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Forte Coimbra poderá se tornar Patrimônio da Humanidade

Silvio Andrade, do site Lugares.eco.br em 02 de Outubro de 2017

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Forte Coimbra, construído à margem direita do Rio Paraguai

O conjunto de fortificações do Brasil, incluindo o Forte Coimbra, construído em 1775 na margem direita do Rio Paraguai, entre Corumbá e Porto Murtinho, integrará a nova lista que o Brasil apresentará a Organização das Nações Unidas para a Edcação, a Ciência e a Cultura (Unesco) pleiteando o título de Patrimônio Cultural da Humanidade.

Este é um processo demorado e as fortificações brasileiras, localizadas também em Rondônia, São Paulo, Pará, Santa Catarina, Paraíba, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte, já foram incluídas desde 2015 pela Unesco na lista indicativa do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O país possui 19 monumentos de fortes e fortalezas.

A superintendente do Iphan em Mato Grosso do Sul, Maria Clara Scardini, informou que uma equipe do órgão federal, de Brasília, virá ao Estado, no início do próximo ano, para retomar as discussões e levantamentos em relação ao Forte Coimbra, que foi tombado pelo Ministério da Cultura no ano de seu bicentenário, 1975.

Milagres de N. Sra. do Carmo

“O forte, além de seu valor arquitetônico, tem uma história emblemática em determinados momentos da colonização do Brasil e sustentação da fronteira”, observou Maria Clara, se referindo aos episódios da disputa pelo território com a Espanha e Paraguai, os quais impuseram ao forte combates contra forças poderosas.

Símbolo da resistência de uma região abandonada pela coroa portuguesa e reconhecida como estratégica do ponto de vista militar somente depois da Guerra do Paraguai, a fortificação foi construída no meio do Pantanal, a 100 km de barco da ponte sobre o Rio Paraguai (BR-262), em Morrinho. Destruído por incêndios, foi reconstruído e sua estrutura atual, em alvenaria de pedra e cal, é de 1801.

Situa-se entre morros, pouco acima onde existe o marco da tríplice fronteira – Brasil, Paraguai e Bolívia. Sua construção, numa época de total fragilidade dos limites de Portugal com a Espanha, gerou polêmica, ao ser erguido em local errado. O ponto escolhido era o Fecho dos Morros, já próximo de Murtinho.

A solidez de Coimbra, encontrado em precário estado de conservação em 1791, foi projetada nesse ano pelo engenheiro militar Ricardo Franco, determinada pelo governo somente depois que os espanhóis construíram os fortes Bourbon (hoje chamado de Olimpo) e San Carlos del Apa na fronteira. Acompanhando o declive da encosta, tem o traçado de um polígono estrelado irregular.

Dos conflitos aos tempos de paz

A nova estrutura ainda se encontrava em obras quando, em consequência do conflito armado entre Portugal e de Espanha (Guerra das Laranjas, 1801)-,uma expedição de 4 escunas e 2 canoas guarnecidas com 600 homens, sob o comando do governador do Paraguai, D. Lázaro de Ribera, atacou o forte, então guarnecido com apenas 42 homens, que resistiram a um cerco de dez dias.

Credita-se a um milagre o fato de os brasileiros não terem sido massacrados pelo inimigo, que cessou fogo no entardecer ao avistar a imagem de Nossa Senhora do Carmo nas muralhas do forte. A tropa sob o comando de Ricardo Franco, que comandava a unidade, conseguiu fugir, subindo o rio em direção a Corumbá e Cuiabá.

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Imagem de Nossa Senhora do Carmo nas muralhas do forte: fatos históricos envolvem heroísmo, religiosidade e desatenção com a fronteir

Deflagrada a Guerra do Paraguai (1864/1870), o forte foi um dos primeiros alvos atacados pela tropa de Solano Lopez, com 3,2 mil homens, 41 canhões, 11 navios e farta munição cercou o forte. Os brasileiros, com 149 homens, resistiram até o segundo dia, quando um soldado exibiu a imagem da santa e os inimigos suspenderam o fogo, permitindo a fuga dos sobreviventes.

