PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Forte Coimbra pode se tornar Patrimônio da Humanidade pela Unesco

Lívia Gaertner em 12 de Dezembro de 2017

O território do município de Corumbá, sem sombra de dúvidas exerceu grande poder estratégico dentro da defesa do país, principalmente pela sua localização, o que o levou a ser palco de batalhas históricas, dentre as quais, as fortificações exerciam importante instrumento defensivo.

Distante cerca de 150 quilômetros da área urbana de Corumbá, a região onde a fortificação foi elevada em 1775 e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) 200 anos depois, em 1975, é um dos pontos históricos e turísticos de Corumbá.

“O Forte Coimbra está concorrendo com outras 18 fortificações a receber um título de patrimônio cultural da Humanidade pela Unesco. Fizemos um evento esse ano para justamente discutir de que forma, fazendo a gestão compartilhada entre Exército e os Poderes Público Municipal e Estadual, conduziremos ações de forma ao reconhecimento ser efetivamente concretizado”, explicou Edivânia Freitas de Jésus, chefe do escritório-técnico do Iphan em Corumbá.

“Saiu uma carta na qual a comunidade fez diversas reivindicações e propomos algumas possíveis soluções. Essa carta foi apresentada para o Exército, para a UFMS, a UFGD, o IFMS e para as fundação de Turismo, Meio Ambiente e Cultura para opinarem a respeito e estão analisando. No próximo encontro, trataremos disso porque a comunidade deseja esse reconhecimento, mas tem algumas coisas que precisamos efetivamente discutir”, declarou.

Foto: Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Forte Coimbra foi um dos primeiros bens a serem tombados no Estado no ano de 1975

Resistência

Registros históricos mencionam intervenções de Nossa Senhora do Carmoa para livrar o Exército brasileiro de investidas inimigas. Em 17 de setembro de 1801, quando um Exército espanhol (600 homens, navios e 30 canhões) tinha ordem de ocupar o lugar na disputa pelo território com Portugal, após nove dias de batalha, a vitória espanhola não foi completa graças à santa. Os inimigos bateram em retirada ao verem a imagem de Nossa Senhora na entrada do forte.

Porém, o fato mais conhecido ocorreu durante os embates da Guerra da Tríplice Aliança, quando o Exército paraguaio, que somava três mil e duzentos homens aliados às forças de 41 canhões; 11 navios e farta munição, cercaram o forte em 27 de dezembro de 1864. Em número bem inferior, apenas 149, os brasileiros resistiam sob o comando do tenente-coronel Hermenegildo de Albuquerque Portocarrero e intervenção mística de Nossa Senhora do Carmo, padroeira do local festejada até os dias atuais na comunidade a cada dia 16 de julho.

Parte dessa história é contada pelo escritor corumbaense Augusto César Proença que descreveu o fato ocorrido em 28 de dezembro daquele ano quando dona Ludovina, esposa do comandante, recorreu à ajuda da fé.

"Enquanto as mulheres rezavam em voz alta, tirou do uniforme do marido a faixa que os oficiais usavam como cinta e cingiu com ela a imagem de Nossa Senhora do Carmo, passando para Ela o comando do forte; sim, agora era Ela, a Santa, que iria comandar a guarnição brasileira e dar as ordens! Em seguida, chamou um soldado-músico e pediu que a levasse até às muralhas e a erguesse aos olhos do inimigo. E o soldado, tomado de uma profunda emoção por ter em mãos aquela pesada imagem que tantas graças fizera aos militares da nossa fronteira, ergueu-a o mais que pôde e bradou! Viva Nossa Senhora do Carmo, Viva!...

O repentino aparecimento da Santa causou espanto, admiração, espécie de encantamento aos paraguaios. Houve um instante de indecisão antes que o sentimento religioso abrandasse a brutalidade da luta. - Viva Nossa Senhora do Carmo!... - o soldado continuava a gritar. E brandia a imagem da Santa Padroeira, erguia-a em vários locais daquelas muralhas, clamava pela fé do inimigo, tremulando a Santa nas mãos como uma bandeira de paz.

O poder da Virgem foi tanto que os tiros começaram a cessar e do silêncio que se fez depois brotou a comovente resposta dos paraguaios. Deixaram de lado as baionetas, os fuzis, os canhões e também gritaram, empolgados: "Viva! Viva! Viva Nuestra Señora del Carmem!...Viva!...".

A batalha foi retomada, porém logo chegou a noite interrompendo mais uma vez o confronto. Na manhã do dia seguinte, 29 de dezembro, os paraguaios alcançaram o interior do forte, mas não encontraram nenhum brasileiro que bateu em retirada.

As mulheres e as crianças embarcaram primeiro. Ninguém deixou o posto de vigilância sem que para isso recebesse ordens. Mandou arriar a bandeira segundo as honras militares.

Inspecionou todo o recinto e certificou-se de que não havia mortos nem feridos entre os seus. A imagem de Nossa Senhora do Carmo foi conduzida pelas mãos de um filho de um militar da aldeia. Os índios guaicurus, que auxiliaram os brasileiros nesse episódio, tomaram o rumo das trilhas, embrenharam-se nas matas conhecidas. E, superlotada, a canhoneira brasileira foi se afastando do Forte de Coimbra sem levar um tiro do inimigo que, tudo indicava, estava de vigília naquela noite chuvosa e escura".

PUBLICIDADE