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Maior queimada das últimas 2 décadas causa problemas ao meio ambiente e à população de Corumbá

Leonardo Cabral em 22 de Julho de 2020

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

Fumaça encobre toda a região e população sofre as consequências do tempo seco

“Nesses últimos dias, o cheiro de fumaça está muito forte, mesmo com a casa fechada. Tenho que fazer o uso da bombinha e também inalação, para poder dormir tranquila”. Essa é a situação que Ana Santos, moradora do bairro Centro América, está enfrentando devido à fumaça que vem encobrindo Corumbá nos últimos dias.

Isso ocorre por causa dos focos de incêndio em vegetação, que atingem a região, tanto próximo da área urbana, como também em áreas do Pantanal, que já contabilizou 3.415 focos esse ano. O maior número já registrado desde o início dos levantamentos do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que começou a mapear os focos em 1998.

O reflexo da situação traz preocupação tanto para a cidade, meio ambiente, quanto para quem sofre de doenças respiratórias, como bronquite, rinite, sinusite, sem contar que com a baixa umidade do ar, o problema se agrava. 

Ana, além de fazer o uso constante da bombinha e do aparelho de inalação, evita ao máximo sair de casa. Uma razão é por causa da pandemia do novo coronavírus e , a outra, pela fumaça que encobre a cidade.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Ana Santos precisa recorrer à inalação com soro fisiológico todos os dias

“Tenho feito muito uso de inalação com soro fisiológico para manter a umidade das narinas. Intercalo com uso de bombinha, pois quando tenho crise de asma sinto muita falta de ar e com essa fumaça, que vem se agravando, sinto arder o nariz. Procuro sempre seguir as recomendações, pois por conta da pandemia, evitar ir à unidade de saúde é melhor”, disse explica Ana Santos ao Diário Corumbaense.

Ela também ressalta que dentro de casa, sempre procura manter o ambiente úmido. “Tenho usado muito toalha molhada na janela de meu quarto para assim filtrar o cheiro da fumaça e também tenho lavado a casa com mais frequência, molho meu quintal a toda hora. Assim, vamos tentando enfrentar essa problemática em nossa região”, contou.

“Presa” dentro de casa, Luciane de Moraes Ferreira, que tem rinite e sinusite, contou que o pior momento é a hora em que vai se deitar à noite. Ela afirma que às vezes nem dormir consegue, se torna impossível.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Luciane reforça hidratação com ingestão de muita água

“É muito difícil dormir, ataca a tosse e a dificuldade de respirar é muito grande, tudo isso pela grande quantidade de fumaça. Para dormir tranquila, minha mãe já deixa toalhas molhadas pelo meu quarto e até baldes de água debaixo da minha cama. O problema é que nem de casa é preciso sair, já que a fumaça 'invade' nossas casas”, falou Luciane que ainda ressalta o forte calor na região. “Isso contribui para que a situação piore ainda mais, antes sem a fumaça, poderíamos sair um pouco na frente de casa e tomar um ar, mas agora com a fumaça e o calor, é impossível, sem contar a pandemia. Por isso, se hidratar com muita água é necessário”, completou.

Da mesma forma, Nágela Taborga Sório, que mora na avenida General Rondon, diz que a situação é mais complicada à noite, porém, ressalta que durante o dia, a fumaça também atrapalha.

“A situação mais crítica é à noite, pois é possível visualizar bem a fumaça pelas ruas, ainda mais aqui na Avenida, que fica praticamente de frente para os focos que são visíveis do outro lado do rio Paraguai. Tenho que ficar com a casa fechada, isso para poder proteger meu filho de 10 meses, que tem bronquite. A minha filha também reclama, pois os olhos e nariz ardem. É preciso que as pessoas se conscientizem dessa situação que não é nova, mas que pode ser evitada ao máximo, tem gente que sofre com tudo isso”, pediu Nágela contando que baldes com água, toalhas umedecidas estão espalhadas por todos os cantos da residência. 

