Agência Brasil em 27 de Janeiro de 2020
A Secretaria da Presidência da Bolívia anunciou em um comunicado oficial que a presidente interina do país, Jeanine Añez, solicitou a renúncia de todos os ministros de seu gabinete "para encarar a nova etapa da gestão de transição democrática".
A presidente interina defendeu que é habitual que ocorram ajustes na equipe de trabalho do órgão executivo, às vésperas da inscrição dos candidatos.
O pedido de Añez vem apenas dois dias após ela confirmar a sua candidatura à presidência da República nas eleições do próximo dia 3 de maio. Inicialmente, Añez havia garantido que seu governo seria apenas "interino" e duraria até a realização do próximo pleito.
A decisão de Añez, de se candidatar, gerou incômodo. A ministra das Comunicações do atual governo, Roxana Lizárraga, anunciou ontem a sua renúncia irrevogável ao cargo. Na carta de demissão, ela criticou a candidatura de Añez. "Está claro que nosso governo de transição perdeu seus objetivos. Não se pode esconder o fato de que o governo começou a sofrer os mesmos males do masismo (referência às ações do governo de Evo Morales, do partido Movimento ao Socialismo - MAS) que estamos combatendo."
O ex-presidente e principal opositor de Evo Morales nas eleições anuladas do ano passado, Carlos Mesa, escreveu um artigo em que afirma que a candidatura de Añez "não faz mais do que reforçar as afirmações do ex-presidente fugido e do coro que lhe faz eco, de que na Bolívia, sim, houve um golpe de Estado".
Mesa disse ainda que quando Añez "decide deixar de lado sua principal responsabilidade, abandona a neutralidade e deslegitima a única razão pela qual ela ocupa o cargo que assumiu há mais de dois meses".
Evo Morales, em sua conta do Twitter, também criticou a decisão da presidente interina. "A autoproclamada presidente Añez disse à comunidade internacional que não deu golpe de Estado na Bolívia, que conduzia um 'governo de transição'; no entanto a sua candidatura para as eleições mostra que o seu único afã ao arrebatar o poder foi rifar nossos recursos estratégicos."
A Procuradoria Geral da República da Bolívia afirmou que a candidatura de Añez, e o exercício simultâneo do cargo, são compatíveis com a supremacia constitucional, a soberania popular e o sistema democrático de direito na Bolívia. Ainda de acordo com a Procuradoria, os concorrentes não têm a obrigação de renunciar ao cargo, podem permanecer nele e exercer plenamente todas as suas prerrogativas e poderes.
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