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Corumbá celebra um ano de reconhecimento do Banho de São João como Patrimônio Imaterial do Brasil

Leonardo Cabral em 19 de Maio de 2022

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

Antes da descida do cortejo, houve rápida celebração na Catedral

Há um ano, o Banho de São João de Corumbá e Ladário foi reconhecido como Patrimônio Imaterial do Brasil. A aprovação unânime do registro aconteceu no dia 19 de maio de 2021, durante a 95ª Reunião do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

E para celebrar a conquista, a Prefeitura, por meio da Fundação da Cultura e Patrimônio Histórico do Pantanal e o Iphan realizaram um cortejo, com andores de São João Batista, uma prévia do que vai ser a festa na noite de 23 para 24 de junho, após dois anos sem a grande celebração por causa da pandemia da covid-19.

O prefeito Marcelo Iunes; o diretor-presidente da Fundação da Cultura, Joílson da Cruz e o chefe do escritório II do Iphan/MS, Cléber Ribeiro Dias, participaram do ato junto alguns festeiros que mantêm viva a tradição na região pantaneira.

“Depois da pandemia, voltamos a fazer o Banho de São João. Mas, esse ano, é uma festa especial, pois é a primeira com o título de Patrimônio Imaterial do Brasil. É tradicional em nossa cidade, a quinta maior do Brasil e a única que mantém a tradição de banhar o santo nas águas do rio, em todo o País. Agora, com esse título, a responsabilidade ficou maior ainda. Corumbá é o berço da cultura do Estado e se duvidar é o berço da cultura do centro-oeste brasileiro. É uma festa que mexe com a devoção”, falou o prefeito.

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

Prefeito falou sobre o empenho e responsabilidade que aumentaram após o reconhecimento

Ele lembrou que a festa, depois do carnaval, é a manifestação popular que também gera renda para as famílias. "São mais de 5 mil turistas que participam do banho de São João. Teremos esse ano shows de Rick e Renner, uma banda do Nordeste e de artistas regionais. É sim uma grande festa, onde a responsabilidade é a mesma, mas com empenho maior para fazermos crescer ainda mais essa tradição”, explicou o prefeito se referindo pelo título de Patrimônio Imaterial do Brasil.

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

Cleber Ribeiro Dias, chefe do escritório II do Iphan/MS, destacou que o registro vale por dez anos

“A festa tem importância nacional. O registro institucionalizou o que abrange a manifestação. Aqui, católicos, membros da umbanda e do candomblé, todos se unem pela fé. Esse sentimento acaba sendo forte em diferentes manifestações. Daqui pra frente, o registro dura 10 anos, nesse tempo vamos observar, para que após esse período, o registro seja revalidado. Vamos acompanhar os festeiros e fazemos disso, um cunho para projetos patrimoniais”, disse Cleber Ribeiro, do Iphan.

Já Joílson Silva da Cruz, diretor-presidente da Fundação de Cultura de Corumbá, falou da grande importância da celebração desse um ano de Patrimônio Imaterial do Brasil. 

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

É importante celebrar essa conquista para todo o Estado, destacou Joílson

“É importante celebrar essa conquista, não só para a cidade, mas para todo o Estado, esperamos durante anos por esse reconhecimento. Então, tem uma importância relevante, é a nossa história, tradição que é mantida e preservada mais do que nunca. Um registro como esse, após tantos estudos, pesquisas, quando saiu, só marcou a trajetória de todos que colaboraram para esse registro. Daqui pra frente segue o trabalho de pesquisa junto aos festeiros para preservar a tradição e manter a chama viva, que é a descida dos andores até o rio Paraguai para banhar o santo”, frisou.

Representando Ladário, o diretor-presidente da Fundação de Cultura, Cleber Miranda, falou também da importância da festa. "A religiosidade se mistura à animação e ao calor humano do povo. O tombamento pelo Iphan é o reconhecimento de uma rica história passada em gerações de famílias e das cidades irmãs que ajudam a construir a rica cultura do Mato Grosso do Sul", ressaltou.

O cortejo

O padre, Júlio César Silva Mônaco, pároco da Catedral Nossa Senhora da Candelária, de onde saiu o cortejo, fez uma rápida celebração antes da descida do cortejo. Após as bênçãos aos andores, todos saíram em direção ao Porto Geral, descendo a Ladeira Cunha e Cruz, com destino ao escritório do Iphan, embalados pelo tradicional canto: “Se São João soubesse que hoje era seu dia, descia do céu a terra com prazer e alegria...”.

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

Cortejo com os andores descendo a Ladeira Cunha e Cruz

Bastante emocionadas e felizes com o momento, as festeiras Eliane Yovio e Audenice Galdino, disseram que o título reforça ainda mais o compromisso de manter a tradição.  

“Essa tradição da festa vem de família, da época do meu avô. Fez por sete anos e depois que se cumpriu, o que era uma promessa virou tradição. Ele faleceu, minha avó com minha mãe deram continuidade. Mas há 11 anos, com a partida da minha mãe, tomei a frente e nos últimos quatro anos, estou com a minha comadre, Audenice. São cerca de 65 anos mantendo viva essa tradição e espero que meus filhos possam seguir, já pedi isso a eles”, mencionou Eliane ao Diário Corumbaense.

Um dos mais tradicionais festeiros de Corumbá. Alfredo Ferraz, que foi com parte de sua comunidade participar da comemoração, relembrou a saudosa Helô Urt, ativista cultural que faleceu em 2011.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Ponto alto da festa é na noite de 23 para 24 de junho na prainha do Porto Geral

“Para nós, esse título foi uma grande vitória e algo que esperávamos há tanto tempo. Era um sonho de Helô Urt, que tanto lutou. Por isso é muito especial. Temos a expectativa de uma grande festa, com muita alegria, gratidão e fé. Temos aqui, uma festa mágica e envolvedora que é o Banho de São João”, destacou Alfredo.

O reconhecimento

O pedido inicial foi realizado em 2010 pela Prefeitura de Corumbá, por meio da então Fundação de Cultura e Turismo do Pantanal, e a partir daí, uma série de estudos, pesquisas, festejos, interações, entrevistas, coleta de materiais e cooperação geral, envolvendo o próprio Iphan, Prefeitura, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Conselho Municipal de Políticas Culturais, entre outros.

Os primeiros registros do Banho de São João em Corumbá e Ladário são datados do final do século XIX em jornais da época que já relatavam a forma singular dos festejos juninos nas duas cidades pantaneiras. Estudiosos afirmam que os festejos reúnem uma miscelânea de influências de povos, entre eles, os árabes e portugueses. Também marcam os festejos, o sincretismo religioso, sobretudo entre o catolicismo e as religiões de matrizes africanas.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Festeiros mantêm tradição secular, passando por gerações de dezenas de famílias

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