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Brincadeira do Facebook mostra mulheres que venceram o câncer em Corumbá

Leonardo Cabral em 29 de Janeiro de 2019

Já parou para imaginar como você estará daqui 10 anos? Pois é, uma brincadeira na rede social, que viralizou nos últimos dias e que vem tomando conta de usuários na internet, consiste em publicar uma foto própria de dez anos atrás e em seguida uma selfie atual, analisando as mudanças sofridas durante este período.

O viral do momento conhecido como o #10YearsChallenge, remete nostalgia aos internautas. E a partir dessa brincadeira, pacientes que fazem parte da Rede Feminina de Combate ao Câncer e que venceram a doença resolveram entrar na “onda” do momento também. Uma sensação de felicidade, alívio e acima de tudo, vitória, como as próprias guerreiras definem.

Kelly Coffacci de Medeiros descobriu o câncer de mama em 2009, há exatos 10 anos. Ela disse que foi um “murro” tão grande no momento em que soube, que, de fato, naquele tempo, jamais poderia imaginar que estaria contando sua batalha dez anos depois.

“Eu senti um caroço no meu seio em janeiro de 2009. Não dei importância e segui normalmente trabalhando. Em março do mesmo ano, meu primo que sabia da situação me pegou pelo braço e me levou ao médico. Foi uma sensação totalmente de surpresa ao ver a cabeça do doutor balançando, dizendo sobre os riscos e me mandando fazer exames para confirmar o que de fato já imaginava ser”, lembrou Kelly ao Diário Corumbaense.

Reprodução Rede Feminina

"Jamais me imaginaria estar contando minha batalha dez anos depois de descobrir a doença", diz Kelly

Kelly conta que dos exames até o resultado que confirmou a doença foram momentos de desespero, mas, que não podia demonstrar para sua família, já que além dela, a mãe também estava com problemas de saúde. “Tinha que ficar forte por três pessoas: minha mãe que neste tempo foi diagnosticada com Lúpus e pelas minhas duas filhas ainda pequenas. Uma barra que suportei e jamais imaginaria que 10 anos depois contaria todo o processo enfrentado”, frisou.

Entre idas e vindas ao médico tratando a doença que desestabilizou seu emocional, ela revela que ao passar o susto, com ajuda do esposo, filhas e amigos, conseguiu se manter firme. “Sabemos que é uma barra muito difícil, mas é necessário ter ou tirar de onde for, forças para lutar nessa batalha. Os amigos mais próximos são essenciais. Cada gesto de apoio é fundamental”, mencionou.

Em setembro, depois de todos os procedimentos, Kelly passou pela cirurgia de retirada da mama, um dos momentos mais marcantes no processo da doença. “É difícil você se sentir mutilada, se olhar no espelho e ver que não tem mais um pedaço do seu corpo, mas sei que é necessário e faz parte do tratamento. Foi muito constrangedor enquanto mulher”, lembrou do momento e que logo em seguida teve início a quimioterapia.

Outro ponto marcante foi o processo de queda dos cabelos. Sempre tive os cabelos compridos e com a doença vi pouco a pouco meus cabelos caindo. Eu só chorava, porém sabia que tudo isso fazia parte até que um dia tomei coragem e resolvi raspar a cabeça com a ajuda de amigos que são cabeleireiros. Foi muito difícil, depois que tomei a decisão, cheguei em casa, me tranquei no banheiro, peguei uma toalha e a mordi, chorando e gritando muito, uma maneira encontrada de amenizar todo aquele sofrimento”. disse. 

Foram oito anos de luta contra o câncer de mama. A tão sonhada notícia da vitória veio em novembro de 2017. “Nesse período tive mudança de médicos e em novembro de 2017 recebi a notícia que não precisava mais continuar com o tratamento na oncologia. Após a tempestade, foi a notícia mais esperada durante esses anos. A alegria tomou conta e finalmente pude gritar para os quatro cantos que eu havia vencido a batalha”, enfatizou Kelly que estava bastante emocionada durante a entrevista a este Diário.  

Pelo mesmo processo, Lenir de Carvalho também travou sua guerra contra o câncer de mama. Ao receber a notícia em abril de 2011, o desespero e o medo foram as únicas sensações que ela sentia.

“Jamais esperamos uma notícia dessa. Sempre é com os outros, nunca com a gente. Mas de fato tive que encarar a doença que foi descoberta ainda no início após exames de rotina. Era bem doloroso, não aceitava e guardei comigo por uma semana até que contei para a minha patroa na época e ela me deu forças para que pudesse contar para meus irmãos”, lembrou Lenir.

Reprodução Facebook

Lenir descobriu o câncer em 2011 e travou por sete anos a luta contra a doença

Desde então, ao se abrir com a família e amigos, Lenir conta que se sentiu mais encorajada, porém o medo ainda era muito grande em relação à doença e também aos procedimentos médicos que iria encarar. “Como foi bem de início logo fui encaminhada ao oncologista que de imediato já falou sobre a cirurgia e todos os processos pelos quais os pacientes passam. A retirada de parte da mama foi um dos momentos mais dolorosos, mas encarei com força e o sentimento de que não me entregaria. Tive que ser e fui forte. O apoio dos meus irmãos e amigos foi fundamental”, declarou.

