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Aluna com paralisia cerebral e professor vencem desafios na vida e no esporte

Ricardo Albertoni em 12 de Dezembro de 2017

Ricardo Albertoni/Diário Corumbaense

O professor de judô Luiz Paulo Ribeiro e a aluna Mikaelle dos Santos Assis são exemplos de persistência

A concepção de vitória no esporte nos remete automaticamente à conquista de medalhas, troféus, pódio. Uma pessoa se destacar frente a outros competidores por uma maior habilidade ou técnica conquistada por meio de horas diárias de treinamento é sem dúvida algo que merece reconhecimento. 

Mas a vitória e realização proporcionadas pelo esporte nem sempre precisam envolver premiações. Exemplo disso pode ser visto em um projeto de judô realizado no conjunto Vitória Régia, bairro Cristo Redentor, em Corumbá. Lá, assim como em qualquer ambiente em que uma modalidade esportiva é praticada, podemos encontrar histórias de superação, exemplos de persistência e símbolos destas vitórias sem pódio. Dois deles se destacam: Mikaelle dos Santos Assis e Luiz Paulo Ribeiro, aluna e professor, mas também professora e aluno.

A judoca de 09 anos, nasceu com paralisia cerebral, grupo de sintomas caracterizado por dificuldades no controle da postura e do movimento causado por alguma anomalia ou lesão cerebral entre o estágio fetal e os dois anos de idade. De acordo com a mãe da menina, Sebastiana Aparecida Assis dos Santos, os médicos disseram que a condição neurológica foi adquirida devido a uma diabetes durante a gestação. Quando Mikaelle completou três meses e meio, após a primeira crise convulsiva da filha, Sebastiana percebeu que havia algo diferente com a pequena.

Ricardo Albertoni/Diário Corumbaense

"Mika" pratica judô há dois anos

O diagnóstico veio antes de a menina completar um ano de idade. Após tempos difíceis, lidando com as convulsões causadas pela epilepsia entre outras alterações resultantes da lesão cerebral, a mãe percebeu que o esporte poderia ajudar.

Há seis anos, "Mika" pratica esporte, e natação e bocha são suas modalidades preferidas. Nesse período, as crises deram uma trégua e a mãe identificou que a convivência com outras crianças auxiliou no desenvolvimento da menina e por isso a matriculou na escola de ensino normal. Hoje Mikaelle cursa o 2º ano do ensino fundamental na escola estadual Maria Leite. Foi lá que ela conheceu o professor de educação física, Luiz Paulo Ribeiro, que além do projeto Mais Educação naquela instituição, que oferece oficina do Judô, mantém outros dois projetos de esporte gratuito à crianças de Corumbá, na Escola Municipal Ângela Maria Perez e no centro comunitário do Vitória Régia. 

“Tive a sorte a felicidade de Deus ter colocado o professor Luiz Paulo na vida dela. Ele comentou comigo sobre o projeto e eu levei para saber como ela reagiria. No primeiro dia ela já quis ir para o chão e o Luiz a aceitou prontamente”, explicou Sebastiana. 

Ao Diário Corumbaense, Luiz Paulo destacou a importância do esporte inclusivo. Ele afirmou que é fundamental que todos tenham a oportunidade de praticar esportes e que mais importante que as conquistas, são as pequenas vitórias dos praticantes diante das próprias limitações, além da formação do cidadão para a vida.

Ricardo Albertoni/Diário Corumbaense

Mikaelle se envolve e interage nas atividades, desde o momento de arrumar a faixa até as simulações de luta

É prazeroso. É emocionante saber que a gente está fazendo o bem para alguém. A função do esporte, mais do que formar um grande campeão é você oportunizar para a pessoa essa realização. Essa vitória não precisa ser uma medalha olímpica, pode ser uma cambalhota que não sabia fazer, às vezes só aprender a saltar com o pé direito ou o esquerdo já é o suficiente para que alguém seja vitorioso. Mais do que apenas formar o campeão olímpico, queremos formar pessoas de bem que sejam preocupadas com os outros”, disse  Luiz Paulo explicando que além dos golpes, as aulas consistem em transmitir  ensinamentos sobre as diferenças.  “Trabalhamos sobre as limitações de cada um, em não rir quando um colega não sabe fazer algo, e ao invés de rir, ir lá e ajudá-lo. Nós temos que incentivar essas crianças, a juventude em geral, para que ao invés de apontar o dedo estenda a mão, esse é o 'x' da questão”,  afirmou.

Os benefícios do judô na vida de Mikaelle vão além da ausência das crises convulsivas. A menina de gênio forte, impaciente diante de situações em que não recebia atenção prioritária, aprendeu a esperar. A mãe relata que a filha se tornou mais tranquila durante as aulas e aprendeu a aguardar a vez para realizar os exercícios com a ajuda do professor. O pequeno movimento das pernas também foi uma das evoluções da menina que durante todo o tempo se envolve e interage nas atividades, desde o momento de arrumar a faixa até as simulações de luta.

“Eu não vou ficar para sempre ao lado dela e tento fazer o melhor possível para que ela aprenda a conviver com os outros. Nunca sabemos o dia de amanhã. Então, eu tento preparar a Mikaelle para o convívio normal para que ela seja independente”, disse orgulhosa Sebastiana lembrando que "Mika" já consegue fazer as necessidades sozinha, pedir água, suco, fala palavras curtas, reconhece cores e entende quando falam com ela. 

Para a mãe, observar a filha tendo a mesma oportunidade de outras crianças, e ao mesmo tempo acompanhar uma evolução diante de suas dificuldades físicas, fazem com que ela tenha certeza que qualquer esforço é mínimo diante do que Mikaelle faz. Sebastiana lembra, emocionada, que desde quando recebeu o diagnóstico, que chegou junto com uma pequena esperança de evolução, sua única certeza foi de ajudar a filha.

