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Soap operas

Coluna English Corner, com Regina Baruki (*) e Naudir Carvalho (*) em 25 de Setembro de 2020

Na língua inglesa, chamamos de soap operas as produções serializadas, exibidas diariamente, por meio televisivo. O nome lembra a dramaticidade das óperas, devido aos arquétipos e ao melodrama, evidentes na maioria das tramas. E faz também alusão ao sabão (soap) porque, inicialmente, as novelas de TV tinham o intuito de servir como vitrine para os produtos dos patrocinadores – um dos maiores dos quais era uma empresa de sabão. Para abreviar, ouvimos, às vezes, referência ao gênero como soap(s).

Na língua portuguesa, o termo traduz-se por telenovela. A nossa forma de produzir o gênero televisivo difere de muitos países – aproxima-se, muitas vezes, dos dramalhões mexicanos ou dos doramas sul-coreanos, com histórias fechadas, que acabam sendo refeitas para um novo público. Para se ter uma ideia da audiência, a soap opera Days of our Lives, por exemplo, está no ar nos Estados Unidos desde 1965, é exibida diariamente e já soma mais de 13.900 capítulos. Ainda que não seja o principal produto consumido pelos americanos – isso fica por conta dos seriados semanais –, é um tipo de produto que perdura por várias décadas, passando por trocas de elenco e adaptações ao público. Além dos seriados, temos visto, recentemente, uma mudança de paradigma, com os lançamentos em streaming.

No Brasil, raramente há novelas que duram mais que 300 capítulos. Todavia, é o nosso produto televisivo de maior relevância, com impacto claramente perceptível na moda, em cortes de cabelo, na adoção de bordões e no sucesso de trilhas sonoras.

Até mesmo bordões em inglês já foram adotados em nosso país, por influência de novelas. Em A Indomada, de 1997, de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares, a vilã Maria Altiva foi apresentada ao público brasileiro. Eva Wilma encarnava uma figura caricata, que adotava termos em inglês para infernizar a vida dos moradores do fictício condado anglo-brasileiro Greenville – com pérolas como “Oxente, my God!”. Outros exemplos: “Agora, now!”; “How dare you? Quanta petulância!”; “Meninas, come on! Follow me!”. Em sua despedida, Maria Altiva saiu de cena com “I’ll back!”...

Em termos de trilha sonora em inglês, em Laços de Família, de 2000, escrita por Manoel Carlos e colaboradores, assistimos à clássica cena em que a personagem de Carolina Dieckmann precisa cortar o cabelo devido ao tratamento de uma doença. A cena foi embalada pela música Love by Grace, da cantora belga Lara Fabian. Curiosamente, o Brasil foi um dos únicos países em que a música se tornou um fenômeno e é reconhecida, até hoje, por ter sido o fundo musical da cena que, à época, marcou números expressivos no IBOPE. Muitas outras músicas internacionais embalaram casais e ficaram famosas.

Um exemplo marcante da cultura estadunidense foi a novela América, de Glória Pérez, que procurou abordar assuntos como imigração ilegal e desigualdade social. Os cenários eram as cidades de Miami, Rio de Janeiro e a fictícia Boiadeiros. Em sua abordagem, a autora imprimiu uma curiosa disparidade de tons: cenas que passavam do inglês para o português e, em seguida, para o espanhol. As músicas alternavam entre a bossa nova e o country, o sertanejo e a música hispânica.

Por meio das novelas, a televisão traz ao público uma experiência que favorece um escapismo diário, um assunto a se discutir e uma nova visão de um mundo mais vasto.


(*) Regina Baruki-Fonseca é professora do Curso de Letras do CPAN. Tem Mestrado em Língua Inglesa pela UFRJ e Doutorado em Educação pela UFMS. 

(*) Naudir Ney Carvalho da Silva é acadêmico do Curso de Letras Português/Inglês do CPAN.