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Laudo da Embrapa prevê cheia rigorosa e recomenda retirada de gado de propriedades

Lívia Gaertner em 28 de Março de 2018

No bioma que movimenta a ida conforme ciclos de secas e cheias, estudos como os divulgados pela Embrapa Pantanal são de fundamental importância para os moradores e para a principal atividade econômica desenvolvida nas regiões pantaneiras: a pecuária. Laudo técnico entregue esta semana ao Sindicato Rural de Corumbá recomenda a total retirada dos rebanhos bovinos de fazendas do baixo Pantanal, nas sub-regiões do Abobral (Miranda, Negro, Aquidauana), Nabileque (incluindo o Jacadigo) e Paraguai (entre as morrarias do Amolar e Urucum), em função da cheia deste ano. Nas propriedades de outras regiões, a recomendação é que até metade dos rebanhos seja deslocada para áreas mais altas.

A conclusão veio de análises realizadas por meio de uma comissão nomeada pelo chefe-geral da Embrapa Pantanal, Jorge Lara, constituída pelos pesquisadores Carlos Padovani, Urbano Gomes, Ivan Bergier e coordenada pelo também pesquisador José Aníbal Comastri. “Nós buscamos mostrar o fluxo e a dinâmica das águas acumuladas das chuvas, como elas escoam no Pantanal, que regiões estão inundadas”, explica Lara.

Fotos: Sílvio Andrade

Laudo técnico recomenda a total retirada dos rebanhos bovinos de fazendas do baixo Pantanal

No bioma, algumas propriedades são afetadas apenas pelas enchentes que sofrem a influência das chuvas; outras sofrem também os efeitos das cheias influenciadas pelo nível dos rios. De acordo com as informações do documento emitido pela instituição, a inundação deste ano atingiu uma área total de cerca de 40 mil km² até o mês de fevereiro. As áreas do médio e baixo Pantanal são as mais sujeitas aos impactos das grandes enchentes.

As águas das chuvas de verão registradas entre os meses de outubro e março regulam a dinâmica hidrológica no bioma. Por isso, quando essas chuvas são volumosas, espera-se um alagamento relativo maior e mais duradouro, cita a publicação elaborada pela unidade de pesquisa. Dessa forma, a régua de Ladário no rio Paraguai deve atingir de 4,81 a 5,78 metros em 2018, com estimativa de área de inundação entre 71 e 90 mil km² em toda a planície pantaneira. Nesta quarta-feira, 28 de março, a régua que mede a altura do rio Paraguai, em Ladário, marcou 4 metros e 25 centímetros, um aumento de 2 centímetros em relação ao dia anterior.

“Vai afetar justamente uma região onde algumas propriedades praticam cria e outras a engorda de animais”, esclarece Comastri. “É um solo extremamente argiloso que, na época das águas, fica como se fosse uma esponja, uma cola. Neste período, os bezerros mais novos ficam vulneráveis e podem morrer se o rebanho não for retirado com antecedência”. A enchente deve, ainda, apresentar um hidroperíodo (época em que a água cobre o solo) longo, de 170 dias em média. A inundação de 2018 pode ser classificada como rigorosa - porém, o documento ressalta que as cheias entre 5 e 5,5 metros representam a categoria mais comum ou frequente de cheias do Pantanal, considerando dados registrados de 1900 até hoje.

Até fevereiro, inundação atingiu uma área total de cerca de 40 mil km²

Impactos na pecuária

Segundo o presidente do Sindicato Rural de Corumbá, Luciano Leite, os efeitos da inundação deste ano devem ser sentidos nas propriedades rurais até 2019 por sua influência no score corporal das vacas de cria. “Esses animais, por serem retirados dessas áreas mais baixas, vão diminuir seu score corporal. Consequentemente, vão diminuir a produção de bezerros de maio de 2019 (da próxima estação de parição) ”.

O laudo técnico descreve que existem mais de 2 milhões e 300 mil cabeças de gado na região do baixo Pantanal. Com a falta de logística adequada para a movimentação dos rebanhos, o custo total do deslocamento dos animais por meio de comitivas até os pontos de embarque deve ficar em torno de R$ 5 milhões. As recomendações finais da publicação incluem planejar o arrendamento de pastagens ou a venda dos animais para minimizar os prejuízos, priorizar a saída de vacas com cria ao pé e oferecer suporte de transporte aos bezerros com tratores ou carretas.

“Esse laudo técnico da Embrapa Pantanal serve para a gente como uma forma de embasar o pedido de estado de emergência no município de Corumbá e a prorrogação de vacinação (do rebanho), que começa no dia primeiro de maio na região do Mato Grosso do Sul”, afirma Luciano. Para o presidente do Sindicato, a falta de logística para levar as vacinas até as propriedades e as dificuldades de se trabalhar com os animais nos mangueiros durante esse período impedem o cumprimento do calendário de vacinação na região do Pantanal. “Nessa época, de primeiro de maio a 15 de junho, vamos passar pelo pico da inundação nas nossas regiões”.

De acordo com o presidente do Sindicato, o documento elaborado pela Embrapa Pantanal deverá ser encaminhado à Prefeitura Municipal de Corumbá, ao Governo Estadual de MS e à Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul para oferecer embasamento técnico para as tomadas de decisão relacionadas ao calendário de vacinação na região pantaneira. O laudo também deverá embasar uma solicitação dos produtores do Pantanal sobre mudanças no programa de retenção de novilhas do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO) junto ao Conselho Deliberativo do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Condel/Sudeco), responsável pelo fundo na planície pantaneira. As informações são da assessoria de imprensa da Embrapa Pantanal.

 

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