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O Elogio do Pequeno

Por Janir Arruda em 05 de Abril de 2016

Quando encontramos um ombro, um porto seguro, um amor enfim que talvez nunca tenhamos sonhado, ou que simplesmente sempre estivemos esperando percebemos que a vida realmente traz e carrega as suas belezas naturais, e somente os e os apaixonados que a enxergam. Quem não recebe poesia do ser amado deixa de alimentar a alma como ela realmente necessita. Aliás, arrisco a dizer: qual mulher não gosta de flores e de poesia? E quem disse que a noite precisa de estrelas para ser noite?

Certamente me incluo no grupo de mulheres que também entendem ser necessário que estrelas precisem da noite para brilhar ... Manuel de Barros é uma dessas estrelas com o brilho constante Hoje mesmo soltou pipas no céu da minha vida, enquanto escolhia uma poesia para enviar como mensagem ao meu amado. Fui lendo e lendo até sentir ser levada pelo e vento. Momento em que me perdi totalmente na obra do nosso poeta maior. Aquele que quis ser reconhecido como passarinho. Ele partiu, mas não se foi.

E se as palavras são eternas, certamente que o sinônimo de eterno... é poesia. E Manoel de Barros sabiamente afirmava no” Livro sobre nada” - Eu queria ser lido pelas pedras. As palavras me escondem sem cuidado. Aonde eu não estou as palavras me acham. E continuava com a beleza dizendo: A minha diferença é sempre menos. Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria. Não preciso do fim para chegar. Do lugar onde estou já fui embora.

Assim, Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em 1916 em Cuiabá e viveu grande parte de sua infância em Corumbá, em uma propriedade rural, certamente caminhou por estes meandros ladarenses que hoje passeamos a cantarolar. E certamente o poeta desenvolveu um discurso literário que não se mantém na superfície das palavras conscientes nem racionais mas que são muito nossas. Nós que respiramos o ar cultural de Ladário e Corumbá.

Manoel de Barros mergulha nas mais fundas águas da irrealidade das fantasias humanas. Quando criança, apelidado de ‘Nequinho' por sua família, sentia a textura da terra nos pés, de Ladário e Corumbá, brincando e correndo entre personagens que definiriam sua obra, os currais e os objetos que chamavam a atenção do futuro escritor e assim redimensionamos o nosso dia enfocando a relação entre homem e natureza, marcando o território de sua criação como contrário a tudo o que é útil ou racional. Indubitavelmente, Manoel de Barros carregou consigo suas valiosas vivências de infantis de menino, experimentada na singela vida rural pantaneira, e assim próximo ao seu centenário deveríamos além de comemorar a transfiguração do mundo, que corresponde à experiência dos próprios sentidos, mas também valorizar a nossa própria vida dando mais brilho as pequenas coisas que nos encantam como o amor e a poesia, assim como Manoel de Barros nos ensinou.

*Janir Arruda é assessora executiva

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