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Administração está recuperando a confiança da população ladarense, diz prefeito

Nelson Urt, especial para o Diário Corumbaense em 02 de Setembro de 2019

Ladário viveu seu apocalipse político na manhã de 26 de novembro de 2018, após a prisão do então prefeito Carlos Anibal Ruso, o secretário de Educação e sete vereadores, acusados de envolvimento em esquema de mensalinho. Policiais do Gaeco bateram à porta do vice-prefeito Iranil Soares para avisar que devia assumir imediatamente. Coube ao vice – até ali completamente excluído da cúpula administrativa - assumir o comando daquela que parecia ser a terra arrasada, e tentar tirá-la do fundo do poço. Todos os políticos presos, passados alguns meses, tiveram os mandatos cassados e hoje respondem ao processo em liberdade.

Nove meses se passaram e neste momento em que a Pérola do Pantanal completa 241 anos de fundação, o prefeito Iranil acredita que venceu a primeira etapa do desafio. “A grande preocupação era recuperar a confiança do servidor público e do cidadão ladarense, e isso aos poucos fomos conquistando, com diálogo, conversa olho no olho, e uma proposta de reconstrução administrativa”, diz o prefeito, ex-sargento da Marinha, graduado em teologia, de 50 anos. “Há uma crise generalizada, e a melhor resposta para a crise é a criatividade, é o que sempre digo aos funcionários da Prefeitura”, acrescenta.

Anderson Gallo/ Diário Corumbaense

Prefeito Iranil: “Assumimos uma Prefeitura desacreditada junto à população e ao funcionário. Não havia equipe técnica, não havia coordenação.”

Nesta entrevista ao Diário Corumbaense, o Pastor Iranil, como também é conhecido pela militância na igreja evangélica, fala de confiança, criatividade, de fé, de projetos e de sua visão sobre os avanços em cada um dos setores da administração municipal, que tem o foco, segundo ele, voltado para a saúde e a educação, além de um projeto piloto criando a figura do agente social para cuidar de famílias nos bairros.

Diário – Como se deu essa fase de transição?

Iranil – Assumimos uma Prefeitura desacreditada junto à população e ao funcionário. Na verdade, não esperávamos enfrentar aquela situação. Foi tudo de repente, você acorda com o Gaeco na porta de casa, dizendo que houve uma operação e que você vai assumir a Prefeitura. Assumo e encontro problemas na gestão. Não havia equipe técnica, não havia uma coordenação. Não havia um gestor que dali pudesse emanar todas as ordens e a Prefeitura seguir num sentido único. Colocamos pessoas técnicas nas secretarias para que elas pudessem ter autonomia. Os funcionários estavam desmotivados. Funcionários que ganham uma complementação e, de repente, veem que pessoas que deveriam zelar pelo recurso público estavam metidas em coisas erradas e trariam algum tipo de prejuízo, segundo constatou o MPF. Trabalhei para motivar o funcionário. Era uma questão de valorizar o serviço do funcionário, naquilo que ele faz.

Diário - O que mudou essencialmente nesses 9 meses?

Iranil - Quando o País todo enfrenta dificuldades financeiras uma boa gestão ameniza os problemas na administração. Convergir o pouco recurso disponível para aquilo que é importante. Valorizar saúde e educação. A mudança maior é na forma de gestão, de lidar com a coisa pública e na forma de tratar o munícipe, que está mais exigente hoje. O Brasil mudou, as pessoas exigem serviço de qualidade. Faço contato olho no olho, para que elas participem do processo de crescimento da cidade, entendam que elas têm de ter o zelo, que precisam valorizar a coisa pública. Esse é o caminho ideal para nossa cidade, tendo em vista que há poucos recursos. Um trabalho em conjunto com a sociedade.

Diário – O senhor estava preparado para esse desafio?

Iranil – Eu digo sempre às pessoas: você tem de se preparar para aquilo que você quer um dia, mesmo para pareça aos seus olhos algo impossível. Porque se estiver preparado, com mala pronta, uma hora o ônibus vai passar, abrir uma porta e você vai entrar. Se não estiver preparado, se não fizer a mala, vai perder o ônibus. Tenho dois mandatos como vereador em Ladário e uma pós-graduação em gestão pública e administração de cidades. É importante saber lidar com o povo e com a classe política. Desde o início eu me preparei para administrar Ladário, para esse momento.

