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Festival de Curimbas apresenta cultura ligada às religiões e pede fim de preconceito

Lívia Gaertner em 21 de Agosto de 2017

A abrangência cultural atrelada às religiões de matrizes africanas foi mostrada em Corumbá com a realização do II Festival de Curimbas do Pantanal no domingo, 20 de agosto, no Centro de Convenções, no Porto Geral. A curimba, que se caracteriza pela junção dos instrumentos de percussão e o canto para os rituais da religião, não foi o único aspecto que ganhou evidência. As vestimentas, imagens de santos e as comidas preparadas como oferendas, jogos de adivinhação como cartas e búzios, integraram a programação do evento que ocorreu desde a manhã até à noite.

A exposição de imagens de santos provou uma interação entre os religiosos, já que cada uma delas vieram de uma casa, ou tenda, como muitos chamam. Mais do que a representação da entidade cultuada, as imagens têm forte ligação sentimental com o local onde permanecem. É o caso de uma cadeira totalmente artesanal que pertenceu à mãe de santo Maria Catarina, cuja neta Karla Cristina Bruno, explicou o destino.

“Até hoje, somente quem sentou nela foi minha avó que desejava que uma das filhas herdasse, porém minha mãe que era apontada como sucessora adoeceu e, agora, minha tia mais nova se prepara para abrir a tenda novamente que já tem cerca de 30 anos”, contou ao Diário Corumbaense ao falar do valor que esses objetos têm.

Fotos: Lívia Gaertner/Diário Corumbaense

Representações de entidades também se somaram às apresentações

Representando o candomblé, o pai Robson de Ogum trouxe para a exposição os diferentes tipos de roupas usados na religião. Ele explicou que a vestimenta é uma maneira de identificar os orixás que possuem personalidades distintas, algo que se reflete na forma de se vestir. “Os orixás são representações da força da Natureza e por isso cada um possui uma essência”, disse.

Para ele, colocar em evidência, a umbanda e o candomblé, ajuda a tirar um estigma que persiste até hoje nessas religiões. “Esse evento é muito bom para a união. O preconceito está dentro da cabeça das pessoas, até mesmo das pessoas da própria religião porque muita gente acha que a umbanda e o candomblé só abrangem homossexuais e não é isso. Somos uma religião que não pedimos identidade, acolhemos a todos”, afirmou.

Quebrar o preconceito

Responsável pela Tenda Espírita São José, o pai Hamilton de Xangô, fez uma crítica ao destacar a postura de descaso que ainda acontece na sociedade com as religiões de matrizes africanas. “Sempre que vamos a um evento são convidados representantes católicos, evangélicos e pergunto: será que são apenas essas duas religiões que existem em Corumbá? Nós, nos sentimos frustrados com essa falta de interesse”, desabafou. “Por isso eu penso que estamos com esse evento fazendo história, dando um ponta pé inicial para mudar isso. Hoje, mais do que nunca, se fala em luta pela igualdade e Corumbá tem que estar dentro disso porque fazemos parte desse país que prega esse preceito”, afirmou.

Dilza Maria Bruno, que integrou a equipe de organização do Festival, destacou que esta edição buscou justamente abranger o universo que envolve as religiões justamente para levar esclarecimento à população em geral. “Tem pessoas que se mostram curiosas, querem saber, mas não chegam nos terreiros, nas casas, por isso mostrar um pouco do que somos ajuda a quebrar esse preconceito. Fizemos questão de trazer as roupas, as comidas, as imagens, além do ritmo da música e dança”, disse.

Som dos tambores marcou Festival que buscou apresentar cultura atrelada à Umbanda e ao Candomblé

Atabaque de Ouro

A curimba “Marabô, filho de Omolú” foi escolhida para representar Corumbá no Festival Nacional “Atabaque de Ouro” que acontece, anualmente, na cidade do Rio de Janeiro. De composição de Tel Cosme, a curimba foi interpretada por Milton de Ogun e contou com representação da entidade homenageada com figurino à caráter.

“Logisticamente é bastante difícil levar representação para esse evento, mas vamos nos esforçar, mesmo nesses tempos difíceis, para estarmos presentes já que não contamos com patrocinadores”, disse o compositor Tel Cosme.

O II Festival de Curimbas do Pantanal conotu com o apoio do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Secretaria Estadaual de Cultura e Cidadania e Subsecretaria de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial e Cidadania; do Conselho Estadual dos Direitos do Negro de Mato Grosso do Sul; da Prefeitura Municipal de Corumbá, por meio da Fundação de Cultura e Patrimônio Histórico; da Santa Cruz Design e do Supermercado Quadri.

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