Fatos que são até hoje celebrados como milagres da santa, que se tornou padroeira do forte e tem posto de general, sendo referendada por militares e civis. No dia 16 de julho, é realizada uma grande festa, onde as pessoas buscam a proteção de Nossa Senhora do Carmo e agradecem por uma graça recebida.

Os paraguaios ocuparam o forte até 1868 e ao término do conflito o forte passou pela segunda e definitiva reforma depois de sua quase destruição pela artilharia inimiga. A muralha foi praticamente reconstruída e em 1872 o major Francisco Nunes da Cunha, que o comandou, procedeu as obras de ampliação, melhorando a defesa com a instalação de canhões nunca usados.

Conjunto de fortificações

Forte Coimbra é um cenário dos tempos de paz. Isolado secularmente – ainda hoje o acesso é restrito ao rio e pelo ar -, é guarnecido pelo Exército, que abriu suas portas para visitação pública. A comunidade civil, formada por cerca de 200 pessoas, vive do turismo de pesca. A tranquilidade do lugar não condiz com os conflitos do passado, envolvendo inclusive os índios guaicurus.

O conjunto de fortificações do Brasil proposto ao título de Patrimônio da Humanidade apresenta-se como um testemunho material único de um contato produzido entre diferentes culturas do Velho e do Novo Mundo.

As fortificações, edificadas em resposta a esses contatos, marcam o sucesso de uma fórmula singular de ocupação do território, em que os moradores do Brasil tiveram um papel mais fundamental do que a ação dos governos das metrópoles do Velho Mundo, ao contrário do que ocorreu em outras colônias europeias no resto do mundo.

Além do Forte Coimbra, estão incluídos a Fortaleza de São José, em Macapá (AP); o Forte de Príncipe da Beira, em Costa Marques (RO); a Fortaleza dos Reis Magos, em Natal (RN); o Forte de Santa Catarina, em Cabedelo (PB); o Forte de Santa Cruz (Forte Orange), em Itamaracá (PE); o Forte São João Batista do Brum, no Recife (PE); e o Forte São Tiago das Cinco Pontas, no Recife (PE.

Pantanal é patrimônio natural

A lista é composta pela indicação de bens culturais, naturais e mistos, apresentados pelos países que ratificaram a Convenção do Patrimônio Mundial da Unesco. Essa iniciativa pode ensejar a participação de gestores de sítios, autoridades locais e regionais, comunidades locais, ONGs e outros interessados na preservação do patrimônio cultural e natural do país.

O título de Patrimônio Cultural da Humanidade é concedido pela Unesco a monumentos, edifícios, trechos urbanos e até ambientes naturais de importância paisagística que tenham valor histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico ou antropológico. O objetivo da Unesco não é apenas catalogar esses bens culturais valiosos, mas ajudar na sua identificação, proteção e preservação.

Fazer parte da lista de patrimônios culturais da humanidade é importante não só pelo caráter de reconhecimento da importância que os bens possuem, mas também por significar que este passará a contar com o compromisso de proteção da Unesco e de todos os países signatários da Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, o que hoje significa contar com o resguardo de 190 países.

Além disso, o aporte de recursos e a valorização dos Patrimônios Culturais Mundiais tendem a contribuir para fomentar o turismo na região o que gera novos investimentos na economia local e empregos para a população, explicou Marcelo Brito, diretor do Iphan em Brasília.

O Brasil possui 21 bens reconhecidos pela Unesco como Patrimônio Mundial, nenhum deles é fortificação. Destacam-se na lista bens da arquitetura moderna, como a cidade de Brasília; bens naturais, como o Pantanal Mato-grossense e o Parque Nacional do Iguaçu; e bens históricos, como a cidade de Salvador e o Centro Histórico de Olinda. (Fonte: www.lugares.eco.br)