Fonte: Campo Grande News em 13 de Fevereiro de 2020
O jornalista Lourenço Veras, o Léo Veras, foi executado a tiros na noite desta quarta-feira (12), enquanto jantava com a família em uma residência do Jardim Aurora, em Pedro Juan Caballero. Três homens encapuzados invadiram o local e alvejaram a vítima. O trio fugiu em um veículo Jeep modelo Cherokee branco. O tiros seriam de pistola calibre 9 milímetros e de fuzil. Léo Veras foi encaminhado ao hospital Viva a Vida, mas não resistiu.
O jornalista já havia denunciado à polícia as ameaças de morte que teria sofrido, devido ao seu trabalho cobrindo investigações e o narcotráfico na fronteira de Mato Grosso do Sul. Segundo o Sindicato dos Jornalistas do Paraguai, Veras foi o 19º jornalista executado no país.
Léo Veras era dono do site Porã News, que fica em Ponta Porã (MS), cidade brasileira vizinha a Pedro Juan Cabellero, e é um dos principais jornais policiais da fronteira. Em 2013, até a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) repercutiu denúncias do profissional. À época, Léo Veras recebeu em seu celular mensagens de texto que diziam que ele era o primeiro de um “lista negra” de pessoas que seriam assassinadas na região.
As mensagens seriam uma retaliação contra a publicação de matérias detalhando o trabalho de autoridades que investigam o narcotráfico. Naquele ano, a polícia paraguaia informou que Veras era a quinta pessoa a receber ameaças do mesmo número de celular. “Vou continuar fazendo o meu trabalho como eu faço todos os dias. Não existe ameaça que me impossibilite. Não vou me trancar em casa por causa disso”, publicou a ABI sobre a posição do jornalista.
Mais recentemente, conforme o Sindjor-MS (Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul), Veras teria dado um depoimento em reportagem especial da Rede Record sobre a violência na fronteira. Em nota, o sindicato lamentou a morte do profissional e se disse solidário com a família, amigos e colegas. “Mais uma vítima dos ataques contra os trabalhadores da comunicação, nestes tristes tempos de cerceamento da liberdade de expressão, Léo Veras merece mais do que condolências”, diz o sindicato.
O Sindjor-MS também cobrou uma investigação severa sobre o caso, bem como o sindicato que representa a categoria no Paraguai. “A dor e a raiva nos invadem novamente diante do décimo nono colega assassinado no nosso país. Vemos que mais uma vez os grupos criminosos tentam apagar a voz dos jornalistas através das balas e da violência, perante a cumplicidade de um estado totalmente dominado pela máfia e pela narcopolítica”, registrou a entidade do país vizinho.
Estava tenso nos últimos dias
O promotor de Justiça Marco Amarilla, responsável pelas investigações sobre a execução, afirmou ao jornal ABC Color que conversou ontem à noite com a mulher de Léo Veras e com o sogro dele, também presente na casa quando os pistoleiros encapuzados invadiram o local para matar o jornalista.
Segundo Amarilla, embora não tenha confirmado ameaças recentes ao marido, ela disse que ele estava preocupado, tenso, e se despediu da família nos últimos dias, como se já soubesse que seria morto. “Uns dias antes estava muito tenso, nervoso, calado, praticamente se despediu da esposa, da família”, afirmou o promotor.
Marco Amarilla disse que o celular e o computador do jornalista foram apreendidos, para serem periciados. A intenção é descobrir as supostas ameaças e tentar identificar os autores.
Lourenço Veras era brasiguaio, como são chamadas as pessoas com dupla nacionalidade na fronteira do Brasil com o Paraguai.
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