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Réu por assassinato, delegado se declara inocente em julgamento

Geisy Garnes (Campo Grande News) e Leonardo Cabral (Diário Corumbaense) em 23 de Junho de 2021

Marcos Maluf/Campo Grande News

Fernando chegou ao Fórum da Capital nesta manhã escoltado por policiais do GOI

É julgado nesta quarta-feira (23) o delegado Fernando Araújo da Cruz Júnior pelo assassinato do boliviano Alfredo Rangel Weber, de 48 anos, crime ocorrido dentro de ambulância em 23 de fevereiro de 2019 – na rodovia Ramão Gomes, estrada que liga Corumbá à cidade boliviana de Puerto Quijarro. Preso em Campo Grande, o réu acompanha o júri por videoconferência do Fórum da Capital.

Em depoimento à justiça nesta manhã, o ex-titular da Deiaij (Delegacia de Atendimento à Infância e Juventude) de Corumbá se declarou inocente e chegou a falar que “inimigos” dentro da polícia estavam armando para ele.

No plenário da cidade pantaneira estão o juiz, o promotor do caso, a defesa de Fernando, os jurados e as testemunhas. Já Fernando, que desde junho de 2019 está preso em Campo Grande, foi levado por equipes do GOI (Grupo de Operações e Investigações) da cela da 3ª Delegacia de Polícia Civil para uma sala do Fórum, de onde assiste o júri por vídeo.

Foi por videoconferência que ele contou sua versão sobre o crime aos jurados do Conselho de Sentença. Ao ser questionado pela própria defesa, Fernando se declarou inocente. Afirmou que tem “inimigos” dentro da polícia e todo o processo faz parte de uma trama para incriminá-lo.

Chorando, reforçou sua inocência e falou, mais de uma vez, que “verdade é uma só”. Sobre o dia do crime, negou até mesmo a tentativa de homicídio contra Alfredo. Explicou que estava com a esposa e o filho na festa, que acontecia na associação de criadores de gado na Bolívia, quando a vítima chegou “alterada” e o ameaçou. 

Segundo Fernando, o boliviano gritou que iria “picar” sua mulher e filho e depois o queimaria vivo. Mesmo com a atitude descontrolado de Alfredo, alega não ter reagido. Pouco depois foi ao banheiro e quando saiu, descobriu que o boliviano havia sido esfaqueado. Se reuniu com a família e foi embora do local. Ficou na cidade por mais 30 minutos, na casa de conhecidos e depois atravessou a fronteira, de volta a Corumbá.

Leonardo Cabral/Diário Corumbaense

Julgamento acontece nesta manhã no Tribunal do Júri do Fórum de Corumbá

Emocionado, Fernando disse que já havia desistido de lutar para provar sua inocência, mas viu a esperança renascer ao descobrir a gravidez da esposa Silvia Aguilera, que nesta amanhã acompanhava o júri do plenário.

O investigador Emmanuel Nicolas Contis Filho, de 32 anos, indiciado por auxiliar o delegado nas tentativas de burlar as investigações, também acompanha o júri por vídeo, mas da cidade de Coxim – onde trabalha atualmente.

Como foi

Por ter ocorrido no lado brasileiro da fronteira, a investigação da morte de Alfredo foi feita pela DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio). Segundo o relatório policial, no dia do crime acontecia a eleição da presidência da associação de criadores de gado, vencida por Asis Aguilera Petzold, pai da esposa do delegado, Silvia Aguilera.

A vítima teria aproveitado o evento para cobrar Silvia por dívidas do ex-marido dela, Odacir Santos Correia, traficante preso pela Polícia Federal em 2003, durante a Operação Nevada. A situação se transformou em discussão. Alfredo foi esfaqueado por Fernando ainda na associação, foi socorrido e por conta da gravidade, levado a Corumbá por a cidade ter mais recursos médicos. 

No meio do caminho o veículo foi interceptado por uma caminhonete S10 preta. Conforme os depoimentos da irmã, da filha e do motorista da ambulância, um “homem alto, branco, forte” abriu o compartimento do paciente e disparou quatro vezes contra ele, com uma arma prateada.

As características físicas coincidiram com as de Fernando, a arma com uma que ele tinha registrada e o veículo descrito com o usado por ele à época. Conforme as investigações, Fernando e o investigador Emmanuel, tramavam para despistar os colegas de profissão.

Divulgaram informações falsas sobre a autoria, sumiram com a arma usada no crime, modificaram o veículo usado por Fernando, intimidaram testemunhas-chaves e até “ameaçaram” cometer atentados contra os investigadores de Campo Grande que estavam em Corumbá para apurar o crime.