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Mulheres corumbaenses que marcaram nome no país

Lívia Gaertner em 08 de Março de 2018

No Dia Internacional da Mulher, o Diário Corumbaense conta a trajetória de vida de três mulheres corumbaenses que marcaram época e se tornaram referência em suas áreas de atuação. O nome delas configura em todo território nacional como mulheres fortes, competentes e inspiradoras. Você as conhece? Na Arquitetura, Carmem Portinho; na Botânica, Graziela Maciel Barroso; e nas Artes Plásticas, Wega Nery.

Reprodução

Wega Nery, Carmem Portinho e Graziela Barroso

Carmem Portinho

Filha de uma boliviana, Maria Velasco, e de um gaúcho, Francisco Sértório Portinho, Carmem Portinho nasceu em Corumbá no dia 26 de janeiro de 1903. Ainda criança mudou com os pais para o Rio de Janeiro.

Junto a Bertha Lutz, em 1919, organizou o movimento sufragista, colaborando na fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, onde atuou como tesoureira e 1ª vice-presidente. Na defesa do direito das mulheres ao voto, Carmen e outras companheiras chegaram a sobrevoar o Rio de Janeiro, na década de 1920, lançando panfletos sobre a reivindicação. Aconselhava as mulheres que não mudassem o nome ao se casar, em atitude de independência e resistência. Ela mesma não adotou o nome do marido, o arquiteto Affonso Eduardo Reidy.

Em 1926, formou-se na engenharia civil, pela Escola Politécnica da Universidade do Brasil. Foi a terceira mulher a se formar engenheira no país. No mesmo ano, ingressou na prefeitura do Distrito Federal (então Rio de Janeiro), na diretoria de Obras e Viação. Em 1936, ingressou na Universidade do Distrito Federal no curso de urbanismo, de pós-graduação.

Em 1939, foi a primeira mulher no Brasil a obter o título de urbanista. Após a formação, recebeu uma bolsa do Conselho Britânico para estagiar junto às comissões de reconstrução e remodelação das cidades inglesas destruídas pela guerra. A viagem durou 24 dias de navio. 

Em 1952, assumiu a diretoria executiva adjunta do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, instalado provisoriamente no do Edifício do MEC. Em 1954, chefiou as obras de engenharia civil da construção da nova sede do MAM, no aterro da Gloria.

Carmen é uma das responsáveis pela introdução do conceito de habitação popular no Brasil, propôs ao prefeito, a criação de um Departamento de Habitação Popular, sendo nomeada diretora.

Em 1966, foi convidada pelo então governador Negrão de Lima, para ser diretora da Escola Superior de Desenho Industrial - Esdi – a primeira escola de desenho industrial da América Latina. Por duas décadas, Carmen Portinho dirigiu a escola. Posteriormente, a Esdi foi incorporada à Universidade Estadual do Rio de Janeiro, onde trabalhou até aos 96 anos.

Ao longo de sua vida, recebeu inúmeras medalhas, títulos, homenagens e convites. Participou como jurada nacional de diversas bienais nacionais (SP – Brasil) e internacionais, de salões nacionais de artes plásticas, ministrou palestras, organizou exposições de artes plásticas, arquitetura e design. Viajou a convite de diversos países e continentes (Israel, China, Japão, Europa, Escandinávia, América Latina, Rússia, Estados Unidos da América, Índia, entre outros).  

Faleceu no dia 25 de junho de 2001, aos 98 anos. (Com informações da Prefeitura Municipal de Corumbá).

Graziela Maciel Barroso

A árvore pata-de-vaca é muito comum na região de Corumbá, o que poucos sabem é que essa planta traz em seu nome científico (bauhinia grazielae) a referência de uma grande pesquisadora brasileira nascida na mesma cidade onde há presença abundante da árvore. Graziela Maciel Barroso, conhecida como "a dama da Botânica Brasileira", nasceu em Corumbá em 11 de abril de 1912.

Ela se tornou notável e respeitada na área de sistemática de plantas, um ramo da botânica dedicado a descobrir, descrever e interpretar os diversos tipos de vegetais. Graziela começou a trabalhar no Jardim Botânico do Rio de Janeiro aos 30 anos. Aos 47, numa idade considerada por alguns, muito avançada para se dedicar à vida acadêmica, ela ingressou na Universidade do Estado da Guanabara, defendendo aos 60, sua tese de doutorado.

Exerceu atividade de Chefe da Seção de Botânica Sistemática e Curadora do Herbário do Jardim Botânico, por diversos mandatos, onde incrementou o intercâmbio científico com outras instituições nacionais e estrangeiras. Graziela foi professora de Botânica e Chefe do Departamento de Biologia Vegetal da Universidade de Brasília (UnB) desde sua criação em 1969. Exerceu docência e orientação nos cursos de pós-graduação em Botânica da UFRJ, UFPR, Unicamp e UFPE, tendo orientado 60 dissertações de mestrado e 15 de doutorado.

