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Ex-governador Wilson Barbosa Martins completa 100 anos nesta quarta-feira

Lado B/Campo Grande News em 21 de Junho de 2017

Na rua 15 de Novembro, a casa amarela de aspecto antigo, bem na região central de Campo Grande, guarda uma parte importante da história e do legado político de Mato Grosso do Sul. É lá que vive o ex-governador do Estado, Wilson Barbosa Martins, assistido por uma equipe de enfermeiros e profissionais de saúde. A filha, Thaís Martins, é quem cuida do pai na casa que já tem 60 anos, mais nova que o ex-governador, que completa 100 anos neste 21 de junho.

"A casa não sobrevive à ele. As janelas estão frágeis, temos que trocar uma por mês", diz Thaís, destacando o contraste entre a construção, frágil que cede à passagem do tempo, e o próprio pai, que continua agarrado à vida e com um estado de saúde estável, após um acidente vascular cerebral há cerca de 4 anos. Ela, a filha mais velha, é quem conversou com o Campo Grande News sobre a atual situação do pai e a celebração do centenário.

Alcides Neto/CG News

Segundo a filha, o ex-governador era um homem sereno, tranquilo, mas criterioso

Mesmo afastado da mídia, a presença de Wilson Barbosa Martins jamais deixou de figurar no imaginário popular do sul-mato-grossense. Com a chegada do aniversário, a família relata que as manifestações de carinho estão mais fortes do que nunca. "Existe uma vontade da cidade de homenagear o meu pai", conta Thaís. "Meu Facebook é inundado por mensagens falando dos 100 anos".

A data será bastante celebrada. Nesta quarta, além de uma comemoração privada, entre os amigos próximos e familiares, Dr. Wilson, como é chamado, será homenageado em sessão comemorativa do Centenário Acadêmico, na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, às 19h30. Na segunda-feira, dia 26, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul realiza uma sessão solene aos 100 anos, às 19h30, no Plenário "Deputado Júlio Maia", do Palácio Guaicurus, no Parque dos Poderes.

O político governou MS de 1983 a 86, e depois de 1994 a 98. Sua gestão, que incluiu, por exemplo, a pavimentação de 2,5 mil quilômetros de rodovias, o projetou como uma das figuras mais admiradas e respeitadas do Estado. Ajudou a elaborar a Constituição de 1988 e chegou a ser eleito um dos dez melhores parlamentares da Câmara Federal por sua atuação nas comissões permanentes da Casa. Defensor de ideais humanistas, ele era o "cara mais à esquerda", enquanto seu opositor direto, também ex-governador, Pedro Pedrossian, tinha um perfil mais de direita. 

Para a filha mais velha, Thaís, o momento caótico do cenário político brasileiro é algo que reforça o entusiasmo das pessoas pelo ex-governador. "No momento que o País atravessa, se torna mais forte essa expressão de admiração e de carinho por um político que marcou sua presença no Estado como um político honesto, competente, sério, zeloso pela sua imagem".

Thaís, que é doutora em Ciências Sociais e mestre em antropologia agrária pela Unicamp, deixou o convívio com o filho e a neta, de 5 anos, em Campinas, estado de São Paulo, e voltou para Campo Grande para cuidar do pai. Está "cumprindo seu dever como filha", diz, depois que a irmã Celina morreu. 

Devido ao AVC, Wilson perdeu movimento de parte do corpo e, por conta de um quadro de insuficiência pulmonar, teve que se submeter a uma traqueostomia no ano passado, o que impede a fala. "Ele compreende as coisas que a gente fala, mas tem pouca condição de dar retorno. Escreve algumas coisas, às vezes, mas é difícil ", diz a filha. Ainda assim, relata que o pai reage às conversas, sorri e se emociona. "Eu li alguns artigos sobre ele que saíram na mídia sábado passado, e ele ficou muito tocado, chorou".