Diário – Como foi sua gestão como vice?

Iranil – Na verdade, quando o prefeito ganhou ele disse que não precisava mais de mim, nem dos grupos que o apoiaram, que ele ia governar sozinho. Então fui levar minha vida. Fiquei bem distante da gestão e, graças a Deus, não respingou nada em nós. Eu imaginei que iria ser uma boa gestão, a gente não sabia que ia acontecer tudo aquilo, assim como muitos eleitores também ficaram decepcionados.

Diário – Agora o senhor sente mais confiança da população?

Iranil - No início o povo estava desconfiado, hoje a gente sente uma confiança na administração. Estão acompanhando e aprovando, a gente é transparente, é olho no olho. Na verdade, trata-se de um bem comum, estou aqui passageiro, estou administrando uma coisa que não é minha, ninguém é dono, tudo é coletivo. As pessoas me cobram algo coletivo, e defendo o bem do povo ladarense.

Diário - Como tem sido a parceria com a Marinha?

Iranil – A Marinha tem sido grande parceira, como sempre foi. A gente tem facilidade por ser ex-militar. Os militares, quando vão se relacionar com alguém, puxam a ficha do camarada, e na Marinha sempre fui conceito 5, fui para reserva em 2008 como primeiro sargento quando ganhei (a eleição) para exercer o cargo de vereador. A Marinha me transferiu para a reserva pela cota compulsória, ganhando os anos trabalhados.

Diário – Qual foi o principal investimento na saúde?

Iranil – Para o servidor público, sem dúvida, foi o convênio que estamos assinando neste dia 02 de setembro com a Cassems (Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul). Nas gestões anteriores, houve estudos, mas sem efetivação. Em nove meses a gente assina o convênio. Eu não quis adiar. É um sonho do servidor há muito tempo. Muitas cidades estão aderindo. Dá uma segurança ao servidor. Exames saem mais em conta, especialistas saem mais em conta, porque dependem do Estado. Não é nossa responsabilidade a especialidade. Estamos oferecendo saúde de qualidade na atenção básica. Estamos colocando especialidades dentro da medida do possível. Quando você está doente, quer um médico. Desta vez passamos dos estudos para a aplicação, para que o servidor público tenha uma opção de assistência de saúde com atuação eficiente comprovada em vários municípios. Todos os servidores terão direito ao plano (cerca de 850 concursados e 30 comissionados).

Diário - Haverá mudanças nos exames médicos pelo SUS?

Iranil – A questão dos exames pelo SUS é que as pessoas saíam (dos bairros) às 04h da manhã para o posto de saúde e não conseguiam uma ficha na regulação, eram só 15 atendimentos. Agora a gente vai para 60 exames laboratoriais diariamente, e as pessoas não vão precisar descer até aqui. Ao marcar (consulta) no posto de saúde o nome já entra no sistema, já sai com o dia marcado para fazer o exame. Vamos ofertar mais até do que a Marinha, que tem 20 fichas por dia e para especialistas você espera de 30 a 40 dias por uma vaga. Queremos algo para ter uma resposta rápida. Queremos facilitar a vida das pessoas.

Diário – Há emendas de deputados para a saúde?

Iranil – Sim, temos uma emenda de 200 mil reais, que através da deputada federal Bia Cavassa direcionamos para o município, para compra de uma pick up 4 x 4 para atender a Saúde da Família, além da compra de um carro menor. Da deputada federal Rose Modesto, vieram 160 mil reais em conta do PAD, mais 140 mil reais para atendimento de média a alta complexidade. Além disso, contamos com recursos do deputado Vander Loubet para compra de novo aparelho raio-x que vai tirar em torno de 50 chapas diárias, substituindo o antigo que tirava apenas 15.

Diário – Houve aumento do repasse na contrapartida da Prefeitura para a Santa Casa de Corumbá para cobrir atendimentos?

