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"Polícia Federal corta na própria carne", diz delegado após operação que prendeu agentes em Corumbá

Ricardo Albertoni em 20 de Novembro de 2018

Fotos: Ricardo Albertoni/Diário Corumbaense

Delegado da PF em MS, Cleo Mazzotti, que esteve à frente da operação e o delegado chefe da PF de Corumbá, Sérgio Macedo

Um policial federal, um servidor administrativo e um contratado da PF, além de dois integrantes de empresas de turismo foram presos pela Polícia Federal durante ação deflagrada nesta terça-feira (20) denominada "Operação Caronte".  

A ação é resultado de um ano de investigações que tinham o objetivo de desbaratar esquema de entrada ilegal de estrangeiros no Brasil. De acordo com o delegado regional executivo da Polícia Federal de Mato Grosso do Sul, Cleo Mazzotti, que esteve à frente da operação, os envolvidos chegaram a lucrar milhares de reais se aproveitando do conhecimento que tinham sobre os procedimentos para ocultar os atos ilícitos. 

"Valores eram da ordem de R$ 300, R$ 200, dependia muito e entende-se que os envolvidos no esquema conseguiam lucrar milhares de reais todos os meses. É um procedimento complexo, é uma investigação difícil, acontece de uma forma oculta, sazonal, por pessoas que sabem disfarçar sua atividade, então isso demanda um tempo porque você tem que ter uma comprovação, chegar nessa fase com todo o esquema demonstrado", informou Mazzotti.

A operação é resultado de um ano de investigações que tinham o objetivo de desbaratar esquema de entrada ilegal de estrangeiros no Brasil

Segundo o delegado, o sistema funcionava de duas formas mais comuns. Em uma acontecia a passagem do estrangeiro, na maioria bolivianos em direção à São Paulo, pelo posto de imigração onde apresentavam suas tarjetas e passavam por uma entrevista forjada e tinham os dados inseridos no sistema. Em outra modalidade, eles simplesmente recebiam as tarjetas de imigração, não passavam sequer pelo posto na fronteira. Posteriormente os dados eram inseridos no sistema e eles seguiam para o interior do País. O delegado afirmou que havia uma variante complexa no esquema em que estrangeiros que tinham multas ou impedimento de entrada no País também tinham os dados inseridos no sistema com modificação de uma letra ou uma parte do nome, o que permitia que o estrangeiro entrasse no Brasil com a "tarjeta" de turista.

No esquema, os dois integrantes de empresas de turismo que faziam parte da organização e que não tiveram os nomes divulgados pela PF, seriam encarregados de fazer a ligação entre os estrangeiros e os agentes cooptados recebendo as tarjetas e realizando a passagem. 

Cada um dos presos, dentro de suas atividades, responderá por promover, construir, financiar ou integrar organização criminosa, que tem pena de três a oito anos; inserção de dados falsos em sistema de comunicação, que tem pena de dois a doze anos; corrupção passiva, ativa e peculato-furto. Esses três crimes têm penas de dois a doze anos, em caso de condenação judicial.

A operação foi deflagrada assim que a PF obteve comprovação de que o esquema era realizado. Aproximadamente 50 policiais federais estiveram empenhados no cumprimento de  cinco prisões preventivas e seis mandados de busca e apreensão. Ocorreram duas prisões em flagrante por posse irregular de armas e munições e os policiais encontraram na casa de um dos acusados a quantia de 14 mil reais, documentos e tarjetas de imigração.

De acordo com a PF, os servidores presos não deverão permanecer em Corumbá. As buscas resultaram em coleta de mais material probatório e agora esses materiais serão analisados. Os presos ficarão à disposição da Justiça e já indiciados a ideia é que o inquérito seja finalizado o mais rápido possível, inicialmente 15 dias, e que seja encaminhado ao Ministério Público, que fará denúncia ou retornará pedindo mais informações para que assim tenha início uma ação penal.

Cortar na própria carne

Também presente na coletiva, o delegado chefe da PF de Corumbá, Sérgio Macedo, explicou que o procedimento de investigação foi realizado por órgão central. Já o delegado Cleo Mazzotti afirmou que ações como essas são necessárias para o fortalecimento da instituição. 

"Hoje é algo que a gente faz cortando na própria carne. É obvio que não gostaríamos que tivessem se desviado do caminho, mas a Polícia Federal corta na própria carne, é isso que estamos fazendo. Detectamos quem se desviou, que é uma parcela mínima e essas pessoas são retiradas, extirpadas, para exatamente outros policiais que trabalham de uma forma honesta em uma fronteira que é extremamente difícil de atuar, possam seguir a sua função", destacou.

Não caiam

O delegado regional reforçou que todas as pessoas que procuram órgãos públicos, em especial a Polícia Federal, não devem pagar por serviços para terceiros fora as taxas previstas em lei. As pessoas devem procurar diretamente os órgãos públicos para obterem a informação de quais taxas especificamente deverão ser pagas. 

"Não caiam nessa situação de pagar para alguém, para um terceiro ou alguém fora, porque você está sendo vítima ou dependendo do seu conhecimento, até partícipe de um delito", finalizou Mazzotti. 

Caronte

O nome da operação faz referência ao personagem mitológico, um barqueiro que somente atravessava as pessoas para outro plano mediante o pagamento de uma moeda, em alusão à corrupção praticada para permitir acesso ao território nacional.