Quando faz sol e o tempo está bonito, Wilson é levado para o jardim para apreciar o dia. Gosta de ver os jogos do Corinthians e acompanha os noticiários políticos com expressão de espanto e desaprovação, garante a filha. Parentes e amigos estão sempre visitando, todos os dias, conversando e fazendo leituras. Por conta da alimentação parenteral (nutrição feita por uma via diferente da gastro-intestina), ele ganhou bastante peso e, nas palavras de Thaís, está mais forte e vigoroso do que nunca.

Alcides Neto/CG News

Thaís Martins veio de Campinas para cuidar do pai

A filha mais velha recorda do pai zeloso, que fazia questão de transmitir todas as suas qualidades para os filhos, incluindo um grande senso de responsabilidade. "E, no que diz respeito a mim, ele conseguiu", brinca. Thaís recorda como o pai era criterioso e prezava por bons desempenhos, independentemente da tarefa a ser realizada. Ele também ensinou para os filhos o amor pela natureza e pela fazenda da família.

"Me ensinava os nomes das flores, das árvores... era um pessoa suave, generosa, muito tranquila e serena". O casamento com a escritora e artista plástica Nelly Martins, filha do médico e senador Vespasiano Martins e de Celina Baís Martins, durou quase 60 anos, até a morte dela, em 2003. "Foi amoroso. Meu pai, tímido, não dizia muito 'eu te amo', mas minha mãe o fazia dizer, porque ela gostava de ouvir", lembrou Thaís, com carinho.

Ela destaca a importância da mãe na trajetória política do pai. "Ela fazia um caminho de flores por onde passava. Ajudou com afinco na carreira do papai, tinha uma habilidade política enorme", avaliou.

Na família, atualmente, não há ninguém que pretenda levar adiante o legado político de Dr. Wilson. "Nossa grande política foi a Celina, minha irmã, e para nossa tristeza, ela se foi", lamentou. Celina Jallad foi deputada estadual por 16 anos, e a primeira mulher conselheira do TCE (Tribunal de Contas do Estado). Faleceu em 2011, após uma cirurgia de emergência. Ela havia sofrido um aneurisma da aorta abdominal.

"Meu pai era apaixonado pela Celina, foi uma grande tristeza para ele", ressaltou Thaís. O outro filho de Wilson e Nelly, Nelson Martins, é doutor e mestre em Engenharia Elétrica, que atua no Rio de Janeiro. "Ele é um grande cientista e até hoje não deu nenhum sinal de que pretende ir para a vida política, mas eu não posso responder por ele. A safra de novos políticos é tão pobre... Eu mesma posso encorajá-lo", diz Thaís, que depois deu risada da possibilidade. "Quem sabe, não é?", indagou.

Emoção

Ao final da conversa, a filha lembra mais uma vez da mãe, Nelly, e da irmã, Celina. Duas importantes figuras da família Barbosa Martins, e duas personalidades emblemáticas de Mato Grosso do Sul que, infelizmente, não poderão comemorar o centerário do Dr. Wilson. "Sinto muito falta. No meu coração, não consigo contar há quanto tempo elas se foram, parecem séculos", disse, no único momento que transparece alguma melancolia.

Ela termina a entrevista agradecendo a população pelo afeto e respeito que cultivam pelo pai e pela família. Sobre a falsa notícia que circulou há dois anos, de que Dr. Wilson havia falecido, diz já ter superado. "De repente, algumas pessoas cometem esses erros. Mas eu já perdoei. A Glorinha de Sá Rosa publicou um artigo, certa vez, em que dizia que meu pai era imune à intriga e às maldades. E ele é mesmo, e nós também somos, pois ele nos ensinou a ser assim", concluiu. "Eu tento, nem sempre consigo", terminou Thaís, com um risada alegre, deixando claro o clima festivo e de gratidão que permeia os 100 anos do Dr. Wilson Barbosa Martins.

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