobre violência doméstica, sofrida pelo ex-companheiro e também pela guarda da filha.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Ex-moradora de rua, Tereza de Jesus, quer reconstruir a vida e ter de volta a guarda da filha

“Morei nas ruas por um ano e três meses, me envolvi com drogas, mas graças ao apoio de muitas pessoas consegui me estabelecer e hoje, ajudo, com meu testemunho, pessoas que se encontram nessa situação. Na ação vim em busca de informações sobre processo de violência doméstica e por um fator importante, a guarda da minha filha, que perdi quando morei nas ruas. Quero saber como está, já que as pessoas envolvidas já me visitaram e espero a guarda definitiva da minha filha, agora que estou reconstruindo a minha vida”, revelou Tereza que enfatizou que durante sua passagem pelas ruas e envolvimento com droga, em 15 dias perdeu o que uma pessoa consegue juntar em 35 anos. “A droga nos afunda”, completou a ex-moradora de rua que trava outra batalha: conseguir resgatar seu filho das drogas também.

Todos os participantes tiveram acesso a atendimento médico, odontológico e de enfermagem, imunização, testes laboratoriais, orientações de saúde em geral, orientações sobre o Benefício do Cadastro Único, Assessoria Jurídica e Previdenciária, emissão de documentos, cortes de cabelo, bem como apresentações culturais, que foram ofertados, além dos órgãos já citados, por meio também das Secretarias Especial de Cidadania e Direitos Humanos, Assistência Social, através do Centro POP e da Coordenadoria LGBTI+, com a doação de kits de inverno para os moradores de rua. 

Consultório na Rua

A equipe do programa Consultório na Rua tem em Corumbá, 160 pessoas cadastradas em situação ou trajetória de rua e por se tratar de uma cidade de fronteira, há uma população flutuante e diante disso, são realizados em média de 100 a 120 atendimentos por mês.  

O principal papel do Consultório na Rua é propiciar a essas pessoas assistência na área da Saúde. “A gente leva Saúde até a pessoa que se encontra em trajetória ou situação de rua porque muitas vezes eles não tem acesso, a maioria, por receio e até mesmo preconceito, mas diante disso estamos aqui proporcionando a eles esses atendimentos, seja pessoas em situação de rua, usuários de droga e de  álcool, para que possamos orientá-los e ajudá-los a serem reinseridos na sociedade”, explicou a enfermeira e coordenadora do projeto, Letícia Benites Braga Leite..

“O Consultório na Rua apareceu na minha vida, na hora certa. Graças a eles estou tendo a oportunidade de me recuperar e ter uma assistência humana, tanto na saúde como mental. Isso me dá ainda mais forças para alcançar os meus objetivos e vencer os obstáculos a partir de agora”, relatou em tom de agradecimento, Alcimar Camargo de Oliveira, que viveu nas ruas de Corumbá por cerca de seis anos e, hoje, está em tratamento contra a dependência química.  

Galeria: Consultório na rua

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