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Xadrez é ferramenta para “xeque-mate” na ressocialização de reeducandas em Corumbá

Leonardo Cabral em 25 de Fevereiro de 2019

Leonardo Cabral/ Diário Corumbaense

Com o curso, as reeducandas ganham como prêmio, redução de pena, estabelecida por critérios do Juiz

Dezesseis reeducandas do Estabelecimento Penal Feminino “Carlos Alberto Jonas Giordano” receberam na última sexta-feira, 22 de fevereiro, certificados do projeto “Xadrez que Liberta”. O projeto é realizado por meio de parceria entre a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), Poder Judiciário, Conselho da Comunidade e Clube de Xadrez Pantanal.

Idealizado pelo Juiz da primeira Vara Criminal de Corumbá, André Luiz Monteiro, o “Xadrez que Liberta”, nasceu na casa do próprio magistrado, ao ver o filho praticando o esporte que muito estimula o pensar do atleta.

“Percebi resultados práticos dentro de casa ao ver meu filho nas aulas de xadrez. Então, propus ao Augusto Samaniego, professor dele na época, essa parceria, para que pudéssemos dar início ao projeto que ganhou uma proporção tão grande, com finalidade não apenas de ensinar, mas de promover uma verdadeira ressocialização do ponto de vista individual de cada participante”, explicou ao Diário Corumbaense o juiz André Monteiro.

Leonardo Cabral/ Diário Corumbaense

Juiz, André Luiz Monteiro, idealizador do projeto no presídio

Na avaliação do juiz, o xadrez tem a capacidade de desenvolver a concentração e traz em seu jogo o famoso “xeque-mate”, uma jogada utilizada pelos atletas que serve como inspiração para atitudes na vida. “O xadrez desenvolve a capacidade de acreditar em si mesmo, do entendimento, estimula a pessoa a estudar. É possível a gente dar um xeque-mate nas coisas ruins e desenvolver nossas potencialidades e virtudes e o xadrez é uma excelente ferramenta para que isso aconteça”, completou o juiz.

Entendendo o recado, a interna Andreia da Silva, que está presa há cinco anos e onze meses, disse que o xadrez a ajudou a melhorar nos ideais depois que conseguir a sua liberdade.

“A gente quando cai num lugar desses para pagar nosso erro diante da sociedade, temos que aproveitar as coisas boas, tudo que vem pra gente aqui tem que ser aproveitado de forma intensa, pois assim, vemos que não estamos excluídas totalmente pela sociedade e que eles querem que tenhamos essa oportunidade para voltar e melhorar. E diante disso, o xadrez vem me possibilitando essa conquista na melhoria não só de comportamento, como na forma de pensar e mudar de vida daqui pra frente”, contou a este Diário a detenta que ainda fez questão de revelar que as aulas de xadrez a fizeram renascer.

“Antes do curso eu estava muito depressiva, no início das aulas não dei muita importância, mas no decorrer, percebi que isso me fazia bem, me dava a oportunidade de mostrar que eu posso, eu consigo. O jogo estimula o desafio e dentro disso, busco esse ideal de uma vida melhor lá fora”, completou emocionada ao lembrar dos filhos e netos.

Leonardo Cabral/ Diário Corumbaense

As detentas Marry Sthefanny de Oliveira e Andreia da Silva disseram que a aula vem mudando rotina no local

Toda prática de qualquer esporte ajuda no desenvolvimento de quem o pratica, seja na forma de pensar ou no comportamento individual. E por meio das aulas de xadrez que a reeducanda Marry Sthefanny de Oliveira, gestante de oito meses, conseguiu melhorar o comportamento no estabelecimento.

“Eu era muito explosiva, era de fato, complicada a convivência logo que cheguei. Mas com as aulas e com os conhecimentos sobre o xadrez, foi possível ir buscando a tranquilidade e hoje, garanto que consigo conviver de maneira mais harmoniosa. Me fez pensar em como e que maneira devo agir diante de uma situação, sem ser explosiva e também naquilo que quero para meu futuro, que é uma vida melhor”, contou Marry.

O xadrez de fato é mudança no estabelecimento

A diretora interina do presídio feminino, Elizandra Assis da Silva, destacou de fato que não é apenas o xadrez, mas outros cursos e atividades em prol das detentas que as ajudam na inclusão à sociedade novamente.  

“Costumo falar para cada uma delas que é importante aproveitarem tudo que se é oferecido aqui dentro, pois de cada atividade se aprende algo e isso reflete na ressocialização de cada uma ao sair daqui. Serve de incentivo”, destacou a diretora Elizandra.

O professor de xadrez Augusto Samaniego, citou sobre a autoestima e mudança no comportamento que foi sentido por conta da realização das aulas.

“Essa é a terceira turma a ser formada e fico muito contente e satisfeito em poder estar aqui mais uma vez. Sabemos que elas erraram, mas todos nós erramos e temos direito a uma segunda chance e é através do xadrez que elas estão percebendo isso, já que possibilita o poder de pensar e de escolha naquilo que elas querem para o futuro”, mencionou Samaniego.

As reeducandas ganham como prêmio, redução de pena, estabelecida por critérios do juiz, e a Fesmax (Federação Sul-mato-grossense de Xadrez) faz a validação dos certificados.  Conforme a Lei de Execução Penal, a cada 12 horas da carga horária do curso, elas ganham 1 dia de redução de pena.

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