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Estudantes usam a arte para provocar reflexões sobre aflições da contemporaneidade

Lívia Gaertner em 20 de Outubro de 2017

Em tempos quando a arte vem sendo questionada em suas manifestações, um grupo de alunos da escola Tenir aprendeu um dos objetivos nos quais está concentrado o próprio cerne artístico: a catarse. Ao representarem cenas de um cotidiano distante da realidade que vivem, os adolescentes provocaram reflexões, após o momento de forte impacto.

Fotos: Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Um dos temas abordados em intervenções foi preconceitos sociais

A proposta da atividade surgiu dentro da sala de aula quando os estudantes desenvolviam o conteúdo que falava sobre intervenção, instalação e performances. Ao perceberem o vasto universo que essas modalidades artísticas abriam para toda sorte de debate, os alunos sentiram-se motivados a trazer à luz debates de temas contemporâneos e extremamente complexos.

Professor Luciano Gibaile defende a arte como forma de o aluno posicionar seu pensamento diante da sociedade

Segundo o professor de Artes, Luciano Gibaile Arévalo, os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, desenvolveram as temáticas sugeridas por eles próprios durante cerca de um mês de trabalho que envolveu pesquisas e elaboração das ações performáticas. “A ideia foi o aluno vivenciar o problema que é apresentado em uma aula de Sociologia, de Geografia, História e demais disciplinas por meio da Arte. Essa vivência provoca o diálogo com ele mesmo, com quem assiste e com a própria comunidade escolar, que é o público-alvo das apresentações”, explicou.

O professor destacou que atividades como essa  possibilitam que os estudantes compreendam de forma contundente o conceito de arte e  sua importância dentro da sociedade.  “Eles encerram esse ciclo fundamental com a ideia de que arte é muito mais do que uma tela, uma escultura. Coloca a escola dentro da sociedade como uma catalisadora de transformações sociais, onde os estudantes estão observando, vivenciando e expondo seu ponto de vista sobre o mundo”, avaliou.

Empatia e reflexão

Com 14 anos de idade, André Hindi Burrows, e um grupo de colegas de classe optaram por retratar a complexa relação entre a corrupção e o tráfico de armas. Ao encarnar um político que busca apoio de traficantes para ser eleito, os estudantes desenvolveram uma trama com relações que desembocam em uma grande tragédia. “Ao escolher esse tema, não queríamos parar apenas na corrupção porque sabemos que ela tem suas consequências em larga escala. É uma cadeia complexa, um ciclo que se repete a cada gesto corrupto”, disse o jovem ao Diário Corumbaense.

Performance chocante sobre homofobia foi inspirada em ato do grupo Reúna

Já o grupo da estudante Beatriz Leite de Oliveira Lima, 14 anos, se inspirou numa intervenção urbana do Grupo Reúna para chamar atenção sobre a presença da homofobia na sociedade. “A gente mesmo sendo contra ou a favor tem que saber respeitar porque todos temos livre-arbítrio para escolher sua identidade de gênero e ser violentado por isso é um absurdo”, qualificou a estudante.

Mylla Christie Monteiro Silva se sujou com sangue artificial para mostrar que os ataques em massa surgem muitas vezes de um descaso com um grave problema. “Ataques em massa ocorrem há muito tempo mas a partir do século XX ganharam mais projeção. Problemas na infância e distúrbios psicológicos que as pessoas geralmente não dão atenção, excluindo esse tipo de gente e não oferecem tratamento. Muitos jovens não recebem tratamento e choca quando os casos acontecem”, disse.

Apresentações aconteceram ao mesmo tempo em várias dependências da escola

Estar na pele de quem vivencia um problema tão sério despertou nos alunos a empatia como explicou Lorrayne Garcia de Souza, que, junto a outros colegas de classe, escolheu falar sobre o alcoolismo. Na performance do grupo,  um pai alcoólatra desestrutura toda a família com seu alto grau de violência. “É uma realidade que a maioria daqui não vive, mas acontece, inclusive pode estar acontecendo agora. Para mim marcou bastante porque me pôs a pensar: Nossa, e se meu pai fosse assim?”, contou.

A reflexão trazida ao representar a exploração sexual contra crianças e adolescentes atingiu a aluna Franciele Androlage do Espírito Santo que, com apenas 14 anos, se identificou com muitas das vítimas pela idade que têm. “Me espanta muito a capacidade dos adultos em explorar essas crianças. Me marcou muito porque tenho idade dessas  vítimas e não passa na minha cabeça me sujeitar a isso, o que me leva a crer que algo muito sério acontece com elas. Acho que podemos chamar a atenção para isso representando o que acontece”, opinou.

Nove grupos desenvolveram as performances ao mesmo tempo pelas dependências da escola. 

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