Usada na preparação de vários produtos, farinha de bocaiuva atrai consumidores

A bocaiuva, também chamada de macaúba, é uma fruta bastante conhecida pelo povo sul-mato-grossense. Apesar de ser encontrada em diversos lugares do Brasil é com a população de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul que a fruta faz mais sucesso, se fazendo presente na rica gastronomia pantaneira. Com alto valor nutritivo, a fruta chama atenção pela versatilidade, já que é possível fazer inúmeras receitas como bolos, sorvetes, vitaminas, entre outras opções.

O artesão, Angelino Ferreira, que trabalha na Casa do Artesão há mais de 30 anos é uma das pessoas que se beneficiam das várias opções oferecidas pela fruta. Além de vender artesanatos feitos com palha de milho, Angelino também produz a requisitada farinha de bocaiuva. O produto é muito procurado por turistas e moradores de Corumbá, Ladário e Bolívia, mas só é encontrado normalmente no segundo semestre do ano, a partir de julho por causa do período de colheita da fruta.

Ao Diário Corumbaense, o artesão disse que aprendeu a fabricar a farinha de bocaiuva com o antigo mestre, Gilberto Chena, que se aposentou. Angelino participa de todo o processo de fabricação da farinha, que começa desde a colheita nos assentamentos até a embalagem do produto que é comercializado por R$ 12 o pacote de 420 gramas, que serve como base para a fabricação de sorvete, bolos, pães e até mesmo como isca nas pescarias.

“Eu aprendi observando a produção do Gilberto e, por isso, acabei aprendendo a fazer. A produção começa pegando a polpa do fruto que vem de assentamentos, depois, seleciono as melhores, coloco para secar e vejo se está no ponto. Em seguida, passo na máquina, onde é triturada, depois passo na peneira e embalo”, explicou Angelino sobre a produção da farinha.

O artesão ressalta ainda que o pacote da farinha rende bastante, dependendo da receita. “Se for fazer um bolo, por exemplo, duas colheres são suficientes senão fica enjoativo”, contou o artesão, por causa da alta concentração da fruta que é adocicada. Ele acrescentou ainda que muitos turistas de São Paulo e Paraná passam pela Casa do Artesão procurando a farinha, pelo fato de não encontrarem no estado de origem. “Até brigadeiro, uma cliente já fez. Dá para fazer muitas receitas como vitamina, sorvete, paçoca, licor. Ouvi falar também que existem pesquisas sobre como a fruta é boa para o estômago”, revelou.

Sem mistérios, Angelino mostrou a este Diário o passo a passo da fabricação do produto. “Primeiro, lave e descasque as bocaiuvas, bem maduras. Em seguida, retire com a ajuda de uma faca a polpa da fruta. Depois, espalhe a polpa em uma fôrma e deixe por um ou dois dias ao sol, mexendo várias vezes ao dia para secar por igual. Não esquecer de cobrir com tela para evitar insetos. Depois de bem seca, a polpa deve ser triturada numa máquina de moer, para logo depois ser acondicionada em sacos plásticos ou vasilhas” ensinou. 

Outra possibilidade oferecida pelo fruto é a fabricação de bebidas. Desde a comemoração do São João em Corumbá, após pedidos, Rosangela Rodrigues, começou a vender licor de bocaiuva. Ela é artista plástica e trabalha com venda de telas há mais de 10 anos, há cinco meses tem incrementado a renda com a venda da bebida. O licor é produzido com a polpa da fruta que é fornecida por Angelino e vendido pelo valor de R$ 20. Demora aproximadamente uma semana para que três litros fiquem prontos. De acordo com a fabricante, a bebida que foi desenvolvida por ela com base em outra receita, tem tido ótima aceitação.

“Eu sempre fazia licor de jenipapo quando morava no Rio de Janeiro, mas não vendia. Algumas pessoas pediram na época de São João, e comecei a vender. Tenho vendido de 15 a 20 garrafas por mês, mas já teve semana que foram 15 rapidamente”, disse.

Comerciantes vêm de outros Estados para conhecer produtos

No final de julho, grupo de lojistas, membros da Associação para o Comércio de Artesanato Brasileiro (Ascabras) veio de vários lugares do Brasil conhecer os principais pontos turísticos de Corumbá, e principalmente os artesanatos produzidos na região. Eles visitaram a Casa do Artesão, onde conheceram o trabalho de outros artistas da cidade, além da farinha de bocaiuva. Na oportunidade, os visitantes aproveitaram para conhecer os produtos com o objetivo de revendê-los em seus comércios.

Tereza Cristina, de 60 anos, dona de uma loja de presentes e artesanatos, localizada no aeroporto de Fortaleza, veio com o grupo para conhecer os produtos tradicionais da região e não perdeu a oportunidade de levar um pacote de farinha de bocaiuva produzida por Angelino para a família e funcionários experimentarem. Ela trabalha há 40 anos com artesanato e ficou admirada com a possibilidade de fazer diversas receitas com a fruta. “Eu gosto de comprar produtos diferentes, de outras regiões para experimentar. Vou levar para os meus funcionários e família provarem”, contou.

Segundo Ricardo Pedroso,  o fundador do grupo, é a segunda vez que eles vêm a Mato Grosso do Sul. “São 50 lojistas de diferentes cidades, pelo menos uma vez no ano, visitamos o estado e compramos artesanatos”, comentou. 

Receitas

Bolo de bocaiuva

2 xícaras de farinha de trigo

2 xícaras de açúcar

1 xícara de farinha de bocaiuva

1 e 1/2 xícara de leite

2 colheres (sopa) de manteiga ou margarina

1 colher (sobremesa) de fermento em pó

2 ovos

Modo de Preparo

Bata o açúcar e a manteiga até obter um creme. Acrescente os ovos e continue a bater o creme. Em seguida, adicione a farinha de trigo, a farinha de bocaiuva e o leite alternadamente. Por último, adicione o fermento. Unte e polvilhe uma forma do formato de sua preferência. Leve ao forno com temperatura de 180° C por 35 a 40 minutos .

Sorvete de bocaiuva

Ferva 1 litro de leite para 2 colheres de sopa de farinha de bocaiuva e açúcar a gosto, deixe ferver bem e acabe de engrossar com liga de sorvete, bata no liquidificador e leve ao congelador.

Vitamina de bocaiuva

Bata a farinha com leite no liquidificador deixando um pouco no leite antes de bater (meia hora). Para um copo de leite, meia colher de sopa de farinha de bocaiuva.