Iranil- Sim, passamos de 20 mil reais para 80 mil reais. Queremos que nosso munícipe seja bem atendido lá. Ladário ajuda muito bem, dentro da nossa condição. 80 mil em 12 meses são quase 1 milhão de reais  anualmente para que sejamos bem atendidos na Santa Casa.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Frota de ônibus está ultrapassada e não cumpre horários, diz Iranil

“O transporte coletivo melhora ou muda”

Diário – O usuário do transporte público coletivo continua bastante insatisfeito com o serviço prestado pela empresa concessionária da linha Ladário-Corumbá. Haverá mudanças?

Iranil - Desde 2009, quando assumi o cargo de vereador, tentava mudar (o transporte), mas sem êxito. A Agepan (Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de MS) está ativa, fazendo planejamento da linha junto à Prefeitura. Existe compromisso da empresa de melhorar a frota até o final do ano. Se não melhorar, temos opções para mudanças. Uma delas é a Canarinho (empresa concessionária) fazer o transporte Centro (de Ladário) a Centro (de Corumbá), enquanto internamente teríamos uma linha de micro ônibus (circular entre os bairros e Centro). A gente pode colocar aqui uma cooperativa de vans. A empresa (Canarinho) está com frota sucateada, ultrapassada e não atende os horários. Uma de nossas exigências é o cumprimento de horários e uma Central de Reclamação para atender o usuário. A gente quer que a coisa funcione.

Diário – Haverá mudanças nos pontos de ônibus?

Iranil – Sim, estamos implantando pontos ecológicos, que são contêineres, articulados, isso em quatro pontos primeiramente. E vamos colocar lixeiras ecológicas pela cidade.

Diário – Como estão as questões da Orla Portuária e do porto de cargas?

Iranil - Queremos construir nosso Porto Turístico e uma das parceiras é a Simone Tebet (senadora). Na primeira fase teremos a contenção do porto. Buscamos ainda a retomada da Portobras e acredito que vamos conseguir revitalizar o porto de carga e o porto de carga viva. Vamos pedir cedência à SPU (Superintendência de Patrimônio da União), queremos evitar ter ali uma autarquia. Se o município ficar responsável pela área iremos atrás de parceiros para tocar o porto.

Diário – O projeto do aterro sanitário está em andamento?

Iranil – Sim, o aterro sanitário será um consórcio entre Ladário e Corumbá. Entramos com o terreno às margens da BR-262, nas proximidades do Lampião Aceso, e Corumbá fica com a infraestrutura, com verba do Fonplata. O processo está bem adiantado. Também nas proximidades da BR-262 existe a área destinada à termelétrica, que deve ter um chamamento público para 15 de outubro e conta com interesse de um grupo da Bahia (Global Participações em Energia).

Diário – Como estão as obras e projetos nos bairros?

Iranil – Em parceria com a Marinha, que entra com mão de obra, a Prefeitura reforma a Praça da Cohab e a sede da Associação dos Moradores do Bairro Almirante Tamandaré, atendendo pedido da comunidade. Já o bairro Nova Aliança recebe feira-livre às terças-feiras, também a pedido dos moradores, e o número de feirantes está sendo significativo. Estamos trocando as lâmpadas convencionais pelas de LED e nessa primeira etapa, com novas 1 mil lâmpadas, contemplamos a rede nas proximidades de locais de maior fluxo de pessoas,  escolas, creches, praças. Com relação a asfalto, ainda faltam recursos para todas as ruas, mas procuramos fazer um serviço de maneira a deixar as vias em boas condições de tráfego. O asfalto custa muito caro: 500 mil reais por cada quadra.

Diário – A população pediu a recolocação de bancos retirados pelo ex-prefeito do canteiro central da avenida 14 de Março?

Iranil – Sim, teremos uma revitalização do canteiro central da avenida 14, e recolocação de bancos, que serão novos. Eram bancos centenários que foram retirados, sem que a população fosse ouvida. A gente não tem como recuperar os bancos antigos, destruíram todos eles.

Diário – Como está a reforma da maior escola de Ladário, a João Baptista?

