Jovem autista celebra 25 anos com festa “drive thru” preparada pela irmã

A pandemia do novo coronavírus, além de provocar mudanças na rotina das pessoas, também proporciona adaptações a festas de aniversário, casamento, debutantes entre outros eventos celebrados com muita alegria entre amigos e familiares. Por isso, a criatividade diante do cenário vivenciado vem ganhando espaço cada vez maior. 

Por ser do grupo de risco, o jovem, Daniel de Freitas Barbosa Neto, que é autista, com transtorno de desenvolvimento intelectual, e que sempre amou comemorar o aniversário, reunindo familiares e amigos, não fez diferente este ano, mesmo com a pandemia. 

Com a mesma alegria de sempre, ele celebrou a festa dos 25 anos, de uma maneira adaptada pelo momento. Todos os preparativos foram feitos pela irmã de Daniel, Jéssica Coelho Barbosa, responsável por todos os anos fazer o aniversário do irmão caçula. 

Ao Diário Corumbaense, ela disse que Daniel sempre amou fazer aniversário e que esse ano não poderia “passar em branco”, porém, para festejar, ela teve que adaptar a festa que já vinha sendo planejada desde o início do ano. 

“Como ele estava prestes a completar 25 anos, não seria justo deixar passar uma data especial para ele e toda a família, que se reúne todos os anos, para cantar parabéns junto ao meu irmão caçula. Por isso, com o passar do tempo, fui desenvolvendo a ideia até que, pelo cenário que estamos passando, o ideal seria fazer uma festa adaptada, já que tanto Daniel, como a minha mãe, são do grupo de risco e mesmo com as flexibilizações, não achei certo fazer e ele ter contato direto com as pessoas”, explicou Jéssica.

Ela contou ainda que a ideia nasceu depois de participar de uma “charreata” meses atrás, e, por conta disso, procurou na internet outras formas de como poderia comemorar o aniversário do Daniel.  

“Então, depois de muita pesquisa, resolvi fazer no formato drive thru e começamos os preparativos. Fiz o convite, coloquei os horários, para que as pessoas passassem em frente de casa e pegar os kits, que foram montados conforme a família e amigos”, relembrou Jéssica dizendo que nos kits havia bolo, salgadinhos, doces e outras guloseimas do gosto de Daniel e que há em qualquer festa de aniversário. 

Jéssica falou que Daniel não sabia de nada e que ao perceber que o aniversário seria comemorado, foi só alegria. “Ele ficou sabendo um dia antes, pois não tem noção de data. Ele é muito ansioso e se soubesse antes ficaria perguntando todo dia”, mencionou a irmã contando que na hora das entregas, “ele fazia questão de entregar as sacolinhas, receber os presentes e que a pessoa que estivesse dirigindo buzinasse para ele, já que gosta muito de carro também, foi um momento especial para ele, para mim e toda a família”, completou. 

Jéssica diz que Daniel tem muita alergia e pelo “peso” da data, que sempre foi festejada, jamais poderia deixar de fazer algo. “Por conta desses motivos é que procurei fazer com todos os cuidados. O meu maior medo é que, como ele não fala direito, como vai se comunicar caso venha a ficar no hospital. Daniel é como se fosse criança, tudo intenso, não gosta de tirar sangue, não come qualquer coisa. Temos todos os cuidados com ele, porém, vive de forma intensa e alegre”, descreveu a irmã. 

O momento 

A festa de Daniel aconteceu no último sábado (28). Jéssica revelou que uma decoração com a marca de um refrigerante que o irmão gosta muito, foi feita em frente à sua casa, no bairro Dom Bosco. 

“Minha mãe e eu, montamos a decoração cedo pra tirar foto e cantar parabéns. E depois fui cortando o bolo, colocando nas marmitinhas, arrumando os doces e embalando, tipo delivery, até que à tarde, as pessoas passavam por frente, falavam com ele e entregavam o presente e pegavam as sacolinhas. Foi um momento muito especial e emocionante para meu irmão e para minha família”, contou.

Jéssica ainda fez questão de dizer que durante as entregas, “todos estavam de máscaras e o Daniel também, sem contar que havia álcool em gel e ele passava nas mãos todas as vezes que entregava as sacolinhas”, concluiu.

O aniversariante

Daniel nasceu em 28 de novembro de 1995, e durante o pré-natal e o teste do pezinho, ele não foi diagnosticado com nenhuma síndrome. Quando tinha três meses, teve bronquiolite e foi internado com complicações e convulsões. Foi então, que uma junta médica detectou síndrome, mas não sabia qual era. Nessa época, o diagnóstico era que ele não resistiria, chegando ao ponto de receber o batismo num quarto de hospital.

Com o passar do tempo, o seu caminho foi sendo traçado de uma forma bem diferente, entre tratamentos em outras cidades, medicações, e, o bebezinho, "magrinho e molinho" que começou a andar com pouco mais de dois anos de idade, foi crescendo e ficando forte, recebendo o batismo na igreja.

Jéssica destacou que ter uma pessoa com deficiência em casa não é fácil, são diversas provações e aprendizados, tanto para ele, como para a própria família.

“Nos deparamos com situações de diversos tipos, inclusive preconceito. Mas por falar em provação, o ano de 2020, aprontou mais uma com a gente e imagine explicar para uma criança grande o que é uma pandemia? Que teria que usar máscara e ficar em casa, afinal, ele e mamãe são grupo de risco. Foram meses explicando e cuidando, mostrando exemplos, pra no final entender mais ou menos. E sim, é tudo em proporção maior, e somente nós que convivemos com ele diariamente sabemos dessas dificuldades. Mas eu agradeço muito a Deus por ter ele desse jeitinho, muitas vezes inocente, mas muito inteligente”, declarou Jéssica.

“Daniel é um presente, por ele enxerguei a vida de outra forma, amadureci, criei responsabilidades muito cedo e aprendi a respeitar as diferenças. Ele é meu irmão de sangue, mas é meu filho de coração que protejo e tenho um amor incondicional”, finalizou.