PUBLICIDADE

Faltou humildade, senhor presidente

Da Redação em 23 de Março de 2016

Faltou humildade para o presidente da Câmara Municipal de Corumbá na entrevista coletiva concedida por ele na manhã de ontem, 22 de março. Lá perto de encerrar a fala, que justificava os mais de 30 mil reais pagos a uma servidora comissionada em março do ano passado, ele solta a seguinte pérola: “eu tenho meus votos garantidos, independente de jornal, de dono de jornal querer falar mal do vereador Tadeu”.


Voto garantido só no coronelismo

Pois é, disse isso mesmo. Faltou humildade sim, senhor vereador. Voto garantido se tinha na época em que o Brasil vivia um sistema chamado, popularmente, de Coronelismo, lá no final do século 19 e começo do 20. Quando a política era controlada e comandada pelos coronéis, que eram os ricos fazendeiros.


Cabresto e fraudes eleitorais

Esses ricos fazendeiros, chamados de coronéis, aplicavam a prática conhecida como “voto de cabresto”, em que compravam votos para seus candidatos ou trocavam votos por pares de sapatos, óculos, alimentos ou qualquer outro bem. Os coronéis mandavam capangas para os locais de votação, com objetivo de intimidar os eleitores e ganhar votos nas regiões controladas por eles, os currais eleitorais. Sem contar as inúmeras fraudes eleitorais. Nessa época sim, tinha-se voto garantido. Hoje, lamentamos informá-lo que ninguém mais tem voto garantido.


“Vai cheirar mal”

Nessa mesma sequência final da entrevista coletiva, o nobre presidente da Câmara de Corumbá soltou outra pérola para dar prosseguimento ao seu raciocínio lógico: “não vou entrar no mérito também de falar mal do dono do jornal, nem do dono do site. A gente sabe que se for entrar, vai cheirar mal. Eu não sou desse tipo de trabalho”.


Quer todo mundo quietinho

Pois é, novamente. Falou isso mesmo. Um político falar num tom que cause constrangimento pega mal e “cheira mal”, como bem frisou o parlamentar. Fica aquela situação de mandar recados. Algo do tipo, eu sei o que vocês fizeram no verão passado. Então, todo mundo quietinho que fica legal para ambas as partes. Que essa advertência pública fica feia saindo da boca de um presidente de poder público, isso fica.


Decidir a linha editorial

O discurso foi uma sequência de pérolas do presidente. Na verdade retórica e presunção puras. Lá vai mais um trecho: “eu quero que me procure. ‘Tadeu está acontecendo isso, posso divulgar, é verdade?’ Se for verdade, não vai ter problema nenhum”, vociferou. Ele quer definir a linha editorial de rádios, jornais, sites de notícia e TV?


Censura ditatorial

Haja pois é. Ele disse isso. E o que o presidente do Legislativo afirmou preocupa porque reflete o desejo – inconsciente ou consciente mesmo – de censurar a imprensa corumbaense. Ou seja, de querer decidir o que os veículos de comunicação da cidade devem publicar. É uma atitude nada republicana essa. Pensando bem, é uma postura digna de ditadores de países de terceiro mundo.


Lógica do “se for verdade”

Mas, seguindo a lógica do “Se for verdade, não vai ter problema nenhum”, citada pelo presidente da Câmara de Vereadores de Corumbá, este Diário publica na edição de hoje um levantamento dos números que constam no site Brasil Transparente – instrumento legal que objetiva garantir ao cidadão o acesso à informação acerca da gestão do dinheiro público – mostrando que no mês passado, a folha salarial bruta do Legislativo corumbaense superou os 875 mil reais e consumiu mais de 66% do duodécimo mensal daquela casa de leis. Como o levantamento é a mais pura expressão da verdade, “não vai ter problema nenhum”, não é??


Legal, mas imoral

Nos dois textos que tratam deste assunto, nas páginas do Diário de hoje, é informado que a política salarial adotada pelo Legislativo corumbaense encontra amparo legal na lei complementar municipal nº 186, de 10 de fevereiro de 2015. Tudo bem, pode até ser legal, mas num país como o nosso em que o trabalhador assalariado precisa vender o almoço para comprar a janta, essa política salarial não lhe parece imoral??


O bendito trecho da coletiva

Confira a transcrição do trecho da entrevista coletiva do presidente da Câmara de Vereadores de Corumbá, em que ele faz as homéricas citações analisadas por esta coluna: “Eu tenho meus votos garantidos, independente de jornal, de dono de jornal querer falar mal do vereador Tadeu. Não vou entrar no mérito também de falar mal do dono do jornal, nem do dono do site. A gente sabe que se for entrar vai cheirar mal. Eu não sou desse tipo de trabalho. Eu quero que me procure, 'Tadeu está acontecendo isso, posso divulgar, é verdade?' Se for verdade, não vai ter problema nenhum. É o que eu falo sempre na tribuna da Casa. Se tiver algum vereador errado, vai ter que pagar pelo seu erro. Agora, se está todo mundo direitinho, não tem como pagar pelo que não aconteceu”.

Ouça o áudio:

Comentários:

Ulisses yopie: Parabéns ao jornal.. Pelo detalhe..

PUBLICIDADE