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Corredor ferroviário bioceânico por Corumbá interessa setor de mineração argentino

Leonardo Cabral em 31 de Agosto de 2021

Reprodução/El Deber

Rota aguarda recuperação de trecho ferroviário da Argentina

Empresários de mineração do norte da Argentina têm interesse em estabelecer um corredor ferroviário para escoar seus produtos até o Centro-Oeste brasileiro, por meio das ferrovias bolivianas, passando por Corumbá. Esse interesse também beneficiaria o Chile, que exporta minerais para o Brasil, por via marítima. 

Para que isso se concretize será necessário reabilitar um trecho não utilizado em território argentino – como pontes – por onde passa a malha ferroviária. A proposta surgiu na semana passada em uma mesa técnica sobre a competitividade da mineração na província argentina de Salta e as possibilidades de seu desenvolvimento rumo ao estado de Mato Grosso do Sul. A reunião ocorreu virtualmente. 

A atividade foi organizada em conjunto pelo Itamaraty, a Prefeitura de Corumbá, Associação Comercial de Corumbá e a plataforma de promoção de comércio e investimentos internacionais Ipochase. 

Ao Diário Corumbaense, o presidente da Associação Comercial e Industrial (ACIC), André de Arruda Campos, falou sobre a importância da ativação dessa rota, que trará benefícios para Corumbá. 

“Com a rota podemos tirar Corumbá de um final de linha e colocar como meio de um caminho, como sempre foi. Corumbá está no Centro da América e não somos um final de rota. Com essa logística teremos potencial enorme, não só da parte mineral, como já temos, mas ter fluxo e retorno com material de grãos, como também pode trazer o sal desses países, Argentina e Chile. São muitos os benefícios. Estamos estudando essa rota de comércio, para trazer produtos do Chile e Argentina, e ao mesmo tempo devolver aquilo que estamos produzindo para lá, fazendo intercâmbio o que será ímpar para Corumbá, colocando a nossa cidade no rumo do crescimento do País”, disse André. 

Um dos pontos que será de grande benefício para o município pantaneiro, será, por exemplo, em relação ao sal que chega à cidade. “Para o sal, que vem de Mossoró, no Rio Grande do Norte, terá um custo benefício. Com a nova rota, ganhamos competitividade, bem como também poderemos ter pessoas aqui para trabalhar com sal animal, industrializar esse sal. Traremos para Corumbá essa plataforma que vai exportar material e vai vender para outros Estados. Isso é um tema que pode alavancar a cidade, mas existem muitos outros temas”, pontuou André. 

A vice-presidente da Câmara de Mineração de Salta, Fernanda Fraga, deu um panorama do setor. “Salta tem muito a oferecer, não só seu potencial geológico, mas hoje já exportamos Borato para o Brasil e também há muito interesse na exportação de sal e potássio, até lítio com vistas ao futuro”, disse Fraga em entrevista ao jornal El Tribuno de Salta. 

Durante o encontro, o destaque foi dado à interligação ferroviária da região por meio das filiais Belgrano Cargas (Argentina), Ferroviária Oriental (Bolívia), Ferronor (Chile) e Malha Oeste (Brasil). Entre Salta e o Centro-Oeste do Brasil existe uma parte da conexão ferroviária obsoleta, o ramal argentino C-15, que conecta a Bolívia e a Argentina por Salvador Mazza e Yacuiba. Dali faz a ligação com Santa Cruz e Corumbá, no estado de Mato Grosso do Sul. 

Malha ferroviária ativada 

Para reativar o ramal C-15, três pontes ferroviárias devem ser reconstruídas e recuperar cerca de 80 quilômetros de trilhos. Essa obra havia sido licitada e concedida em 2017 por 60 milhões de dólares, mas no ano seguinte o projeto foi cancelado. No final de 2020, o governo nacional argentino havia anunciado a reativação com financiamento chinês, mas também não prosperou, conforme informações do El Tribuno. 

O coordenador-geral de Assuntos Econômicos da América do Sul, América Central e Caribe do Itamaraty, João Carlos Parkinson de Castro, disse que se deve aproveitar uma integração ferroviária que já existe e não está sendo explorada. “Com isso, poderíamos ter produtos da NOA sendo exportados por ferrovia para Corumbá (município fronteiriço com a Bolívia) e de lá para São Paulo”, disse. 

Da Ferroviária Oriental (FO), uma das duas concessionárias de transporte ferroviário da Bolívia, manifestou a vontade de participar do transporte de cargas em território boliviano, já que tem um potencial de arrasto de 3,5 milhões de toneladas e atualmente apenas 2 milhões de toneladas de capacidade é usado. 

Potencial 

O Brasil importou 134 milhões de dólares em produtos de mineração, especialmente cobre do Chile, conforme detalhou João Carlos Parkinson de Castro. 

“Este produto exportado pela Antofagasta entra no Brasil pelo porto de Santos, o que significa um trecho marítimo muito longo, incluindo um trecho a caminho de Santos a Mato Grosso do Sul, que tem cerca de 1.300 quilômetros. Para essa logística atual estamos oferecendo uma conexão ferroviária, que sai de Pocitos e chega a Corumbá em cinco dias, com um frete ferroviário médio da ordem de 40 dólares a tonelada. Então temos redução de custos, tempo, emissão de dióxido de carbono e, com tudo isso, maior competitividade”, explicou. 

“Se Salta conseguir exportar um terço do que Mato Grosso do Sul já importa do Chile, serão pagas as três pontes necessárias para o C-15. É uma logística nova, muito mais eficiente, com impactos positivos na competitividade, sejam os produtos brasileiros que são exportados ou os produtos importados de Salta”, analisou o diplomata. 

Com informações dos jornais El Deber e El Tribuno.

Comentários:

José Mendes: É só não deixar norte americano meter a mão... Que funciona. Bacana a ideia.

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