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“Deixo uma base administrativa sólida para o futuro”, diz prefeito de Ladário

Nelson Urt - Agência Navepress em 02 de Setembro de 2015

Agência Navepress

José Antonio está no penúltimo ano do 2º mandato

Entre os 42 municípios de Mato Grosso do Sul que mais arrecadaram com ICMS em 2014, Ladário ficou em primeiro lugar, o que refletiu a chegada de novas empresas de serviços e comércio. A cidade, que completa 237 anos de fundação neste dia 02 de setembro, também arrecadou mais recursos da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) do que Corumbá, com mais de R$ 9 milhões. O reajuste no IPTU, que chegou a 1000%, desgastou politicamente o prefeito José Antonio, mas ele assegura que a medida vai incrementar a receita e viabilizar a administração econômica do município nos próximos anos. “Deixo para o futuro prefeito uma base sólida para administrar, com o incremento do IPTU e da infraestrutura nos bairros, na educação e saúde”, afirmou nesta entrevista ao Diário Corumbaense. Outro sonho do prefeito, que em 2016 cumpre seu último ano do segundo mandato, é que o calendário de turismo de eventos não sofra perdas e seja permanente na futura gestão. 

Diário Corumbaense - O cenário de crise econômica nacional afetou as finanças de Ladário? Houve muitos cortes?

José Antonio – De fato, tivemos de fazer adequação na folha salarial, reduzir alguns serviços, o ritmo de algumas obras, mas estamos mantendo uma carteira de fornecedores. Nossas finanças estão equilibradas, mas para isso foi preciso uma redução grande nos custos. O pagamento de salários está em dia, mas foi preciso uma redução de gratificações e horas extras, desde o salário do prefeito, do vice e dos secretários. Sabemos que a gratificação faz parte do ordenado, mas no momento é necessário. O corte não foi linear: em alguns casos 5%, em outros até 30%, até chegarmos a uma média de 20%. A preocupação era manter ao máximo os postos de trabalho.

DCMuitos consideram contrasenso em um momento de crise organizar sete dias de eventos na festa de aniversário dos 237 anos. O senhor concorda?

Eu digo que sim, cabe fazer festa, sim. Toda crise gera oportunidades. É uma festa menos pomposa, mas que mostra basicamente a qualidade de nosso projeto, que é o turismo de eventos. Nossa festa de aniversário não envolve unicamente uma atração nacional. Fizemos uma festa de aniversário com um formato que toda a população participe da estrutura de eventos. Na atração nacional a estrutura vai embora com ela. Agora temos uma estrutura que fica montada durante oito dias, para eventos que envolvem centenas de pessoas. Só o Projeto Semear envolveu 1.300 alunos, sem contar professores, no dia dedicado à Educação e à homenagem a Elis Regina.

DCEntão o senhor decidiu trocar uma grande atração nacional por eventos que retratam os projetos de educação, cultura e turismo religioso?

Com certeza. No mesmo palco da Noite América do Sul, que contou com o show do grupo Hermanos Irmãos, vão se apresentar nos dias seguintes os programas sociais (Protagonismo Juvenil), a comunidade evangélica (Ladário para Cristo), a comunidade católica (Evangeliza Ladário), fanfarras (Festival Intermunicipal de Fanfarras). O preço é pago para toda a estrutura. E ainda teremos no Porto a Festa do Peixe, que vem crescendo a cada ano. O que realizamos agora se reflete no futuro.

DC O turismo de eventos e religioso marcou os sete anos de sua administração. Corre riscos após sua saída?

Estamos trabalhando para que esse calendário seja mantido, estamos investindo na Liga das Escolas, Blocos e Cordões, no Carnaval, na estrutura da Festa da Padroeira. Quando entramos, há sete anos, a estrutura da Festa da Padroeira se resumia a um palanquezinho com um sanfoneiro tocando para pouco público. Hoje, temos um público muito maior, com cerca de 20 a 30 mil pessoas na Festa da Padroeira. São doze dias de festa (de 11 a 24 de outubro), com novenas, estrutura de som, com shows diários. É uma forma de o poder público fomentar o trabalho comunitário o ano todo, pois também incrementamos, além do São João, a festa de Nossa Senhora das Mercês e de Santo Antonio. E em dezembro temos o Festival Gospel.

DC E como está o volume de arrecadação municipal?

