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Muitas vezes alvo da indiferença, profissão de gari é essencial para a sociedade

Ricardo Albertoni em 24 de Junho de 2017

Após a noite de festa no porto geral, o dia começa assim para os garis: muito trabalho

Eles estão pelas ruas. Embora seus uniformes tenham a cor laranja, bem chamativa, para alguns, eles ainda passam despercebidos. A profissão dos garis está entre uma daquelas consideradas “invisíveis” para parte da população. Definição às vezes que leva à indiferença pelo trabalho e pelos profissionais da área.

“Só porque nós estamos varrendo, isso não dá o direito de uma pessoa jogar o lixo na nossa frente. Isso não é falta de respeito apenas com o nosso trabalho, mas sim com toda a cidade, com o ser humano que está ali, mas enfim, bola pra frente”. Neste pequeno trecho da entrevista feita pelo Diário Corumbaense com a gari Suzilaine de Souza Pinto, 25 anos, que trabalha há três anos na Unipav (empresa responsável pela limpeza e coleta de lixo na região) é possível perceber que atitudes como essas não são difíceis de acontecer na vida desses profissionais.

Esses profissionais são responsáveis por varrer centenas de quilômetros diariamente. Divididos em setores, eles começam a trabalhar desde às 05h e só param no início da noite, quando tudo está limpo. Corumbá, uma cidade turística que possui um vasto calendário de eventos, entre eles, duas das mais importantes atividades culturais de Mato Grosso do Sul, o Carnaval e o São João, tem que receber um tratamento especial por parte dos colaboradores do setor de limpeza, o que é feito, de acordo com o encarregado do setor, Bartolomeu Manoel da Silva, conhecido como Bartolo, de 41 anos, funcionário da empresa há 15 anos.

“Durante as festas, a gente concentra mais na limpeza da região que está recebendo o evento. Quando há São João, primeiro fazemos a limpeza do Porto Geral e só depois disso vamos para a área central que é a avenida, jardim, parte do comércio. Saímos 05h da empresa e no máximo às 07h da manhã o serviço aqui já está concluído. É uma força tarefa durante os dias em que está acontecendo o evento”, explicou Bartolomeu.

Nunca o serviço é fácil. A tal da indiferença é notada assim que os funcionários chegam depois que é realizado um evento. Bartolomeu relata que em algumas oportunidades, as lixeiras sequer são utilizadas. “Alguns dias nos deparamos com uma enorme quantidade de lixo amontoado, enquanto as lixeiras estavam vazias” disse o encarregado.

E depois do esforço e do trabalho coletivo, o palco da festa está limpo de novo

São problemas que poderiam ser evitados com conscientização de parte da população. A situação pode chatear, mas não tira a alegria de Suzilaine, que estava mais séria do que o habitual no trecho destacado no início da reportagem. "Trabalhadeira", ela gosta muito de se divertir e sair com as amigas e a família. A gari é mãe de uma menina de 05 anos e fala com orgulho de poder contribuir com seu trabalho, indispensável para a realização dos eventos e na manutenção da limpeza na cidade.

“Quando saio em eventos, como o São João, e vejo que está tudo limpinho, dá um orgulho saber que contribuímos para que aquela festa acontecesse. É fundamental que uma cidade com uma paisagem linda como Corumbá, tenha as suas ruas e calçadas limpas. É o que o turista vai levar na memória da nossa cidade e pensando dessa forma, nós fazemos parte dessa lembrança. Isso é gratificante, fazer parte da história da nossa cidade”, destacou a sorridente Suzilaine.

Embora não participe tanto dos festejos, Tatiane Magalhães também ressaltou a importância de seu trabalho. Há quatro meses na empresa, e após retomar recentemente os estudos, ela destacou o excelente ambiente de trabalho que dá forças para enfrentar a difícil rotina de acordar antes mesmo de o sol nascer  e deixar a casa, onde vive com os três filhos e o marido, no bairro Cristo Redentor, para encarar o desafio.

”Trabalho durante todo o dia. Saio '04h e pouco' de casa. Levanto cedo para a luta deixando a família. É uma vida difícil, mas vale a pena porque trabalho com pessoas boas, e isso me dá muita alegria. É bom demais poder trabalhar com amigos, e poder voltar para casa com meu dinheiro conquistado com muito sacrifício”, disse Tatiane.

Ricardo Albertoni/Diário Corumbaense

Suzilaine está sempre com um sorriso no rosto; Tatiane (ao fundo) trabalha o dia todo e retomou os estudos recentemente

O bom ambiente é destacado por todos os funcionários, que afirmam que consideram a equipe uma família. “É difícil ver um gari triste”, comenta Cleiton de Arruda, de 33 anos, que há cinco trabalha na empresa. “Pra gente, que mora aqui, é uma felicidade, fazer parte, contribuir com a cidade, deixando mais bonita. Em casa sou o primeiro que levanta, faço o café, me despeço da família e venho trabalhar. É uma rotina difícil mas muito honrada e gratificante. Nós –funcionários -  somos como uma família. Quando estamos aqui nos esquecemos dos problemas e tocamos a vida. Sei da minha importância, porque se parar para pensar, nosso trabalho é fundamental para que os outros aconteçam”, disse o Cleiton.

“Nós estamos sempre felizes porque não devemos trazer os problemas de casa. As pessoas não têm culpa dos nossos problemas e ninguém merece ver a gente de cara fechada. Todo mundo tem os seus problemas, não é verdade?”, lembrou Suzilaine.

Com alegria, empenho e responsabilidade, os garis vão continuar nas ruas. Como destacou um deles, trabalho que é essencial para a sociedade, às vezes marginalizado por uma minoria, mas que é fundamental para que os outros serviços possam ser realizados e os caminhos, sempre limpos, possam ser traçados.

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