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Agosto Lilás esclarece atitudes violentas impregnadas na sociedade

Lívia Gaertner em 04 de Agosto de 2017

Quebrar objetos que a pessoa tenha estima, vasculhar celular ou e-mail, expor a vida com o vazamento de fotos íntimas em redes sociais, são exemplos de atitudes consideradas crimes contra a mulher, mas que nem todos encaram desta forma devido ao ranço de uma sociedade patriarcal e machista.

A violência doméstica e familiar está ainda tão impregnada em nossa sociedade que pode passar disfarçada de “momento de fraqueza”, de “bobeira”, “cabeça quente”, enfim, uma série de justificativas que mascaram o real nome do que acontece. Por vezes, nem a vítima consegue perceber que está sendo alvo do crime, por isso o município de Corumbá aderiu à Campanha Agosto Lilás, do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, com o objetivo de esclarecer a homens e mulheres sobre a gravidade de atos que colocam a mulher em situação de vulnerabilidade diante do agressor.

Lançada no dia 1º de agosto em Corumbá, a Campanha tem como carro-chefe o programa “Maria da Penha vai à Escola” que propõe levar uma conversa franca sobre o tema com alunos do Ensino Médio e membros da Rede Municipal de Proteção e Enfrentamento à Violência contra a Mulher. O município pantaneiro foi além e vai propagar durante este mês o formato adotado pelo programa em outros segmentos como igrejas, áreas rurais, população ribeirinha e às reeducandas do estabelecimento penal.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Atitudes violentas vão além da agressão física

“Nossa intenção é abordar o tema com várias mulheres, independendo da idade, do local onde moram, da crença”, disse a secretária especial de Cidadania e Direitos Humanos e primeira-dama, Beatriz Cavassa de Oliveira, ao lembrar que a campanha deve ultrapassar a fronteira, já que há um material em língua espanhola que a equipe responsável pelo Agosto Lilás pretende direcionar às cidades de Puerto Quijarro e Puerto Suárez. “Apesar da nossa lei não abranger o território boliviano, essa conscientização é de grande valia”, afirmou.

Beatriz explicou ao Diário Corumbaense as modalidades de violência que ultrapassam a agressão física. Há uma série de atitudes que configuram o caráter violento em ambiente doméstico. Eles estão elencados na Lei Maria da Penha que completará neste dia 07, 11 anos de existência.

“Há a violência psicológica, moral e patrimonial. Muitas pessoas sofrem e não sabem porque desconhecem. Por exemplo, um neto que pega o cartão de benefício de uma idosa e não repassa o valor a ela, constitui violência patrimonial e, por consequência, crime. Na mesma  categoria se enquadra o marido que mexe no saldo de uma conta conjunta sem consentimento da esposa. E quando falamos nisso, também devemos nos atentar que não é apenas o atual ou ex-companheiro que podem ser agressores, mas o filho, o vizinho, o patrão, enfim, as diferentes formas de relacionamento implicam em distintas formas e graus de violência”, explicou.

Empoderar a mulher não significa romper com a família

Para se ter uma dimensão de como a violência doméstica e familiar se faz tão presente, no ano de 2016, 300 mulheres foram atendidas pelo CRAM (Centro de Referência e Atendimento à Mulher) em Corumbá. Este ano, até o momento, outras 170 precisaram dos serviços, porém as estatísticas ainda escondem uma proporção gigantesca de casos que não vêm à tona.

“A gente faz todo um acompanhamento para que essa mulher consiga sair do ciclo da violência. Ela consegue sim, mas tem que querer, não podemos forçar. Esse acompanhamento dura cerca de 3 a 4 meses e estamos incrementando ainda mais com novos cursos”, explicou Rosiene do Espírito Santo Mauro, coordenadora do CRAM.

