Leonardo Cabral em 11 de Março de 2019
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Manifestantes saíram às ruas pedindo respeito às mulheres
O caso chocou a população e muita gente vestiu a cor preta, em sinal de luto, para pedir respeito e mais rigor do Judiciário em relação aos autores de feminicídio.
As manifestações tiveram início logo cedo na rua Quinze de Novembro, esquina com a Dom Aquino, mobilizada pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, por meio da Coordenadoria de Políticas Públicas para as Mulheres. Neste ponto de encontro, os manifestantes saíram em direção ao Cemitério Santa Cruz, se encontrando com outro grupo, integrado por servidores da educação, com apoio de mulheres e outros órgãos. Depois, a mobilização chegou ao Fórum de Corumbá e por último na Delegacia de Polícia Civil.
“É um cenário triste, a violência, parece que ressurge de forma avassaladora. No caso da Nádia, o autor não deu chance de defesa, se mostrando violento, possessivo, premeditando o que de iria fazer. Os juízes que são detentores das Leis, que tomem providências. Existe uma Lei (Maria da Penha) que é considerada a terceira melhor do mundo e ela não está sendo cumprida, que todos os órgãos onde uma mulher vá pedir ajuda, que ela seja respeitada, que seja ouvida, se ela for na Polícia por vinte vezes, ela tem que ser atendida de forma humana. Quem sabe o que ela sofre em quatro paredes?. Temos que ser mais humanos, aprender a ouvir, não naturalizar a violência”, disse ao Diário Corumbaense a coordenadora de Políticas Públicas para as Mulheres em Corumbá, Wania Alecrim.
Ainda conforme ela, com a morte da professora, a primeira de 2019, em Corumbá, desde o ano passado, já são três casos de feminicídio, e mais um em Ladário. “Este cenário tem que mudar imediatamente. União das forças e depois desse episódio triste talvez quem tem o poder de decisão nos ouça de verdade, que não fiquem achando que isso é 'mimimi' de mulher, isso é sério. O Brasil está em quinto lugar no ranking de violência contra a mulher, o Mato Grosso do Sul, aparece como o terceiro estado em feminicídio e Corumbá começou a despontar porque não temos atitudes concretas”, afirmou Wania que garante que os trabalhos da coordenadoria o qual está à frente, serão ainda mais frisados de foram estratégica. “Para combater a violência contra a mulher é necessário o envolvimento de todos, incluindo juízes, promotores e defensores públicos. Quando a gente fala de uma rede forte é quando chega o final do mês e na reunião o qual solicitamos, que todos possam estar e não mandar representante que não tem voz e nem poder de decisão. A nossa rede vai ser pensada em cima daquilo de quem tem o poder de decisão para que coloque as estratégias de enfrentamento de verdade”, falou.
Anderson Gallo/Diário Corumbaense Manifestação percorreu principais ruas do Centro de Corumbá e chegou ao Fórum de Corumbá
A diretora da escola Municipal Pedro Paulo de Medeiros, Tânia Maria da Costa Guimarães, colégio onde Nádia trabalhava, contou a este Diário, que ela já havia sofrido violência por parte de Edevaldo. “Uns três meses atrás, ela contou que em uma discussão, ele teria jogado o celular dela no chão e quebrado e por esse motivo não queria mais manter relacionamento com ele. Nós perdemos uma amiga, uma mulher, uma mãe e uma profissional incrível, que amava o que fazia. Nádia morreu porque pedia respeito a ela. Sua vida foi tirada no dia do aniversário, quando completou seus 38 anos. Trabalhávamos há 10 anos juntas”, lembrou revoltada a diretora.
A primeira-dama e secretária especial de Direitos Humanos, Amanda Balancieri Iunes, disse que é preciso mais união de todos para combater este tipo de crime. “Nós mulheres temos que nos unir e não admitir mais este tipo de violência. Não adianta meia dúzia se unir aqui se a sociedade não ajudar. 'EU Meto Colher' sim. As políticas públicas estão chegando até as mulheres e elas estão se encorajando em denunciar. A Lei Maria da Penha que seja cumprida, tem que ser eficaz e vamos buscar forças dos nossos deputados eleitos, junto ao Congresso, para que essas leis sejam colocadas em prática. Não vai ser uma medida protetiva que vai salvar uma vida. É preciso muito mais rigor”, pediu Amanda.
Números em Corumbá
No discurso dos manifestantes, um pedido foi defendido. A instalação de uma Vara Criminal de Combate à Violência contra a mulher. O secretário Especial de Segurança Pública e Defesa Social, tenente-coronel da Polícia Militar, César Freitas Duarte, foi um dos que defenderam a ideia e revelou que em Corumbá, dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apontam o Município como um dos que registram altos índices de violência contra a mulher.
“Diante desses números, defendemos a instalação dessa Vara Criminal, que seria uma ferramenta importante para reunir esforços e combater esse crime gravíssimo. Corumbá não pode continuar com esses números de violência contra a mulher. É necessário atitudes”, reforçou Freitas.
Colocando a Câmara Municipal à disposição da população e principalmente das mulheres, o presidente do Legislativo, Roberto Façanha, reforçou a necessidade de atitudes práticas. “Na última sessão solene destacamos as políticas públicas para as mulheres que vêm ganhando força. Todas as políticas públicas em defesa das mulheres e contra a violência, vamos aprovar. Temos que mudar com urgência o atendimento às mulheres quando elas pedem ajuda. Temos que ter mulheres atendendo mulheres”, afirmou.
Só em 2018, Corumbá registrou 896 boletins de ocorrências referentes à violência doméstica contra mulheres. Até o dia 25 de fevereiro de 2019, foram 126 registros.
Os casos
O penúltimo caso registrado em Corumbá e que tomou grande repercussão foi o de uma jovem, moradora do bairro Aeroporto, que foi agredida pelo ex-companheiro. Ela teve afundamento de crânio, devido a uma pedrada, foi esfaqueada no abdômen e devido aos ferimentos, precisará fazer cirurgia para reconstrução da face.
Uma semana depois, a professora Nádia Sol Neves Rondon, de 38 anos, foi morta a facadas pelo ex-companheiro, Edevaldo Costa Leite, de 31 anos, que não aceitava a separação. Ele assassinou a professora com 36 golpes de faca, que atingiram as costas, tórax, rosto e braços da vítima. Ele ainda teria arrastado a mulher pelos cabelos. Os bombeiros foram chamados, prestaram o atendimento emergencial e depois a removeram para o pronto-socorro. Em seguida, a professora foi encaminhada para o centro cirúrgico da Santa Casa de Corumbá, mas não resistiu.
O corpo da professora Nádia foi velado por algumas horas na noite de domingo em Corumbá, e depois foi levado para Campo Grande, onde a família dela mora, para o sepultamento.
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André Marcelo Cunha Garcia: No estado do Mato Grosso do Sul, são 6 homicídios em cada 100 mil mulheres. "A tolerância do Estado acompanha e promove a violência contra a mulher". Ou seja, falta ação dos Governos Municipal e do Governo do estado para que os números de homicídios contra mulheres e violência doméstica diminuam.
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