Campo Grande News em 20 de Setembro de 2018
Em depoimento na sede da Polícia Federal em Brasília como parte das investigações da Operação Vostok, o corretor de gado José Ricardo Guitti Guimaro, o “Polaco”, negou ter sofrido “qualquer tipo de ameaça” vinda do advogado Rodrigo Souza e Silva, filho do governador Reinaldo Azambuja (PSDB). Além disso, descartou ter mantido algum tipo de contato com o chefe do Executivo estadual e que as vendas de carne citadas como falsas – a fim de justificar pagamentos de propinas – eram legítimas.
As informações foram prestadas pelo advogado José Roberto da Rosa, contratado pela família de Polaco na semana passada para tratar de detalhes quanto a apresentação de seu cliente. O depoimento contradiz acusações de executivos da J&F contra integrantes da gestão de Reinaldo, apontando que benefícios fiscais para que frigoríficos da JBS operassem no Estado vieram em troca de pagamentos.
Guimaro foi alvo do único mandado de prisão não cumprido na Vostok – operação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal que apura o suposto esquema de uso de notas frias de venda de gado para alicerçar pagamentos de propinas em troca dos incentivos fiscais.
A ação, deflagrada em 12 de setembro, envolveu 13 prisões temporárias, incluindo a de Rodrigo. Com validade de cinco dias, elas expiraram no domingo passado, quando todos os investigados foram liberados. Polaco, porém, alegou estar no interior do Pará, em local incomunicável, não sendo encontrado pelas autoridades. A Vostok o apontou como operador no esquema de uso de notas frias para justificar os pagamentos ilegais, denunciados pelos empresários Joesley e Wesley Batista, do Grupo J&F.
À PF, segundo Rosa, Polaco negou ter sofrido ameaças de Rodrigo, com quem disse ter contato apenas durante a campanha eleitoral. Sobre Reinaldo, ele afirmou que nunca teve contato com o governador. Ao longo de cinco horas de depoimento, ele confessou receber propinas, usando nomes de agentes públicos – alguns deles investigados – e usava uma conta do Frigorífico Buriti, usado no esquema e com o qual mantinha contrato de terceirização, para movimentar pagamentos da JBS; bem como que as vendas de carne apontadas como fraudulentas não foram simuladas.
Vostok
Os mandados de prisão e os 41 de busca e apreensão haviam sido autorizados pelo ministro Félix Fischer, do STJ (Superior Triubunal de Justiça), a partir de depoimento dos irmãos Batista. Os delatores indicaram pagamentos por meio de notas frias e entrega de dinheiro em mãos. Só as notas do frigorífico Buriti, emitidas de 10 de março a 15 de julho de 2015, totalizaram R$ 12,9 milhões. Outros R$ 15,4 milhões teriam saído de notas falsas em nome de Elvio Rodrigues (R$ 7,6 milhões), Rubens Massahiro Matsuda (R$ 383 mil), Agropecuária Duas Irmãs Ltda (R$ 886 mil), do deputado estadual José Roberto Teixeira (R$ 1,6 milhão), Miltro Rodrigues Pereira (R$ 1 milhão), Zelito Ribeiro (R$ 1,7 milhão), o ex-deputado estadual Osvane Aparecido Ramos (R$ 847 mil), Francisco Carlos Freire de Oliveira (R$ 583 mil), o ex-prefeito Nelson Cintra Ribeiro (R$ 296 mil); e o conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado), Márcio Monteiro (R$ 333 mil)...
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