Iranil – A reforma da João Baptista envolveu 11 projetos, hidráulico elétrico, paisagístico e outros. Levamos mais tempo devido à grandeza da reforma. Na verdade, da antiga escola vão ficar só as paredes, vamos construir praticamente outra escola. E queremos que seja uma escola padrão, referência, que se destaque na região. Nesta primeira semana de setembro vamos lançar o edital. Outra obra emblemática é a construção da quadra da Escola Rosa Pedrossian, obra que estava parada e retomamos agora. E a reforma da Escola Eduardo Malhado, que devemos entregar até o dia 06 de setembro.

Diário – Quais as metas para revitalizar os esportes na cidade?

Iranil - O esporte estava parado. Pegamos o Estádio e o Poliesportivo interditados pelo Corpo de Bombeiros. Nunca vi a Fundação (de Esportes) fazendo algo continuado. Dava troféu, bola, rede. Precisamos fomentar o esporte como a característica social. Tirar o jovem das ruas, da ociosidade, dar ocupação. Não tem como fomentar o esporte profissional, mas o esporte com sentido social, para tirar a criança da rua. Estamos criando uma escolinha de futebol para cada bairro, campeonatos interbairros, além de adquirir brinquedos para promover momentos de lazer nos bairros.

Diário – A cultura em Ladário, por suas raízes e tradições, sempre foi muito atuante. E como está agora?

Iranil – Ladário terá um polo do Festival América do Sul (em novembro), com oficinas e outras atrações. Vamos retomar a Banda Municipal (Acyr Barbosa) e o Coral Pérola do Pantanal, composto por funcionários, e incentivar grupos que já são tradicionais na cultura, fomentar de alguma maneira, além de apoiar festividades religiosas que ocorrem nos bairros. Estamos dando atenção a grupos esquecidos e minoritários como o LGTB.

Diário - Como o senhor encaminha sua gestão?

Iranil - Minha gestão não tem hierarquia, qualquer um pode chegar aqui e conversar, apontar, sugerir para melhorar. Ninguém sobrevive sem criatividade. Não tenho o caráter punitivo, mas de encontrar soluções. O funcionário (municipal) precisa ser competitivo. O setor privado oferece o mesmo serviço, e oferece um serviço de qualidade ao munícipe, que é o cliente. Temos um vizinho forte, que é Corumbá. As pessoas devem ter interesse em visitar e morar em Ladário.

Diário – Como está o setor rural?

Iranil – Temos 85 lotes no Assentamento 72. Queremos ver esses assentamentos produzirem, por meio de implementos agrícolas e o kit horta. Famílias que produzem serão fomentadas, com apoio da Agraer, do IFMS e da UFMS.

Diário – O senhor tem algum projeto específico para a Assistência Social?

Iranil – Sim, o projeto Neemias. É o nome de personagem bíblico que recebeu a missão de reconstruir uma cidade que estava arrasada. Foi em outra época (antes de Cristo), mas os princípios não mudam, são os mesmos, e podem ser aplicados na atualidade. Ladário é uma cidade pequena, onde todos sabem de tudo. E a reconstrução de uma cidade passa por muitos fatores. O Estado é laico. Mas Ladário é uma cidade cristã em sua maioria. Só conseguimos construir quando envolvemos as pessoas. E vejo que a base das mazelas sociais está dentro das famílias. Precisamos acompanhar essas famílias.

Diário – Trata-se de um projeto piloto?

Iranil – Sim. Nesse projeto piloto vamos delimitar área de ação de 70 casas no bairro Alta Floresta. Vamos criar a figura do agente social, e um deles ficará encarregado de cuidar de 20 famílias. Vai acompanhar o jovem, o idoso. O objetivo é cuidar da família. Prevenir questões sociais. Trabalhar em conjunto com todas as religiões. Se for preciso, lajotar casas, banheiros, mudar a realidade do bairro. Tornar um bairro bonito. Colocar criação de codorna no quintal, criar horta suspensa, ser um bairro produtivo. Mudar a cultura para mudar a situação social.

Diário – Como o senhor define Ladário em uma frase?

Iranil – Ladário, a terra que emana leite e mel. Trata-se de uma frase bíblica, que representa terra de prosperidade, agradável para se estabelecer.

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