A moradora também frisou que nos últimos dias, acostumada a acordar e ter a imensidão do Pantanal como vista, apenas consegue enxergar fumaça. "A vista que temos é tudo branco. Nem o pôr do sol conseguimos acompanhar devido a fumaça, que também deixa a minha casa toda com um cheiro de queimado. Por isso vive trancada”, falou.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Paisagem pantaneira mal se observa com a fumaça das queimadas

Ranking nacional

Corumbá vem liderando o ranking de municípios brasileiros com maior número de focos de queimadas no país. Nos primeiros sete meses do ano, Corumbá tem 2.370 focos de queimadas, são 1.855 focos a mais do que a cidade de Poconé, em Mato Grosso, que aparece em segundo lugar, com 515 focos. Isso representa que Corumbá tem 46,8% do total de queimadas do país.

Nos primeiros 22 dias de julho, Corumbá registrou 597 focos de queimadas, é maior do que o total de números de focos de queimadas de Poconé, no período anual que é de 515. Nas últimas 48 horas, a cidade registrou um total de 152 focos.

Chama a atenção o número registrado no Pantanal, que coloca o bioma como uma das áreas com maior número de focos de incêndio em 22 anos, desde o início dos trabalhos do Inpe, responsável em identificar os focos em todo o território nacional. São 3.415 focos de calor este ano. 

Perigos e cuidados

Dentre os problemas que podem ocorrer durante o tempo seco e também da grande quantidade de fumaça, estão: complicações alérgicas, sangramento pelas narinas, ressecamento da pele, irritação dos olhos, sensação de garganta seca, cansaço precoce e excessivo para uma intensidade de exercício normalmente bem tolerada em condições climáticas favoráveis. 

Por isso, é importante seguir cuidados e recomendações de especialistas, como: evitar fazer atividades físicas das 10h às 16h; procure se hidratar adequadamente. Os especialistas recomendam cerca de 300 a 500 mililitros (ml) de água 30 minutos antes da atividade e 200 a 250 mililitros (ml) a cada 20 minutos.

Já as dicas para umidificar o ar são: uma bacia de água ao lado da cama; toalha molhada na cabeceira; aparelho umidificador; ventilador de teto ligado no modo exaustor; mantenha o quarto limpo e arejado; vapor do chuveiro para umidificar o ar; plantas em outros cômodos da casa.

A saúde humana é afetada pelas queimadas porque a fumaça proveniente dela contém diversos elementos tóxicos. O mais perigoso é o material particulado, formado por uma mistura de compostos químicos. São partículas de vários tamanhos e, as menores (finas ou ultrafinas), ao serem inaladas, percorrem todo o sistema respiratório e conseguem transpor a barreira epitelial (a pele que reveste os órgãos internos), atingindo os alvéolos pulmonares durante as trocas gasosas e chegando até a corrente sanguínea.

Outro composto prejudicial é monóxido de carbono (CO). Quando inalado, ele também atinge o sangue, onde se liga à hemoglobina, o que impede o transporte de oxigênio para células e tecidos do corpo.

Comentários:

Paulo Figueiredo: Trata-se de um desastre ambiental e de Saúde Pública. Onde estão os vereadores, prefeitos (de Corumbá e Ladário), secretários municipais e estaduais, governador, assim como deputados e senadores de MS? Por que essas autoridades não se mobilizam em frente nacional para enfrentar esse desastre? Por que deixam a população a mercê dessa situação que se agrava ainda mais com a pandemia? Autoridades, mobilizem-se pela população. É o seu papel.

José Mendes: Tem gente com muito conhecimento usando alguns fenômenos naturais pra justificar a queimada. É um debate longo, porque segundo alguns é costume pantaneiro. É um absurdo o tanto de gente que arruma justificativa pra isso. Pra esse método medieval. É só colocar alguma coisa a respeito disso no face que aparecem defensores do ato.

Elvis Ramos: Moro aqui a seis meses me faço a mesma pergunta do colega acima. Isso é um desastre ambiental e de saúde pública. Prejudica economicamente a cidade também. Acho estranho essa inanição dos políticos locais. Mesmo os moradores me parecem que aceitam com naturalidade isso.

Suely Valessi : E o povo se cala diante da inércia do poder público...nunca ouvi dizer que alguém foi punido por tão grave crime ambiental. Será que é tão difícil identificar os criminosos???

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