Nossa receita aumentou bastante com os programas e incentivos que foram criados. Ladário foi o município que teve proporcionalmente a maior receita de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias) de Mato Grosso do Sul, em função das empresas que vieram para cá. Entre as 42 cidades que tiveram aumento na cota de participação do ICMS em 2014, Ladário foi a primeira do ranking. Estamos permanentemente tentando mostrar o valor agregado referente às melhorias feitas no município, atraindo mais empresas.

DCO senhor foi duramente criticado ao reajustar o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) de 2015 em até 1000%. Na prática, o resultado foi positivo?

Foi uma decisão que politicamente me desgastou bastante, mas era importante tomar essa atitude. Valeu porque eu não podia reajustar o valor desses terrenos que estavam praticamente sem pagar nada, sem que para isso tivesse de reajustar o IPTU de todos os proprietários. Tínhamos um problema muito sério em relação a IPTU. Tínhamos um valor do IPTU que lançava R$ 500 mil/ano e recebia R$ 180 mil anual, o que equivalia R$ 15 mil/mês, e não pagava nem coleta de lixo, que tinha de ser pago com outras fontes de recursos que faziam falta ao município. Isso comprometia o futuro econômico da cidade.

DCDessa forma o senhor optou por reajustar de todos e não apenas daqueles que possuem grande quantidade de terrenos vazios espalhados pela cidade?

Sim. Subimos 1000%, passamos de R$ 12,50 para R$ 120. Mas vamos fazer outra conta: R$ 120 por ano equivale a R$ 10 por mês. E esses 3 mil imóveis populares que pagam R$ 12,50 na realidade eles passaram a pagar R$ 10 por mês. Houve desgaste, mas fizemos uma cartilha e eu fui a todos os bairros distribuir para os moradores. Antes os bairros não tinham infraestrutura, hoje têm. Com isso, saímos de R$ 500 mil para R$ 3 milhões em lançamento de IPTU, não vou receber totalmente porque as pessoas não têm hábito de pagar, mas vou deixar uma base para próximo prefeito, que vai poder trabalhar com reajuste de 30%, vai conseguir chegar em três anos aos R$ 6 milhões, que é o que Ladário precisa para pagar a merenda escolar (50% o governo federal cobre), uniforme escolar, coleta de lixo, pavimentação.

DCE a reação dos grandes proprietários de terrenos com esse aumento?

Há proprietários com quarteirões inteiros de terrenos vazios, verdadeiros matagais, em lugares cercados por escolas, creches, postos de saúde, centro comunitário. Estão com seu matagal esperando valorizar, pagando R$ 300 por ano de IPTU. Dentro dessa reforma do IPTU, passamos a cobrar R$ 10 mil por ano. Nesse setor houve a resistência maior e eu não consegui convencer quase ninguém. Mas hoje, já temos um movimento muito grande dessas pessoas se desfazendo dos terrenos, loteando. E isso vai impactar positivamente no desenvolvimento de Ladário, com construção de novas casas. Só que você não consegue explicar isso de uma forma que as pessoas entendam politicamente. Mas alguém tinha de fazer, botar o dedo na ferida. Não me recuso a cumprir aquilo que seja benéfico para Ladário.

DC - Ladário recebeu mais de R$ 9 milhões referentes ao imposto da Compensação Financeira pela Exploração Mineral no ano passado, acima do que recebeu Corumbá, que possui mais reservas minerais. Por quê?

As reservas de Ladário correspondem exatamente à metade da reserva do Urucum. As reservas de Corumbá são a outra metade e todas as outras reservas, inclusive da antiga MCR. As reservas de Corumbá são muito maiores, de fato. A compensação financeira é paga no momento em que é explorada. Ocorre que a Vale, além de explorar a mina do Urucum, fazia um gigantesco investimento na antiga mina da MCR, em São Domingos, para uma produção dez vezes maior que Urucum. No momento em que houve a crise, ela paralisou o projeto de expansão em São Domingos. E hoje só explora Urucum. Esta é a situação, por isso Ladário recebe mais, porque a Vale concentrou a exploração na mina de Ladário.

DCHá perspectiva de mudança desse quadro após o final da crise?

Quando a expansão estiver concretizada, Corumbá vai receber dez vezes mais que Ladário. Pode ser que até pare de explorar em Ladário, não sabemos. O que nós sabemos é que hoje existe uma exploração forte em Ladário. E esses valores estão sendo aplicados em reformas de postos de Saúde, construção de escolas, pavimentação, serviço de operação e limpeza da cidade.

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