“Como muitas ficaram em casa sem estudar porque o marido não deixava, elas pararam no tempo. Às vezes, num curso de artesanato é que as mulheres conseguem se soltar, falar, se sentirem importantes e vamos gradativamente mostrando outras possibilidades”, lembrou Wânia Alecrim, coordenadora de Articulação de Políticas Públicas para as Mulheres.

Rosiene, Beatriz e Wânia coordenam ações do Agosto Lilás em Corumbá

Dentre a justificativa para as mulheres continuarem como vítimas de agressores está a dependência financeira, mas sobretudo, na avaliação de Rosiene, encontra-se a dependência emocional. E nela que reside a esperança da mudança de comportamento do companheiro.

“A mulher casa com aquele príncipe e é tão doloroso perceber a realidade. Ela sempre acha que ele vai mudar, apesar de recorrentes práticas. Durante o atendimento, esclarecemos a melhor forma de conversar com o parceiro. Às vezes, numa visita que fazemos para entender a situação da família até conversamos com esse agressor porque nosso foco é a mulher. Ao agressor, há um programa chamado Paralelas onde ele passa por cursos e palestras com psicólogos e assistentes sociais a fim de refletir sobre mudança no padrão de comportamento”, comentou ao falar sobre outro programa que busca combater essa prática.

 “O objetivo não é separar o casal ou que as mulheres se empoderem e deixem os maridos. Não queremos separar famílias, isso as pessoas precisam entender, porém é preciso acolher tanto a mulher como o homem para juntos se conscientizarem e buscar uma vida agradável e plena”, esclareceu Beatriz Cavassa.

Para saber mais sobre a Rede Municipal de Proteção e Enfrentamento à Violência contra a Mulher e seus serviços, o telefone é (67) 3907-5437 ou ainda o celular da gerente de Políticas Públicas para as Mulheres, Wânia Alecrim, (67) 99931-3083. Para denúncias, há os telefones de emergência 180 e 190.

É violência contra mulher:

1: Humilhar, xingar e diminuir a autoestima
Agressões como humilhação, desvalorização moral ou deboche público em relação a mulher constam como tipos de violência emocional.

2: Tirar a liberdade de crença
Um homem não pode restringir a ação, a decisão ou a crença de uma mulher. Isso também é considerado como uma forma de violência psicológica.

3: Fazer a mulher achar que está ficando louca
Há inclusive um nome para isso: o gaslighting. Uma forma de abuso mental que consiste em distorcer os fatos e omitir situações para deixar a vítima em dúvida sobre a sua memória e sanidade.

4: Controlar e oprimir a mulher
Aqui o que conta é o comportamento obsessivo do homem sobre a mulher, como querer controlar o que ela faz, não deixá-la sair, isolar sua família e amigos ou procurar mensagens no celular ou e-mail.

5: Expor a vida íntima
Falar sobre a vida do casal para outros é considerado uma forma de violência moral, como por exemplo vazar fotos íntimas nas redes sociais como forma de vingança.

6: Atirar objetos, sacudir e apertar os braços
Nem toda violência física é o espancamento. São considerados também como abuso físico a tentativa de arremessar objetos, com a intenção de machucar, sacudir e segurar com força uma mulher.

7: Forçar atos sexuais desconfortáveis
Não é só forçar o sexo que consta como violência sexual. Obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto ou repulsa, como a realização de fetiches, também é violência.

8: Impedir a mulher de prevenir a gravidez ou obrigá-la a abortar
O ato de impedir uma mulher de usar métodos contraceptivos, como a pílula do dia seguinte ou o anticoncepcional, é considerado uma prática da violência sexual. Da mesma forma, obrigar uma mulher a abortar também é outra forma de abuso.

9: Controlar o dinheiro ou reter documentos
Se o homem tenta controlar, guardar ou tirar o dinheiro de uma mulher contra a sua vontade, assim como guardar documentos pessoais da mulher, isso é considerado uma forma de violência patrimonial.

10: Quebrar objetos da mulher
Outra forma de violência ao patrimônio da mulher é causar danos de propósito a objetos dela, ou objetos que ela goste.