Escreveu mais de 65 artigos em periódicos especializados, predominantemente no campo de Sistemática Vegetal e quatro livros como autora principal. Sistemática de angiospermos do Brasil (1982) e Frutos e Sementes - morfologia aplicada à sistemática de dicotiledôneas (1999) estão entre as obras adotadas como referência por cursos de botânica. Mesmo depois de aposentada em 1982, ela continuou a exercer atividades de pesquisa, além de dar aulas e orientar alunos de pós-graduação.

A corumbaense Graziela foi a única brasileira a receber, nos Estados Unidos, a medalha Millenium Botany Award, entregue a botânicos dedicados a formação de pessoal na área. A pesquisadora integra a galeria de Cientistas Brasileiros Notáveis do Ministério da Ciência e Tecnologia e tem seu nome em torno de 25 espécies de plantas e diversos espaços acadêmicos dedicados ao estudo da Botânica. Dentre as várias homenagens e títulos, ela recebeu o Diploma da Ordem Nacional do Mérito Científico, na Classe Grã-Cruz.

Passou a integrar a Academia Brasileira de Ciências (2003), mas faleceu um mês antes de tomar posse. Respeitada internacionalmente, morreu no Rio de Janeiro, no dia 05 de maio, aos 91 anos.

Wega Nery

Filha de Leôncio Nery e Ottilia Gomes da Silva Nery, Wega Nery Gomes Pinto nasceu em Corumbá em 10 de março de 1912. Grande parte de sua infância transcorreu na Fazenda Campo Leda, no Pantanal. Ainda menina, foi enviada ao internato do Colégio Sion, em São Paulo.

Em 1938 casou-se em São Paulo com Fausto Gomes Pinto, funcionário do Banco do Brasil, seu professor de inglês. Em 1939 nasceu seu único filho, Sebastião Rubens Gomes Pinto. A partir de 1946, incentivada pelo marido, Wega começou a frequentar o meio artístico paulistano e desistiu de ser pianista ou poetisa. Matriculou-se então na Escola de Belas Artes de São Paulo, com 33 anos de idade, mostrando seus trabalhos pela primeira vez na 5ª Exposição Coletiva da Associação Paulista de Belas Artes.

Com um ano de formada, recebeu seu primeiro prêmio - a medalha de bronze do 56° Salão Nacional de Belas Artes - e aderiu ao Grupo Guanabara. Esse grupo, que reunia cerca de vinte e cinco artistas plásticos manteve-se ativo em São Paulo de 1950 a 1959, com uma produção marcada pela liberdade individual de estilo e de técnica.

Em 1953, Wega Nery participou de sua primeira Bienal e frequentou por cinco meses o Atelier Abstração, sob a orientação de Samson Flexor — pintor franco-romeno que ensinava a arte abstrata de princípios geométricos. Ela então aprofundou seus estudos e pesquisas sobre a abstração e começou a trabalhar regularmente com nanquim sobre papel. A partir de 1962 passou a dedicar-se ao abstracionismo lírico e informal, trabalhando principalmente com óleo sobre tela.

Considerada uma artista irrequieta e de temperamento vulcânico, segundo o crítico Leo Gilson Ribeiro, Wega justificava sua têmpera citando as raízes maternas, de “mulheres indômitas que desbravavam o sertão, enfrentavam ásperas jornadas de sol e ventos gelados, enchentes e o desconforto primitivo do Pantanal, desprezando as fraquezas e vaidades da cidade grande”.

Wega Nery produziu incessantemente, tornando-se uma referência nacional em artes plásticas na área do abstracionismo lírico, e sua obra recebeu (e tem recebido) elogios da crítica nacional e internacional.

Sobre sua pintura, o poeta Drummond escreveu:

“A tona do mundo irrompem os mundos de Wega

violentos

verdenatais

vermelhoníricos

fazendo acordar a natureza.

O último?

O primeiro dia da criação inaugura a vida tensa em que a terra é sonho do homem

e a criatura descobre sua íntima

dramática estrutura.”

Carlos Drummond de Andrade, Rio, 1968.

Além do Brasil, onde participou de 12 Bienais e de aproximadamente 80 mostras em várias cidades, sua obra foi exposta na Argentina, Uruguai, México, Estados Unidos, França, Alemanha e Inglaterra - um mundo que teve a fortuna de receber parte da energia onírica que Wega Nery soube extrair de seu Éden (como ela chamou o Pantanal). Energia que parece ter orientado sua obra, que hoje, com certeza, é uma das mais premiadas - e reconhecidas - entre as dos pintores brasileiros representantes do abstracionismo lírico. (Com informações da professora Maria Eugênia Amaral, da Enciclopédia Itaú Cultural).

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