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Brasileiros repatriados da Bolívia chegam a Corumbá: "sensação de alívio"

Leonardo Cabral em 03 de Abril de 2020

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Pouco a pouco os brasileiros vão cruzando a ponte da Amizade que divide os dois países

O primeiro grupo, com cerca de 450 brasileiros repatriados da Bolívia, começou a desembarcar ainda na madrugada desta sexta-feira, 03 de abril, na fronteira das cidades de Puerto Quijarro e Puerto Suárez, com Corumbá. Equipes da Agência Municipal de Trânsito (Agetrat), da Vigilância Sanitária e também da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Militar (PM), Corpo de Bombeiros, Receita Federal, Exército Brasileiro, integram força-tarefa para receber os brasileiros na ponte da Amizade, divisa dos dois países.

A pé, os brasileiros, grande parte jovens estudantes, cruzam o limite territorial, após realizarem os trâmites no setor de Migração da Bolívia, e são encaminhados pelos órgãos de segurança ao atendimento da Vigilância Sanitária, que faz a triagem, seguindo determinações da Organização Mundial da Saúde (OMS), para evitar a propagação do novo coronavírus, já que eles estão entrando no Brasil, vindos de uma região com casos confirmados e também de pessoas que perderam a vida por causa da doença. A cidade de Santa Cruz, local de moradia da maioria dos repatriados, concentra o maior número de casos positivos da covid-19.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Brasileiros passam por higienização antes dos procedimentos para a entrada no país

Logo depois dos procedimentos e orientações, todos são encaminhados para atendimento do controle migratório, no posto de fiscalização Esdras, que serviu como base para receber os brasileiros, onde uma estrutura foi montada e os ônibus de viagem aguardam para embarque, boa parte para os Estados de São Paulo, Goiás e Bahia. Porém, foi reforçado que todos os viajantes deverão permanecer em isolamento domiciliar por 07 dias se forem assintomáticos e 14 se tiverem sintomas. Os brasileiros que moram em Corumbá e integram o grupo, devem obedecer o procedimento de isolamento social.

Com a sensação de tranquilidade, Alisson Phelipe Dias Braga, disse ao Diário Corumbaense que se sentiu aliviado ao pisar em solo brasileiro novamente. Ele é estudante do 9° período no curso de medicina e segue viagem até Anápolis/ Goiás.

Diário Corumbaense

Alisson Phelipe durante o embarque em Santa Cruz na noite desta quinta-feira

“Diante dessa pandemia que afeta o Mundo, nada melhor do que voltar para seu país e estar ao lado das pessoas que você ama. Ficar do lado da família é essencial. Acredito que as condições do Brasil em relação à Saúde são bem melhores do que a Bolívia. Por isso, quando tive a notícia e soube da oportunidade, não pensei duas vezes e logo me coloquei à disposição para retornar”, explicou.

Alisson ainda ressaltou que estar em Corumbá, mesmo ainda distante de sua cidade, lhe mantém mais calmo. “Me sinto feliz só de estar pisando solo brasileiro. Agora é aguardar todo esse problema passar, para que possa retornar com segurança e concluir o curso”, completou o estudante reforçando as medidas de prevenção. “Mesmo indo pra casa os cuidados devem seguir. Isolamento domiciliar é necessário contra esse vírus”, afirmou.

“Na verdade, quando iniciaram as primeiras divulgações na mídia a respeito do contágio massivo da covid-19, eu já senti receio e pensei em voltar para o Brasil. Nesse tempo, a Bolívia tomou as medidas necessárias, e acredito que corretas. Entretanto, isso tornou a situação insustentável, no meu caso, dificultando inclusive o acesso ao dinheiro, pois não conseguia mais receber através do sistema Money Gram. Todos no país estão em quarentena total e em situação de emergência sanitária, só podíamos sair uma vez por semana de acordo com o número da identidade local. Na rua estão os militares e a polícia, então quem sai sem autorização, é preso. Por isso a decisão de retornar”, declarou a estudante também de medicina, Iana Taisa Costa Martins, que cursa o 9° semestre em Santa Cruz de La Sierra e que segue para Mossoró, Rio Grande do Norte.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Barracas foram montadas para atender os procedimentos de triagem dos viajantes

Com o mesmo sentimento, Felipe Vitor Borges Alves, que também é de Mossoró, e cursa o 5° semestre de medicina, falou que vir para o Brasil, é a melhor opção neste momento.

