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FliSesc aproximou público da Literatura ao mostrar que ela está presente em nosso cotidiano

Lívia Gaertner em 31 de Outubro de 2017

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Em três dias de programação intensa, a FliSesc – Festa Literária do Sesc, em Corumbá, mostrou que a Literatura está ao alcance de todos os públicos. Com uma programação que incluiu desde as crianças até conversas com autores e oficinas de criação, o evento mostrou que a Literatura é o sustentáculo de várias linguagens artísticas como a música, o cinema e o teatro que também se juntaram às atividades que tiveram início no dia 26 e seguiram até 28 de outubro.

Foto: Gabriela Winkler

Bate-papo aproximou público de autores como Joca Terrón e Douglas Diegues que falaram sobre publicações em portunhol

Um dos grandes nomes da edição de estreia da Festa Literária em Corumbá foi a poetisa e compositora Alice Ruiz que falou, entre outras coisas, sobre a ligação da poesia com o período que vivemos.

“A poesia é porta-voz do absolutamente contemporâneo, ela está a serviço de nomear pensamentos, nomear sentimentos que estão chegando e que a gente tem essa ansiedade de dar nome, saber qual é o nome disso”, disse Ruiz. “Para conquistar crianças e jovens para a poesia temos que falar na linguagem deles. O que fizeram na minha geração na escola era afastar da poesia porque a gente lia e não sabia o que estava lendo, não entendia e achava que não gostava de poesia. Comecei a achar que gostava de poesia ainda na escola quando na biblioteca me deparei com Mário Quintana”, revelou.

Conhecida por sua posição firme diante dos acontecimentos, ela também não se furtou a deixar sua opinião sobre a situação pela qual o país vem atravessando e como a escrita, a palavra tem influência nisso.

“A gente aprendeu a escrever nas entrelinhas. É lamentável, mas talvez, daqui a pouco, nós estejamos sendo obrigados a fazer isso. (...) Acho que a situação é pior agora porque não é aquela coisa ostensiva, antes você via os militares nas ruas com os cavalos prendendo pessoas, desaparecendo gente. Agora, tudo está disfarçado, está ressemantizado. Golpe e rasgar a constituição tudo em nome da democracia. Demonizaram a democracia. Essa ressignificação da palavra é extremamente perigosa”, avaliou.

Além de Alice, o premiado autor Carlos Henrique Schroeder, ganhador do Prêmio Clarice Lispector da Biblioteca Nacional, falou sobre a Literatura Contemporânea. Ao lado dele, no mesmo evento, a artista versátil Marlene Mourão, a Peninha, colaborado do Diário Corumbaense com as tirinhas da Maria Dadô, contou sobre suas publicações de poesia como a esgotada edição Azul Dentro do Banheiro (1976), elogiada por ninguém menos que o poeta Manoel de Barros.

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O Homenageado

Poeta corumbaense, que faleceu aos 32 anos de idade, em 1947 na cidade do Rio de Janeiro, Lobivar Matos foi o grande homenageado da Festa Literária do Sesc. No ano que sua morte completa 70 anos e, consequentemente, suas obras caem em domínio público, Lobivar que se alcunhou de “o poeta desconhecido”, esteve presente com seus poemas de forte conteúdo social e crítico em intervenções teatrais.

Uma delas foi a peça Areotorare, do grupo campo-grandense Teatro Imaginário Maracangalha, que encenou os textos de Lobivar justamente no bairro em que o poeta eternizou suas palavras: Sarobá, onde hoje está localizado o bairro Borrowisk. O grupo também se apresentou encerrando a programação do evento na unidade do Sesc.

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Foto: Lívia Gaertner

Grupo Maracangalha levou para as ruas a poesia de Lobivar Matos

“É uma honra, privilégio pela própria história que Corumbá carrega e por tudo o que representa o Sarobá, que foi a primeira favela de Mato Grosso do Sul onde negro, sobreviventes da Guerra do Paraguai e de outras nacionalidades todas espoliadas se encontravam, moravam e resistiam. Isso nos mostra que a cultura popular resiste, que o povo tem voz e o nosso trabalho busca dar continuidade a essa ancestralidade, a essa história tão oculta em nosso Estado que ainda extermina indígenas e que o Lobivar Matos já falava na década de 30", disse Fernando Cruz, ator e produtor cultural a este Diário.

Magia da Palavra

O público infantil teve sessões de contação de histórias que ajudam a despertar o fascínio pelas obras literárias, sem contar duas grandes alegorias articuladas que representavam árvores falantes. As esculturas, desenvolvidas pelos artistas Flávio Bertini, Branka e Aleks Batista, declamavam poemas de escritores locais e nacionais como Ângela Maria Perez e Cora Coralina.

O presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, Henrique Medeiros, que esteve presente participando de um bate-papo com escritores do Estado, fez questão de ressaltar a onipresença da palavra em nosso cotidiano.

“Você tentar levar a palavra para a população, a palavra que é o começo de tudo, que está na música que você ouve, no roteiro do filme que você vai assistir e acha uma maravilha, mas ninguém se lembra que aquela produção partiu da palavra, parece até que ela não existe. Isso tudo é a base, a palavra, o que vem da Educação nesse trabalho que o Sesc vem fazendo por aí”, afirmou.

Foto: Lívia Gaertner

Henrique Medeiros participou de mesa com autores de MS

As oficinas, que se estenderam até o dia 29, apresentaram aos corumbaenses o processo de criação de quadrinhos - uma forma de literatura mais despojada – e a confecção de livros artesanais no processo de “cartonera” como alternativa à publicação. Usando o papelão como matéria-prima da capa, os livros cartoneros ajudam o meio ambiente, pois usam o que seria descartado, e ainda possibilitam acesso maior à Literatura, pois tem preços mais acessíveis.

Foto: Lívia Gaertner

Oficina de cartonera ensinou técnica de confecção de livro artesanal

 

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