Ricardo Albertoni/Diário Corumbaense

Sebastiana, mãe de Mikaelle, relata que a filha se tornou mais tranquila e durante as aulas aprendeu a aguardar a vez para realizar os exercícios com ajuda do professor

“Existe uma mãe antes e existe uma depois da 'Mika'. Quando eu soube que ela poderia não andar, falar, meu Deus... Nisso eu perguntei se existia uma possibilidade e quando disseram que sim eu tive a certeza de que iria atrás disso. Essa é a mensagem que a Mikaelle passa, que se tem uma esperança vá atrás, vá em frente. Que temos que enfrentar os problemas, por mais que tenhamos limitações, dificuldades. Enfrentar. Não tentar contornar as situações. Ela tem enfrentado e tem vencido, ela é exemplo”, finalizou Sebastiana.

Ricardo Albertoni/Diário Corumbaense

Unificados após criação de Associação, os projetos mantidos por Luiz Paulo conquistaram o primeiro lugar no Festival de Judô, realizado no início de dezembro

Diferenças e limitações que podem ser superadas

Além de Mikaelle dos Santos Assis, o professor Luiz Paulo dá aula a outro aluno especial na escola Ângela Maria Perez e no próximo ano atenderá um menino com baixa visão.  “Todo dia é um aprendizado, a gente nunca sabe tudo. Todos os dias nos deparamos com alguma coisa diferente. Nenhum dos nossos alunos é igual ao outro, todos têm as suas diferenças, suas limitações, e por isso, temos que nos adaptar ao aluno enquanto o aluno também se adapta. Graças a Deus temos feito muitas coisas boas em relação ao esporte”, disse o professor que lembrou que uma das barreiras enfrentadas pelo atleta deficiente surge dentro de casa muitas vezes pelo excesso de proteção dos pais em relação aos filhos especiais. O professor explicou que a filha de dois anos, que está recebendo o diagnóstico de autismo, o estimula a continuar com esse trabalho. Ele contou que após convite pretende em 2018 oferecer judô aos alunos da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Corumbá. Segundo ele a situação está encaminhada e aguarda apenas questões administrativas para a oficialização.

“Em relação à questão de deficiência, às vezes o pai tem esse preconceito, achando que o filho não vai conseguir, talvez com medo de que o filho se frustre, e a gente busca mudar isso. Minha filha pequena de dois anos está recebendo o diagnóstico, a avaliação que detecta que ela tem autismo. Ao mesmo tempo que recebi essa notícia, também fui convidado pela Drª Lizandra Garcia que a atende na Apae para oferecer o judô na instituição. Aceitei porque acredito na importância desse trabalho de superação de limites e para que mais desses talentos sejam descobertos”, contou ao Diário Corumbaense.

Conquistas

Apesar de seus feitos significarem mais do que qualquer reconhecimento físico, a história desses personagens vitoriosos não termina sem troféu. Mikaelle, eleita em 2016 como atleta do ano pelo Prêmio Destaque Esportivo, realizado pelo radialista Adnan Haymour, este ano foi escolhida como símbolo da principal premiação do esporte da região. Uma conquista tanto da garota quanto da família, que dá o suporte para que ela continue perseverando no esporte.

Anderson Gallo/Vitrine Virtual

Eleita em 2016 como atleta do ano pelo Prêmio Destaque Esportivo, este ano “Mika” foi escolhida como símbolo da premiação

Já o professor Luiz Paulo, que luta contra diversas dificuldades, realizando verdadeiro malabarismo com o tempo para atender gratuitamente centenas de crianças, também teve seu reconhecimento. Os projetos que ele mantém, unificados graças a criação da Associação Pró Esporte de Corumbá, conquistaram o primeiro lugar no Festival de Judô da região, realizado no início de dezembro. Além de ter conquistado número de medalhas de ouro significativamente superior ao do segundo lugar e ter levado o troféu de campeã no geral, a associação ainda ficou com o troféu transitório que leva o nome do ex-prefeito  Ruiter Cunha de Oliveira, que faleceu no dia 1º de novembro deste ano, como homenagem.

Entretanto, mais do que apenas um momento de glória, o triunfo dos dois campeões é diário. Pelo que realizam e representam para os outros, dentro e fora do esporte, tanto Mikaelle quanto Luiz, transmitem a mensagem de que apenas com força de vontade, qualquer um pode superar seus limites.

Projeto busca parceiros para ampliação

Apesar de nobre, o projeto de Luiz Paulo conta com pouco apoio. As aulas no Vitória Régia só acontecem devido a estrutura de tatame e quimonos oferecidos pelo empresário e vereador Adelar Chefer dos Santos, o Gaúcho da Pro Art, além do espaço comunitário, que é cedido. Atendendo cerca de 40 crianças no local, são necessários parceiros para que o número seja ampliado. No total, os três projetos atendem aproximadamente 300 crianças. O contato pode ser feito pelo telefone (67) 99265-8894.

Comentários:

jacinta gonçalves: o prof.luiz paulo é um heroi,um ser humano maravilhoso! o meu filho julinho q/ tem 10 anos faz judo aqui no vitória régia. ele tb. faz tratamento neuropediatrico, toma medicamento e faz acompanhamento c/ fono psicolaga, psicopedadoga ./ depois q/ começo a fazer judo , ele mudo muito comportamento , estudo concentração! só tenho q/ agradecer o prof. luiz paulo! e pedir mais apoio p/ o progeto!