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30 de dezembro, dia de agradecer e renovar pedidos por intermédio de Iemanjá

Lívia Gaertner em 30 de Dezembro de 2017

Anderson Gallo/Arquivo Diário Corumbaense

Prainha do Porto Geral de Corumbá recebe centenas de pessoas a cada 30 de dezembro

Manifestação de fé espontânea da população, a Louvação à Iemanjá é um momento que se repete há muitos anos em Corumbá, o que já o tornou uma tradição na cidade. A cada dia 30 de dezembro, os adeptos das religiões de matrizes africanas, com predominância, da Umbanda e Candomblé, se reúnem às margens do rio Paraguai, na região da Prainha do Porto Geral, onde agradecem o ano que se finda e renovam os desejos para o que se inicia.

Os religiosos acreditam que as águas do rio sejam um canal que conduz as orações, os pedidos de positividade até Iemanjá, orixá (divindade do panteão africano) associada ao amparo e à proteção materna.

“Ela é considerada a mãe, é como Maria, Nossa Senhora para os católicos. Através dela, conduzimos até Oxalá (orixá associado à criação do mundo e da espécie humana) nossos pedidos de saúde e paz”, disse Bruno Chauvet (Terekitalandê), filho de Axé Imukaindé, casa de candomblé nação Angola instalada em Corumbá, que tem como o responsável Bàbá Deá Odé (Deamir Ribeiro).

A prainha do Porto Geral se ilumina com inúmeras velas e se movimenta com o som dos atabaques e um grande número de pessoas, sejam representando as casas religiosas, ou numa manifestação particular, que buscam projetar os melhores sentimentos durante esse momento de renovação.

“É uma troca de energia muito grande entre as pessoas, entre as pessoas e a natureza representada no rio. É o único momento no ano que as casas se encontram e também se mostram publicamente para a população. A prainha fica cheia de gente de toda crença, o que faz com que a Louvação também sirva como um grito à intolerância religiosa”, destacou Chauvet.

A manifestação do dia 30 de dezembro em Corumbá é tão forte que grupos de outras cidades do Estado, principalmente da Capital, Campo Grande, se deslocam até à cidade pantaneira para participar da Louvação à Iemanjá nas águas do rio Paraguai.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Ialorixá Elenir Batista substituiu a tradicional barquinha de isopor por uma cesta e o motivo é ambiental

No Centro Espírita de Umbanda Pai Oxalá, localizado no bairro Nossa Senhora de Fátima e comandado pela Ialorixá Elenir Batista Rachid, a preparação começou dias antes quando a barca que irá ser oferecida às águas para Iemanjá já está pré firmada, ou seja, com a presença de uma força ou poder das entidades ou orixás.

“O que essencialmente precisa ter na barca é fé e amor. Independente do que você for colocar dentro dela, na hora que você for colocar uma flor, estiver ofertando um perfume, uma fruta, é sua fé que faz, é o agradecimento porque dia 30 não é o dia de Iemanjá, mas é o dia que agradecemos a ela como mãe. A hora que soltamos a barca é um agradecimento e também a renovação dos pedidos para o novo ano”, explicou.

“Como ela representa a mãe, por meio dela agradamos todos os orixás. Ela está dentro de uma casa onde temos filhos de todos os orixás e todos a tem como mãe, então ofertando nosso agradecimento a ela, estamos ofertando a todos os outros orixás”, disse.

Ela contou ao Diário Corumbaense que esse ano optou por substituir a tradicional barquinha de isopor por uma cesta e o motivo é ambiental, já que as fibras usadas na confecção da cesta se incorporam ao meio bem mais rapidamente do que o isopor, porém a ialorixá afirma aquilo que nunca muda ano após ano. “Eu peço paz porque penso que se tivermos paz e saúde tudo anda. Eu não faço previsões, mas quando faço oferendas peça paz, vida. Que essa paz venha e que 2018 seja melhor que 2017”, revelou Elenir.

Para receber a grande quantidade de pessoas na noite de 30 e madrugada de 31 de dezembro, a Prefeitura Municipal de Corumbá promove limpeza e reforça a iluminação no local, além de disponibilizar banheiros químicos.

Anderson Gallo/Arquivo Diário Corumbaense

Prainha se ilumina com inúmeras velas e se movimenta com o som dos atabaques

A Orixá

Em seu culto original, Iemanjá é associada aos rios, à fertilidade feminina, à maternidade, ao começo do mundo e à continuidade da vida. Iemanjá é celebrada em 2 de fevereiro principalmente pelos praticantes do candomblé e praticantes de diversas religiões dedicam a ela o dia 31 de dezembro.

O nome Iemanjá significa "mãe cujos filhos são peixes" em iorubá, língua falada em parte da África. Ela é a deusa da nação de Egbé, onde existe o rio Yemojá (Yemanjá). No Brasil, ela é considerada a rainha das águas e dos mares.

No sincretismo, Iemanjá é relacionada à Virgem Maria, o que, segundo Verger, etnólogo, antropólogo e pesquisador francês que viveu grande parte de sua vida em Salvador, teria ocasionado uma equivalência de importância dentro do panteão iorubá, tornando-a a única do mesmo com um sincretismo iconográfico acabado.

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