“Na Bolívia tudo está parado, o que dificulta muita coisa, inclusive dinheiro que está acabando. Não podemos trafegar pelas ruas e para sair durante a semana tem que seguir o número da carteira de identidade. Por isso voltar para casa é a melhor decisão neste momento. Porém, acredito que essas medidas tomadas pelo governo da Bolívia foi a melhor maneira de controlar a doença”, declarou o jovem que vai para São Paulo e de lá, pega o voo para sua cidade, onde vai ficar em isolamento domiciliar.

Do lado brasileiro da fronteira, o grupo está comprando bilhetes e embarcando em ônibus para os aeroportos de Campo Grande e de São Paulo, sem a necessidade, para a maioria, de deslocamento até Corumbá. Cerca de 10 ônibus foram colocados à disposição dos viajantes, mas dois foram reprovados pela Vigilância Sanitária e têm que cumprir procedimentos de higienização para atender os brasileiros.

Mais brasileiros devem ser repatriados

Essa operação vai se repetir com a chegada de mais brasileiros residentes em Santa Cruz de La Sierra (cerca de 250) e de Cochabamba (cerca de 150).

E neste novo grupo, está Zenilton Soares de Oliveira, que é da Bahia, e cursa o 9° semestre de medicina em Santa Cruz. O destino dele é o município de Campo Belo, na região de Vitória da Conquista.

O estudante disse que a insegurança foi o maior sentimento que o fez voltar ao Brasil. “Ao saber pelo Consulado que eles nos ajudariam, até mesmo pelo fato das fronteiras estarem fechadas em ambos os lados, estava difícil seguir para casa sem esse apoio. Como somos estudantes, é fundamental que alguns serviços estejam funcionando, como no caso dos bancos que estão fechados, pois precisamos de dinheiro para os gastos necessários, as contas continuam chegando", destacou.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Repatriados, brasileiros serão acompanhados pela Vigilância de Corumbá e das cidades de destino, em caso de suspeita da doença

“Já providenciei um lugar para que eu possa ficar em isolamento, em Campo Belo. Essa medida é necessária para proteger a minha família e amigos que ali estão. Acredito que todos devem fazer o mesmo”, acrescentou Zenilton.

Ao todo, mais de 930 pessoas procuraram os postos consulares brasileiros na Bolívia com demandas de repatriação. Até o momento, a evacuação em bases comerciais dos interessados pela via terrestre parece ser a mais viável, a despeito das restrições impostas dos dois lados da fronteira. Nesse sentido, os consulados gerais em Santa Cruz de la Sierra e em Cochabamba, assim como o vice-consulado em Puerto Quijarro e a embaixada em La Paz, têm trabalhado em conjunto, com o apoio do Grupo Consular de Crise (G-CON América do Sul), a fim de facilitar o retorno pela fronteira terrestre em Corumbá (MS).

Situação na Bolívia

O país, bem como o resto do mundo segue a luta contra o novo coronavírus. Há mais de 13 dias, a Bolívia determinou quarentena geral. Apenas podem sair das casas pessoas autorizadas, seguindo determinação do governo, conforme o número final da carteira de identidade, para realizarem compras em supermercados ou farmácias. Aos finais de semana, não é permitida a presença de nenhuma pessoa nas ruas.

Até o momento o país andino já registrou 09 mortes e tem 132 casos positivos de covid-19.

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