Após a cirurgia, Lenir começou o tratamento de quimioterapia, um dos momentos também mais marcantes em sua vida. “Foi um processo que marcou a queda dos meus cabelos. Eu não queria aceitar. Fiz de um tudo para que não acontecesse, mas foi inevitável. Relutei muito, mas não adiantou e sabia que isso aconteceria, fazia parte e era fundamental para se chegar até a vitória”, disse ao lembrar do momento em que decidiu raspar a cabeça e teve uma surpresa. Seu sobrinho, que ao vê-la, demonstrou uma reação emocionante, a abraçou e lhe fez um pedido. "Ele me chamou para sair, dar uma volta. Aquilo pra mim foi de uma força tremenda, pois me sentia um extraterrestre, um ser de outro mundo, mas para ele estava tudo normal. Foi um momento que ganhei muito mais força”, garantiu.

Sete anos, esse foi o tempo mais sofrido, doloroso e que terminou com um final feliz para Lenir. “Sete anos de luta até a minha última consulta, só lembro do médico dizendo, 'você venceu, saia e toque o sino. Não quero mais ver você por aqui'", relembrou emocionada, com um sorriso estampado no rosto. “Fico até arrepiada ao lembrar de tudo isso até a palavra final do médico dizendo sobre a alta. É uma sensação de leveza, alívio e acima de tudo, vontade pela vida, e levo isso não só para mim, como para outras mulheres, sejam elas com a doença ou não”, mencionou Lenir que faz palestras em sua igreja para as mulheres, reforçando a importância de exames rotineiros e preventivos, “foi assim que descobri o câncer. É preciso prevenção”, reforça.

Da brincadeira, nasce apoio considerado fundamental 

A brincadeira do #10YearsChallenge, ao menos na Rede Feminina, acaba sendo um aliado a mais na luta contra o câncer. Vendo as colegas que receberam alta médica, a paciente Dionizia Lobo, que descobriu o câncer de mama em dezembro do ano passado, falou que sua reação no momento foi de desespero e muito choro.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Dionizia começou sua batalha contra o câncer em dezembro de 2018

“O mundo desaba sobre você. A primeira coisa que pensei foi em minha filha. Chorava muito, falei com minha mãe e minha irmã que me deram total segurança para conversar com a minha filha. Desde então coloquei a cabeça no lugar e me preparei para enfrentar essa guerra. Tenho a certeza que conseguirei vencer, ainda mais vendo esses exemplos de vitória. Me dá mais força nesse combate”, enfatiza.

Apesar de enfrentar a doença, Dionizia lembra que seu pai foi diagnosticado com câncer, mas após muita luta, venceu. “Ele já é falecido, mas não foi por causa do câncer, que acabou se curando, mas por problemas cardíacos. Eu tenho fé e a certeza que também vencerei e espero estar aqui para postar uma foto minha do antes de depois”, finalizou a paciente que viu na amiga Lenir, uma aliada contra a doença. “Lenir está me ajudando muito. A peruca que uso agora foi ela quem me deu, era dela. Isso pra mim é essencial. O apoio é de extrema importância”, disse Dionizia em agradecimento à amiga.

“#10YearsChallenge” e Rede Feminina

Para as duas guerreiras, Kelly e Lenir, participar da brincadeira foi mais do que postar uma foto, foi demonstrar para as colegas que estão passando pelo mesmo processo, que sim, é possível vencer. Basta querer e acreditar.

“Não é fácil para ninguém, mas resolvi postar a minha foto de peruca comparando com uma foto minha atual. A imagem remete simplesmente a sensação de vitória e acima e tudo mostra que é possível, basta crer e lutar com todas as armas”, diz Lenir.

Já Kelly, apenas agradece e resume todo o processo em apenas duas palavras: “Vitória e Fé”.

Responsável por incentivar as mulheres a entrarem na brincadeira, a voluntária da Rede Feminina de Combate ao Câncer, Luciana Cândia, falou que o momento acaba sendo uma descontração, e que pode influenciar as outras pacientes que ainda estão em tratamento pela busca da cura.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Sabina, responsável pela Rede Feminina e a voluntária, Luciana Cândia, incentivadora da brincadeira

“Sabemos que cada caso é um caso, mas mostrar toda luta enfrentada é simplesmente um incentivo a mais para quem está passando pelo processo de tratamento que exige muita força e dedicação. Além disso, distrai a cabeça delas, é um entretenimento a mais”, mencionou Luciana que criou um grupo pelo aplicativo WhatsApp, onde todas estão incluídas. “Fica bem mais fácil o contato com elas e também nos ajuda com nossas atividades”, completou.

Já para a presidente da Rede, Sabina Acosta, a brincadeira é simplesmente mais um aliado na batalha contra a doença. “Aqui temos muitas atividades e qualquer uma que seja, para ajudar no tratamento, abraçamos. Tudo é importante para que elas se sintam acolhidas e saibam que não estão sozinhas. Cada um dos nossos colaboradores estão aqui para ajudar”, declarou Sabina.

A Rede

A Rede Feminina de Combate ao Câncer de Corumbá atende a pacientes não apenas das zonas urbanas de Corumbá e Ladário, como também de assentamentos e bolivianos. Sobre o total de pacientes os números são bastante dinâmicos pela quantidade contínua de pessoas que entram e saem do cadastro da instituição.

A Rede auxilia pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) com entrega de cestas básicas, fraldas e até com suplemento nutricional, fundamental para quem está passando pelo processo de quimioterapia. Esses pacientes são cadastrados e passam a receber ajuda tanto de alimentos quanto financeira.

Para isso, a Rede conta com o voluntariado de profissionais e também das próprias mulheres que receberam alta médica e ajudam nos trabalhos referentes à assistência aos pacientes.

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