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Cão dá exemplo e acompanha "amigo" que está em tratamento no Centro de Oncologia

Ricardo Albertoni em 13 de Março de 2018

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Segundo Roberto, o animal o acompanha em todos os lugares e por causa dele, que tem a entrada proibida em ônibus e táxi, precisa ir a pé seja qual for o destino

Ele não pode entrar por motivos óbvios, afinal, trata-se da Unacon (Unidade de Alta Complexidade em Oncologia de Corumbá). Mas não tem problema porque ele aguarda sem cerimônia do lado de fora. Em dia de sol ou chuva, ele espera sentado ou deitado o tempo que for preciso até que o amigo termine o tratamento. A atitude de “Pingo”, o cachorrinho que escolheu o pintor e marceneiro Roberto  Ferreira da Silva como dono, chamou a atenção da voluntária da Rede Feminina de Combate ao Câncer, Luciana Cândia.

No último dia 26 de fevereiro, Luciana fez uma postagem em seu perfil em rede social contando  a história do pequeno “vira-lata” que dá exemplo de amizade acompanhando seu “parceiro” em todos os lugares, inclusive durante as sessões de quimioterapia que Roberto realiza para tratar um câncer na garganta, diagnosticado há 3 meses.

No post, a voluntária faz um desabafo sobre a ausência de muitos cuidadores/familiares durante o tratamento dos pacientes e destaca o exemplo dado pelo cãozinho que acompanha o amigo em todos os lugares, inclusive semanalmente na sede da Rede, onde Roberto recebe atendimento de profissionais e auxílio através das cestas básicas doadas aos pacientes em tratamento oncológico.

Ao contrário do que parece, “Pingo” não é de Roberto. O animal tem casa, donos, mas, assim que se conheceram, há cerca de um ano, ele “escolheu” viver a maior parte do tempo ao lado do amigo. Segundo Roberto, o animal o acompanha em todos os lugares e por causa dele, que tem a entrada proibida em ônibus e táxi, precisa ir a pé seja qual for o destino. E não adianta mandar voltar, porque segundo ele,  “Pingo” até faz a volta, mas na quadra.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Em dia de sol ou chuva, "Pingo" espera o tempo que for preciso até que Roberto termine a sessão de quimioterapia

“Já tem mais de um ano que estou com ele. Dou alimentação, vou vaciná-lo... acho que já dá pra considerar como se fosse meu. Olha a situação desse cara, desse 'malinha'”, disse Roberto apontando para o amigo que também acompanhou a entrevista atentamente. “Até falo pra ele voltar, mas ele dá a volta na quadra e me espera lá na frente”, contou ao Diário Corumbaense.

O cachorro é tão apegado ao amigo, que já chegou a caminhar mais de três quilômetros junto com Roberto que precisava realizar um trabalho de pintura em Ladário. Também teve que ser segurado na última vez que o dono passou mal e precisou ir para o pronto-socorro na ambulância.

“Moro no Popular Velha, em um cômodo que um rapaz me cedeu após ter feito uns trabalhos para ele e pra ter uma ideia, uma vez ele foi comigo de lá até o porto de Ladário. Falei pra ele voltar, iria de ônibus, mas ele não me obedeceu, então fomos embora a pé. Peguei a Rio Branco e saímos lá no Porto. Fiz o serviço de pintura em um caminhão, almoçamos por lá mesmo e o rapaz do caminhão deu uma carona pra gente na volta. Na outra vez, passei mal em casa e tive que vir para o pronto-socorro. Chamaram a ambulância e ele queria vir junto. Tiveram que segurar ele para que a ambulância saísse”, lembrou o pintor.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Na saída das sessões, Roberto é recebido aos pulos pelo companheiro

Para Roberto, a companhia do amigo tem ajudado principalmente na questão psicológica. A relação, de muita parceria, segundo ele é revigorante e um dos momentos mais emocionantes é na saída das sessões, quando é recebido aos pulos pelo companheiro.

“Quem não gosta de carinho, de ser bem tratado?. Acho que se você der atenção, amor para as pessoas, para os animais, eles retribuem. Ele me distrai, é uma terapia pra mim, ajuda no psicológico nesse momento. Mas tem hora que eu também o ajudo, livrando ele de cada cachorrão na rua. Acho que amizade é isso, um ajuda o outro”, descreveu Roberto.

Apoio é fundamental durante o tratamento

Ao contrário do pintor Roberto Ferreira, que tem o “Pingo” que ajuda a distraí-lo durante os momentos de dificuldade, muitos pacientes não contam com o apoio de amigos e principalmente da família durante o tratamento oncológico.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

A voluntária Luciana Cândia explicou que não é difícil encontrar histórias de abandono ou mesmo observar a ausência da família durante o tratamento oncológico

A este Diário, Luciana Cândia explicou que não é difícil encontrar histórias de abandono ou mesmo observar a ausência da família durante os momentos em que os pacientes mais precisam de companhia, o que é fundamental no processo de recuperação. A voluntária ressaltou que em muitas oportunidades, as dificuldades de superar o passado faz com que até mesmo os próprios filhos abandonem os pais durante a luta pela vida.

“Infelizmente temos muitos casos de familiares que abandonam, que dificultam, não vêm, acham difícil cuidar em casa. Temos denúncia de vizinhos informando que às vezes os familiares deixam os pacientes sozinhos na residência. Muitos têm três, quatro filhos, mas sempre tem uma desculpa. Muitas vezes, as pessoas abandonam por causa do passado, que a pessoa foi isso, foi aquilo, às vezes o pai não deu atenção para o filho, mas e aí? Nós somos humanos e temos que entender que esse apoio é um ato de amor que estamos fazendo pelo nosso próximo. A hora de julgar acabou”, frisou Luciana.

Pingo

A Rede Feminina é uma entidade sem fins lucrativos que apoia cerca de 160 pessoas oferecendo atendimento realizado por voluntários nas áreas de fisioterapia, psicologia e nutrição. Além de doações de cestas básicas e cestas de frutas, também são fornecidos pela instituição suplementos e fraldas geriátricas semanalmente a pacientes, gerando um custo mensal de aproximadamente R$ 8 mil (apenas com esse tipo de atendimento).

Embora a história de “Pingo” sirva como um exemplo de como o apoio e a amizade pode ajudar o paciente oncológico durante o tratamento, a Rede não tem como ajudar Roberto com os gastos que ele tem com o animal. No entanto, quem estiver interessado em contribuir com ração, ou atendimento veterinário, basta ir até a sede da instituição localizada na rua 15 de Novembro, entre as ruas Cabral e Joaquim Murtinho. Os telefones de contato são (67) 3231-3057 e 9 9959-0849 (presidente Sabina Acosta).

Para atender os pacientes, a Rede conta com poucos parceiros que colaboram com auxílio mensal no valor de 100 reais, além de outros serviços como fornecimento de combustível, frutas e cestas básicas. A entidade está aberta à pessoas que desejam conhecer o trabalho da entidade.

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